Gaspar Castelo Branco

Em Fevereiro de 1986 foi barbaramente assassinado pelas FP-25 de Abril Gaspar Castelo Branco, às portas de sua casa, em Lisboa. O país estava em choque com os assassinatos, assaltos e actos terroristas levados a cabo pelas Fp-25 de Abril, lideradas pelo Otelo Saraiva de Carvalho.

À altura dos factos, em 1982, foi nomeado Director-Geral dos Serviços Prisionais, pelo Ministro José Menéres Pimentel, em consequência da aprovação da nova lei orgânica, que antevendo também as alterações futuras previstas para o Código Penal, instituía que as penas fossem sempre executadas com um sentido pedagógico e ressocializador. A lei orgânica entretanto aprovada, alertava para o enorme crescimento da população prisional que teria crescido de 2519 reclusos em 1974, para mais de 6000 em 1980. Viva a Liberdade!
Não tinha qualquer filiação partidária ou política e como refere Nuno Gonçalo Poças, no seu magnifico livro “Presos por um fio”, era um “defensor da causa pública e considerado um homem Justo com uma enorme preocupação com as condições dos detidos ainda que, por vezes fosse duro e inflexível no cumprimento do dever”.

Nessa data estavam na prisão já alguns operacionais das FP-25, incluindo o Otelo. Nunca as condições das prisões tinham sido postas em causa. Com estes presos, vieram as constantes reivindicações, pretendendo estes serem considerados “presos políticos”, embora pretendessem usufruir das regalias dos presos de delito comum.

Após a fuga de dez terroristas da prisão, foi aplicado aos presos das FP um regime mais restritivo, isolando-os e impedindo a circulação pela cadeia. Estes presos eram considerados extremamente perigosos e nunca podiam usufruir do regime dos restantes. Começaram as sistemáticas greves de fome, com a comunicação social a apoiar os terroristas que, coitadinhos, estavam a morrer à fome, o que era falso. Começaram aqui também os vergonhosos movimentos pró-amnistia, liderados por Isabel do Carmo, outra terrorista.

Gaspar Castelo Branco sempre disse e afirmou que nenhum regime democrático cedia a greves de fome. Cumpriu sempre as ordens sem medo, mesmo sabendo que estava sozinho. Andava armado e levava uma G3 a seus pés no seu carro. Nunca quis mudar de casa ou alterar as rotinas diárias para não prejudicar a família. Dominou o medo que teria para que nada alterasse a normalidade da vida da mulher e filhos.

Nas vésperas das eleições presidenciais de 1986 preparava-se para receber amigos em casa para o jantar, algumas altas personalidades politicas. No caminho de regresso a casa parou numa charcutaria perto de casa para comprar queijo. Seguiu o resto do a caminho a pé. Perto de casa dois FP esperavam-no num carro. Estes aproximaram-se por traz e cobardemente dispararam à queima roupa, atingindo-o na nuca.

O filho Manuel, adolescente estava em casa com um amigo, que tinha acabado de sair quando deu com o corpo no passeio. Manuel, alertado, saiu à rua e só reconheceu o pai pelo casaco.
O funeral não teve honras de estado e não compareceram responsáveis políticos, como Mário Soares, eleito Presidente na véspera, Cavaco Silva, primeiro-ministro, Ramalho Eanes, ainda em funções, todos ignoraram institucionalmente o sucedido, com medo de represálias.

A comunicação social continuou a dar tempo de antena aos “defensores dos direitos humanos” das cadeias, mas esqueceram-se de Gaspar Castelo Branco.

Nuno Gonçalo Poças refere: Durante os 30 anos que decorreram desde a sua morte, passaram pela Presidência da Republica Mário Soares que condecorou 2500 pessoas, Jorge Sampaio, mais de 2300 e Cavaco Silva, que finalmente entendeu que merecia a honra de Estado. Mas antes o Estado Português condecorou Otelo, Palma Inácio, Camilo Mortágua, Armando Vara, Isabel do Carmo, entre tantos outros duvidosos.

Para terminar cabe referir que Otelo, na recuperação da sua carreira, recebeu uma indenização três vezes superior à das vítimas que assassinou.

VERGONHA!

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