Parlamento ao lado dos criminosos recusa prisão perpétua para crimes monstruosos

© D.R.

O debate desta semana sobre a Revisão Constitucional ficou marcado por um ambiente quente e ânimos exaltados. Em causa, a proposta do Partido CHEGA para admitir na Constituição da República Portuguesa a possibilidade de aplicação da pena de prisão perpétua para crimes especialmente graves, sendo revista a cada 25 anos.

A proposta, que foi rejeitada pelos restantes partidos após duas horas e meia de reunião, visava incluir na Constituição uma exceção que permitisse a prisão perpétua em caso de “prática de crimes contra a vida ou contra a integridade física”, o que originou uma discussão acalorada e em termos que levou o deputado do Livre, Rui Tavares, a anunciar que irá propor uma reflexão na reunião de quarta-feira da Mesa e Coordenadores, por considerar que o tom nem sempre foi digno de uma comissão de revisão constitucional.

O deputado e presidente do CHEGA, André Ventura, disse querer “aproximar Portugal de outros ordenamentos jurídicos europeus”, que preveem a prisão perpétua com revisões periódicas (de 25 em 25 anos, defende o partido na lei penal), e aludiu ao caso de uma criança que foi morta, na terça-feira, com uma arma branca, pelo avô.

“No dia em que um avô matou à facada uma neta é um bom dia para discutir a prisão perpétua”, defendeu Ventura, declaração que mereceu o repúdio e classificações como “abjeta” ou “infeliz” pela maioria dos partidos.

“É nos dias em que somos confrontados com os crimes que mais nos magoam que testamos o apego ao nosso Estado de direito”, disse Isabel Moreira.

A deputada do PSD Mónica Quintela admitiu ter hesitado em dizer “apenas não” a esta proposta, mas considerou nunca ser de mais “refutar propostas populistas”.

Numa segunda ronda, o líder do CHEGA apontou casos em que Portugal extraditou criminosos para países com prisão perpétua, e colocou um cenário hipotético, relativamente ao antigo líder da Al-Qaeda.

“Se Bin Laden tivesse sido apanhado em Portugal e ficado numa prisão portuguesa, em 2001 (ano dos atentados nos EUA) seria condenado a 25 anos. Já estaria em liberdade e com sorte ainda conseguia algum subsídio do Estado. Alguém acha isto razoável?”, questionou.

Na resposta, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, respondeu que “se Bin Laden estivesse vivo e vivesse em Portugal, provavelmente seria militante do CHEGA”, ao que André Ventura respondeu que é o Bloco de Esquerda quem tem terroristas das FP-25 nas suas fileiras.

Ventura acusou ainda os restantes partidos de terem mais simpatia por “homicidas e pedófilos do que pelas vítimas”.

Antes, a comissão discutiu alterações ao artigo relativo ao casamento e família, sobretudo a proposta de alteração do CHEGA que pretendia — mais uma vez sem apoio de nenhum partido — que ficasse na Constituição que o Estado não se pode imiscuir na relação entre pais e filhos.

O debate acabou por ‘resvalar’ para uma discussão sobre a disciplina de educação e cidadania, com o PS a defender que “a escola não pode ser neutra”.

Já a deputada do PCP, Alma Rivera, classificou como inférteis as discussões demoradas de artigos condenados pela esmagadora maioria ao ‘chumbo’, o que levou Ventura a salientar que o CHEGA é o terceiro maior partido e a apontar-lhe um de dois caminhos: “não discutir ou sair”.

Pelo caminho ficará igualmente outra proposta do CHEGA que queria constitucionalizar que “apenas as pessoas maiores de idade podem contrair casamento”.

 

Últimas de Política Nacional

O candidato presidencial e líder do CHEGA considerou hoje a mensagem de Natal do primeiro-ministro "pouco feliz e pouco empática" por não falar da situação na saúde, desafiando os seus adversários para um debate sobre o tema.
O conselho diretivo de cada Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) vai passar a ter cinco vice-presidentes indicados pelo Conselho de Ministros, segundo um decreto-lei publicado.
O Presidente da República criticou hoje a demora do parlamento em eleger os conselheiros de Estado, frisando que já espera há seis meses, e disse ter convocado uma reunião do órgão consultivo porque a Ucrânia “é um tema fundamental”.
Candidato presidencial recorre da decisão que manda retirar cartazes com a frase “Os ciganos têm de cumprir a lei” e acusa os tribunais de impor uma ‘mordaça’ à liberdade de expressão em campanha eleitoral.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou o Conselho de Estado para 9 de janeiro para analisar a situação internacional e, em particular, na Ucrânia. A informação consta de uma nota divulgada esta terça-feira no site da Presidência da República.
Exigir que todos cumpram a lei passou a dar multa. O Tribunal Local Cível de Lisboa mandou retirar os cartazes de André Ventura e proibiu o candidato presidencial de repetir a mensagem, numa decisão que Ventura considera ser censura política.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou hoje os decretos da lei da nacionalidade, na sequência das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional, devolvendo-os à Assembleia da República.
O candidato presidencial Luís Marques Mendes divulgou hoje uma lista com os 22 clientes da sua empresa, na qual se encontram prestações de serviços em consultoria, comentários e participações em conferências, e que inclui a construtora de Famalicão Alberto Couto Alves.
A Autoridade Tributária classificou como “antiga” uma moradia reconstruída em 2024 pertencente ao ministro da Presidência, António Leitão Amaro, permitindo-lhe pagar menos de metade do IMI devido.
Luís Marques Mendes encerrou a sua empresa familiar e mantém silêncio sobre clientes, contactos e serviços que lhe renderam centenas de milhares de euros.