Natividade Barbosa nasceu em Lille (França) em Março de 1985. Empreendedora desde os 18 anos, seguiu o curso técnico de Energias Renováveis. É gestora empresarial no ramo das energias renováveis e consultoria.
As energias renováveis são uma solução realista para garantir a soberania energética do nosso país, ou, por outro lado, devem coexistir com outro tipo de fontes de produção energética?
As energias renováveis são, sem dúvida, uma solução realista para garantir a soberania energética de um país. São fontes de energia limpa, sustentáveis e inesgotáveis, como a solar, eólica, hidroelétrica, geotérmica e a biomassa. Oferecem benefícios significativos, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, diminuição da dependência de combustíveis fósseis e diversificação da matriz energética. Contudo, as energias renováveis sozinhas podem não ser capazes de fornecer toda a necessidade energética de um país, daí ser necessário utilizar uma combinação de diferentes fontes de produção energética, incluindo as não renováveis.
A União Europeia assumiu a meta de neutralidade carbónica até 2050. Qual a viabilidade e os custos deste objetivo para os estados-membros e para os cidadãos?
A meta de neutralidade carbónica até 2050 assumida pela União Europeia é um objetivo ambicioso e desafiador, que exigirá grandes esforços e investimentos por parte dos estados-membros e dos cidadãos. A viabilidade e custos podem variar de país para país. A viabilidade deste objetivo dependerá, em grande medida, da capacidade dos países da União Europeia de adotar políticas e medidas eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Será necessário um esforço conjunto para acelerar a transição para fontes de energia renováveis, melhorar a eficiência energética, promover a economia circular e implementar medidas de mitigação das mudanças climáticas. A transição para a neutralidade carbónica terá custos significativos para os estados-membros e para os cidadãos. Além disso, a redução das emissões de gases de efeito estufa pode implicar aumentos nos preços de certos produtos e serviços, especialmente aqueles relacionados a setores intensivos em carbono, como a energia e transporte. No entanto, é importante ressaltar que a mitigação das mudanças climáticas pode trazer também benefícios económicos, como a criação de empregos e a redução dos custos na saúde associados à poluição atmosférica.
As energias renováveis também podem ter impacto ambiental negativo nos ecossistemas locais, como é o caso de certos projetos de parques eólicos ou centrais hidroeléctricas. Esse impacto tem sido levado em conta em Portugal?
Sim, o impacto ambiental causado por projetos de energias renováveis, como parques eólicos e centrais hidroelétricas, tem sido levado em conta em Portugal. O país tem sido ativo na implementação de políticas e avaliações ambientais para garantir que esses projetos sejam realizados de forma sustentável e responsável. No caso dos parques eólicos, estudos de impacto ambiental são realizados antes da construção, para avaliar os possíveis efeitos sobre o terreno, a biodiversidade e o ruído (existe legislação em vigor que estabelece critérios). No caso das centrais hidroelétricas é realizado um estudo de impacto ambiental que avalia os efeitos sobre o ecossistema do rio e os seres vivos que nele habitam. Esse estudo considera aspetos como a modificação do fluxo do rio, a migração de peixes e a preservação das áreas alagadas.
A energia nuclear é vista como ‘limpa’ mas pouco ‘verde’. Entende que esta é uma alternativa viável e que deveria ser posta em cima da mesa para fazer face à nossa dependência energética?
A energia nuclear é frequentemente considerada ‘limpa’ porque não emite grandes quantidades de poluentes atmosféricos durante a produção de eletricidade. No entanto, o seu impacto ambiental não pode ser considerado totalmente ‘verde’ devido a certos problemas. Um dos principais problemas é a gestão dos resíduos radioativos produzidos pela indústria nuclear. Esses resíduos são altamente perigosos e têm de ser armazenados de forma segura por milhares de anos.
O tema das alterações climáticas é, muitas vezes, abordado de uma perspetiva ideológica, falando-se mesmo em emergência climática. Esta abordagem faz sentido ou trata-se de alarmismo?
O tema das alterações climáticas é abordado de forma ideológica por algumas pessoas, enquanto outras preferem referir-se a isso como uma emergência climática. Ambas as abordagens não são mutuamente exclusivas e têm as suas justificações. Aqueles que chamam à situação emergência climática argumentam que as mudanças climáticas estão a ocorrer a um ritmo alarmante e que medidas urgentes são necessárias para evitar consequências irreversíveis. Acreditam que a linguagem de ‘emergência’ traz maior atenção para o problema e pode mobilizar ações rápidas. Por outro lado, alguns críticos consideram essa abordagem como alarmista, argumentam que o uso de linguagem alarmante pode criar pânico e levar a medidas drásticas desnecessárias. Além disso, afirmam que a situação das alterações climáticas é cíclica e complexa e que soluções eficazes requerem uma análise cuidada e um entendimento abrangente do sistema climático.