O falhanço da I República

A I Republica foi implantada a 5 de Outubro de 1910, depois do atentado contra as figuras régias, D. Carlos o principe D. Luis e D. Manuel. Este atentado foi um dos mais espetaculares actos de terrorismo em Portugal, porque alcançou todos os objectivos, atingindo o símbolo máximo do poder e praticado à luz do dia o que concitou toda a publicidade disponível naquela época. A reconstituição desenhada do atentado, à falta de fotografia, foi capa de jornais e revistas de todo o mundo, da América à Rússia.

Logo no início a República luta contra a Igreja. As Ordens religiosas são expulsas, sem exceção. O governo humilha especialmente a Companhia de Jesus, tratando os jesuítas como criminosos. A Igreja é separada do estado e é proibido nas escolas o ensino da religião. Os padres não podem ser professores fora das igrejas e têm de usar calças em vez de batinas. São proibidas as procissões, suprimidos os feriados religiosos e abolidos os juramentos de raiz religiosa. Os sinos das igrejas são proibidos de tocar. O ministro da Justiça proíbe a leitura da pastoral nos púlpitos que dizia que que a política da República é “jacobina e anticatólica”. (Foi o ditador Salazar que permitiu os sinos voltarem a tocar)

Manuel de Arriaga, advogado, de luminosa cabeleira é enviado para Coimbra com a missão de salvar a universidade. Foi um momento de rara sensatez do Governo Provisório. Manteve intacto o seu prestígio e fica para a história como o primeiro presidente eleito da República Portuguesa, pelo parlamento, em Agosto de 1911. Mas não termina o mandato. Renuncia em Maio de 1915, a cinco meses do termo do mandato na consequência de uma revolta militar inspirada por Afonso Costa com centenas de mortos e feridos em Lisboa. “Saio do poder mais pobre do que entrei”, disse. Manuel de Arriaga paga a presidência do seu bolso.

  Aprovada em 21 de Agosto de 1911, a Constituição reduz o Chefe de Estado a uma mera figura de chancela e concentra o poder nos deputados que passam a eleger e destituir o Presidente. O poder parece parlamentar, mas a realidade é outra. Quem manda é “a Rua”. O Partido Republicano tem as suas organizações: centros, clubes, comissões e cada uma dessas organizações consegue movimentar centenas de pessoas para a arruaça, a violência, os atentados à bomba. A esta gente juntam-se os “jovens turcos” que é uma verdadeira tropa de choque constituída por bandos de militares armados.

Afonso Costa, ministro da Justiça e campeão da luta anticlerical é o chefe que manda nesta “rua” de Lisboa. Quando não tem argumentos, no Governo ou no Parlamento, ameaça com a “rua” e todos se encolhem.

O falhanço da I República repercutiu-se por todo o país, como um completo fracasso. De 1910 a 1928, foi uma realidade cruel de dezasseis “revoluções” e quarenta e cinco governos (alguns que não duravam três meses), de sistemática perseguição das maiorias sociológicas, de assassinatos políticos (Sidónio Pais, em 1918, Machado dos Santos, António Granjo e José Carlos da Mata, em 1921) e de ditadura clientelar do partido democrático.

A República nunca conseguiu consolidar-se como um regime. Foi uma tentativa de governação, sempre e amiúde interrompida por golpes e contra golpes militares violentos, de insurreições e até próximo de guerra civil, sem travão . O combate política assenta no ódio, na violência e no terrorismo. O resultado deste estado de coisas é a instabilidade, a ruína da administração publica, o deficit incontrolável, a bancarrota. 

Como consequência desta desastrosa revolução Portugal viu-se obrigado a entrar na 2ª guerra mundial, por duas razões: Para salvaguarda das colónias ultramarinas, cobiçadas pela Alemanha e pela Inglaterra (que ficaram para a União Soviética, Cuba e China) e para legitimar o regime republicano. Entre 1916 e 1918 morreram sete mil novecentos e oito portugueses. Mais ou menos o mesmo número que morreram depois, ao longo de treze anos, na guerra colonial.

Surge o 28 de Maio de 1926, também conhecido pelos seus executores por Revolução Nacional, e foi um golpe de Estado protagonizado por militares e civis antiliberais que resultou na queda da Primeira República Portuguesa.

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