O Estado redentor e o partido-patrão

Os portugueses desinteressam-se cada vez mais da política. O fenómeno não é exclusivamente nosso. Ora, há razões para que assim seja. A explicação é muito simples. O Estado quer ser o redentor dos pecados dos cidadãos e os partidos que com ele se querem identificar são os acólitos.   

    O defeito não está nos portugueses em si mesmos mas sim na maneira de fazer política no nosso país e sobretudo na lógica corporativa dos dois partidos maiores. Os políticos do PS e do PSD, no Governo ou na oposição, julgam ter respostas para tudo e consideram-se por tudo responsáveis. Tudo prometem e tudo querem transformar. Logo que chegados ao poder arvoram o partido a instrumento de transformação social e utilizam-no como arma para a perpetuação no poder, indispensável para alimentar as promessas que fizeram. A lógica é assim corporativa, virada para dentro e não para fora. Numa época em que os grandes homens de Estado deixaram de existir porque foram substituídos pelos apparatchiks partidários e em que o carisma do estadista foi posto de lado em prol da legalidade partidária, os novos líderes deixaram de ser a voz dos cidadãos e passaram ser os patrões dos partidos.  

O que interessa aqueles partidos é provar que os seus dirigentes são capazes porque fazem promessas e semeiam ilusões e para isso põem e dispõem de uma comunicação social dócil cujo objectivo é anestesiar o cidadão. Neste palco de ilusões ganha quem mais depressa o enganar. 

    Ora, o cidadão português o que quer é que não que lhe vendam uma ideologia deformadora acavalitada em promessas vãs de transformação e redenção, propagandeadas pelas máquinas partidárias. Há muito que sabe que os partidos maioritários não são de confiança. Começa aqui a explicação para o absentismo político. 

    Os partidos maioritários estão vocacionados para o Estado e não para os cidadãos. O que importa é ajudar os cidadãos a resolver por si próprios os problemas e alimentar-lhes as perspectivas de exercício das suas liberdades, deixando-lhes nas mãos a disponibilidade para isso. A reconciliação dos portugueses com a política passa pela alteração do papel do Estado e pela revitalização da Sociedade Civil. É preciso pôr o Estado português ao serviço dos cidadãos e não pôr estes a trabalhar para engordar o Estado. Razão tinha o Zeca Afonso quando a cantar dizia, embora movido por propósitos muito diferentes; o que faz falta é animar a malta. Só que a malta somos nós, os portugueses médios, e o que faz falta é libertá-los de impostos imorais, de burocracias alimentadas a sucata e de funcionários públicos a mais. 

    Os partidos políticos não são os representantes únicos dos cidadãos. Os  cidadãos representam-se a eles próprios e só condescendem com os eleitos para que estes exerçam o poder estritamente necessário em prol do bem comum dos eleitores que os legitimaram e não deles próprios. 

    O objectivo deve ser uma política mais modesta, menos salvífica e mais virada para os cidadãos. É tempo de reconhecer que a política dos belos projectos de sociedade acabou e que os aparelhos partidários que pretendem cavalgar a sociedade para a conduzir pelos seus caminhos ideológicos pela mão de uma nomenklatura que foi gerada no seu interior não servem.

     Nada de admirar que os portugueses se desinteressem da política. Os partidos do arco do poder exigem-lhes obediência em troca de promessas eleitorais protagonizadas pelos cromos que aparecem nas listas. Estes, por sua vez, arrogam-se qualidades fantásticas e conhecimentos profundos das questões a que em boa hora foram chamados. Tudo falso. Tudo oco. Do que a política precisa é de cidadãos comuns a fazer ouvir a sua voz não por intermédio dos partidos mas através de uma Sociedade Civil (sim, com letras maiúsculas) cada vez mais forte e interveniente. Os portugueses não querem ser assalariados daqueles partidos mas sim e apenas cidadãos.  Os cidadãos portugueses é que legitimam e representam os partidos políticos, se e enquanto o quiserem, não ao contrário. 

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