Abusos contra adultos mais velhos são maioritariamente psicológicos

A violência psicológica e emocional representa quase 78% dos casos de violência doméstica contra adultos mais velhos, sendo as vítimas maioritariamente mulheres e os supostos agressores filhos, noras ou genros, conclui um estudo hoje divulgado.

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O estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), hoje divulgado, foi publicado em abril no Journal of Elder Abuse & Neglect e tem por base queixas de violência doméstica participadas às autoridades, no distrito do Porto, ao longo de 10 anos (2010-2020).

“A maior parte dos supostos agressores era do sexo masculino (82%) e tinha entre 31 e 50 anos, sendo maioritariamente os filhos, noras ou genros (51%), seguidos pelos cônjuges ou cuidadores. Geralmente, aos agressores mais jovens associa-se mais a violência física ou sexual, mas, neste estudo, encontrou-se uma prevalência mais elevada de abuso psicológico, logo seguido do abuso físico”, descreveu a investigadora Sofia Frazão, docente da FMUP e especialista no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora que se tem dedicado a estudar casos de violência contra a população mais velha, tema sobre o qual desenvolveu a sua tese de doutoramento, usou a expressão “séria preocupação”, recordando que o envelhecimento da população portuguesa está, todos os anos, a aumentar e em causa estão pessoas “às vezes muito vulneráveis que não sabem ou estão incapacitadas de fazer queixa”.

No total, foram analisados 20.841 casos, dos quais 1.415 (6,8%) correspondiam a adultos mais velhos, “uma percentagem que será inferior à realidade, apontando para um número reduzido de queixas por parte das vítimas e de denúncias por parte dos familiares, vizinhos, conhecidos e profissionais”, refere o resumo enviado à Lusa.

As vítimas são maioritariamente mulheres entre os 65 e os 70 anos, casadas, com baixos níveis de educação e reformadas.

Na maioria das situações, não existia dependência económica das vítimas em relação aos alegados agressores.

Neste estudo, um quarto dos casos de violência doméstica sobre os adultos mais velhos tinha um histórico de incidentes prévios.

Para a autora principal do estudo, “esta subnotificação tem diversas explicações, que vão desde as limitações físicas e cognitivas das vítimas ao medo e vergonha de denunciar, bem como a dificuldade e o receio de vários profissionais, incluindo da área da saúde, em diagnosticarem e notificarem as suas suspeitas”.

“Em termos de políticas públicas, o recurso aos ‘media’ será fundamental para reduzir a estigmatização, nomeadamente o idadismo, e informar e sensibilizar a população para a identificação e comunicação de casos suspeitos. A realização de campanhas e ‘workshops’ dirigidos à comunidade, mas também às vítimas e agressores, é particularmente importante. Muitos dos agressores poderiam não o ser se tivessem mais suporte social”, sugeriu a investigadora.

Em jeito de apelo aos profissionais de saúde, nomeadamente aos médicos de família, a docente também sugeriu a criação de protocolos para uma avaliação mais correta destes casos.

Sofia Frazão defende que “deverá ser criado, em Portugal, um sistema público integrado que garanta uma intervenção eficaz e humanizada nestes casos”, pede que se pondere a criação de uma comissão de proteção para pessoas mais velhas e mais vulneráveis, e propõe, ainda, o desenvolvimento de mais formação e investigação nesta área para melhor identificar os fatores associados e permitir intervenções na comunidade, sem esquecer a importância do policiamento de proximidade.

Além de Sofia Frazão, participaram neste trabalho Teresa Magalhães e de Paulo Vieira-Pinto, também professores da FMUP.

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