Interior Sem Rede: A Nova Forma de Abandono

Fala-se muito de coesão territorial, mas quase sempre em termos de estradas, transportes ou serviços públicos. O que quase ninguém diz é que hoje a grande linha de divisão do país já não é apenas física: é digital.

Há em pleno século XXI milhares de portugueses que não têm acesso à internet de qualidade. Famílias que não conseguem ter rede suficiente para um simples teletrabalho, estudantes que não conseguem assistir a uma aula online sem falhas, empresários do interior que perdem clientes porque não conseguem manter uma loja digital a funcionar.

Enquanto nas grandes cidades se fala de 5G, inteligência artificial e economia do futuro, no interior ainda há freguesias inteiras a viver com redes de internet tão instáveis como há vinte anos. Isto é desertificação digital, e está a condenar muitos territórios à irrelevância.

O Estado promete milhões e milhões para a transição digital, mas na prática concentra sempre os investimentos onde já existem condições, esquecendo quem mais precisa. Ora, não há verdadeira igualdade de oportunidades se um jovem de Bragança ou Beja parte logo com desvantagem em relação a um jovem de Lisboa ou Porto, só porque não tem acesso à mesma infraestrutura digital.

A coesão do país também passa pela tecnologia. Porque sem internet de qualidade não há ensino moderno, não há negócios competitivos, não há serviços públicos de proximidade. Fala-se muito de combater a desertificação do interior, mas o silêncio em torno desta realidade é ensurdecedor.

Portugal precisa de acordar para esta desigualdade invisível. Porque um país que se orgulha de ser europeu e moderno não pode continuar a aceitar que milhões de cidadãos vivam fora do mapa digital.

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