“A IL e a esquerda nos Açores preferem ser calculistas e cobardes”

© Folha Nacional

José Pacheco nasceu em 1971 em Ponta Delgada. Despertou para a política ainda jovem e, em 1996, acabou por se filiar no CDS, partido de onde saiu em 2005. Designer gráfico de profissão, José Pacheco tem na música e na fotografia os seus maiores hobbies, não esquecendo a aquariofilia. No futebol, o seu coração divide-se entre o Benfica e o Santa Clara.

 

A Iniciativa Liberal decidiu, na semana passada, rasgar o acordo que a comprometia com o Governo Regional dos Açores. Na sua ótica, o que está por trás desta decisão inesperada?

Pareceu-me uma jogada estratégica que correu muito mal. Suponho que a visita do líder nacional da IL aos Açores foi a causa disto tudo. Uma ingerência na estratégia regional, numa altura pouco oportuna, que tinha tudo para não resultar.

No meu entendimento, o líder nacional tentou aqui causar uma instabilidade e levar o CHEGA de arrasto, mas saiu precisamente ao contrário porque o CHEGA Açores já tinha dito querer estabilidade numa altura que está a ser difícil para as famílias e as empresas açorianas.

 

Entende que o Governo Regional pode correr o risco de não cumprir o seu mandato?

Pode sempre correr esse risco se a esquerda se unir e a IL votar uma moção de censura. Já os desafiei a clarificar a posição deles, mas pelos visto preferem ser calculistas e cobardes politicamente.

 

Como lhe parece que fica a reputação política da IL nos Açores depois desta jogada de alto risco?

Penso que fica muito mal na fotografia a IL, e não só, mas isto é algo com que só eles terão de lidar e pagar as consequências.

 

Qual a possibilidade de o PS voltar a governar os Açores?

Possibilidade há sempre, espero é que tal não aconteça nas próximas décadas. O CHEGA fará tudo para evitar que tenhamos de novo o socialismo e os seus malefícios aqui nos Açores.

 

André Ventura instou o Governo Regional dos Açores a apresentar uma moção de confiança, e o próprio José Pacheco desafiou a oposição a apresentar uma moção de censura, mas essa não foi a opção de José Manuel Bolieiro. Acha que esta indefinição prejudica a estabilidade governativa?

Penso que sim. É preferível haver uma clarificação do que andarmos constantemente com esta “nuvem negra” sobre as nossas cabeças de que o governo pode cair a qualquer momento. O CHEGA não gosta deste estado de coisas e os açorianos muito menos.

 

Como está o acordo que o CHEGA Açores assinou com o PSD Açores?

O que achamos mais prudente e melhor para os açorianos, é irmos fazendo uma análise passo a passo, negociando e limando arestas. Para todos, inclusive para o CHEGA, isto é uma aprendizagem de trabalho entre várias sensibilidades políticas.

Não se pode confundir estabilidade com o passar de um “cheque em branco”, algo que sempre recusei.

É necessário entender que sempre levantei a questão de não podermos assinar algo sem perceber para onde vamos, o que queremos e como vamos fazer. Foi assim que aconteceu, mesmo com a minha discordância na altura. Suponho que para alguns, os interesses e agendas pessoais falaram mais alto.

 

As exigências feitas pelo CHEGA e que constam do acordo assinado pelo PSD têm sido cumpridas?

Em certas ocasiões vão tentando cumprir connosco, não na plenitude como queríamos, mas vão dando sinais positivos neste sentido. Estamos satisfeitos? Claro que não estamos, falta muito diálogo e respeito pelos parceiros que apoiam esta solução.

Uma das condições do acordo era precisamente garantir a informação e consulta mútua nas iniciativas legislativas, no entanto raramente isto tem acontecido o que achamos muito mau.

 

O CHEGA também já ameaçou retirar o apoio ao Governo liderado por José Manuel Bolieiro. Qual é a diferença para com a posição da IL?

Quando o fizemos, fundamentamos com o não emagrecimento da máquina governativa – na altura tínhamos o maior governo da história dos Açores; a não criação do gabinete anticorrupção; o reduzir e fiscalizar a subsidiodependência nos Açores; a manutenção dos programas ocupacionais; o não terem feito uma aposta séria na formação profissional; a questão da privatização da SATA Internacional; o apoio à natalidade, etc., etc..

Na altura percebemos claramente que não era esta a rota correta que estavam a tomar e tivemos de a corrigir, ou não valeria a pena continuarmos a trilhar este caminho hipotecando ou adiando o futuro dos Açores.

 

O CHEGA Açores voltaria a assinar um acordo semelhante?

Não me parece que assinasse algo tão abstrato e sem objetivos concretos ou temporais como aconteceu. Não entendo que seja algo positivo para os açorianos.

O entendimento que tenho, e sempre tive, sobre acordo escrito é de mais não ser do que uma tentativa de colocar uma mordaça ao CHEGA, algo que lhes correu muito mal desde que assumi a liderança regional.

No meu entender, o acordo que o CHEGA deve assinar é com o povo dos Açores e com a vontade expressa nas urnas quanto às nossas propostas.

No entanto, nas próximas eleições acredito que o CHEGA terá uma dimensão que exigirá que façamos parte da ação governativa. Se assim for, e penso que será mesmo, nesta altura mais que um acordo escrito precisamos todos de um forte compromisso em prol desta terra, sem falsos protagonismos ou guerras de egos. Quando tal acontecer vamos todos ganhar, especialmente os açorianos.

Falta muita maturidade a muitos políticos que colocam sempre os interesses partidários acima dos das pessoas. Nós trabalhamos e governaremos paras as pessoas, fazendo reformas que acabem com rotas enganadoras que levaram os Açores ao fundo da tabela da prosperidade portuguesa e europeia.

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