“A economia portuguesa já tinha caído no terceiro trimestre, estando debilitada ainda antes do ataque a Israel e da demissão do primeiro-ministro. Isto significa que a probabilidade de uma nova queda no Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre se acentuou, sendo agora mais provável que Portugal entre em “recessão técnica” (dois trimestres consecutivos de queda do PIB) ainda este ano”, assinala à Lusa o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira.
Para o economista a atual crise política deverá ter impacto sobre a economia portuguesa devido a uma “incerteza em geral”, por o país passar a ter um governo de gestão durante alguns meses e pela incerteza sobre a versão final do orçamento do próximo ano.
“A incerteza em geral deverá retrair consumidores e investidores, aguardando pela clarificação do cenário político. Consumo de bens duradouros e alguns investimentos poderão ficar suspensos”, apontou.
Pedro Braz Teixeira sublinha que um governo em gestão tem poderes diminuídos, pelo que haverá certos dossiês que ficarão parados, tal como o novo aeroporto, enquanto em outras matérias, como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e habitação, poderá “abrandar o empenho em produzir resultados”.
O impacto no sentimento económico é apontado também pelo economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia.
“O tema do crescimento é o mais delicado porque estamos perante duas guerras, inflação e juros altos, uma desaceleração global e sobretudo europeia e parte significativa do crescimento previsto para 2024 assenta no investimento público cuja execução fica agora mais em dúvida”, elenca.
O economista realça que “a isto acrescem a deterioração do sentimento dos agentes económicos domésticos, mas também dos internacionais em relação a Portugal”.
“A crise política tem influência porque a instabilidade poderá fazer atrasar (mais) a implementação do PRR e também prejudicar o sentimento económico. Umas das iniciativas governamentais mais emblemáticas que estava em curso será provavelmente adiada – a privatização da TAP – dada a necessidade de uma grande legitimação política por parte do Governo”, refere.
Filipe Garcia assinala que “se espera uma pausa ao nível dos projetos ligados à transição energética, não por falta de apoio popular ou europeu, mas dado que o Ministério do Ambiente e Agência Portuguesa do Ambiente estão no epicentro da investigação, assim como alguns projetos de grande dimensão”.
Contudo, o coordenador do NECEP – Católica-Lisbon Forecasting Lab, João Borges de Assunção, acredita que “o abrandamento da economia, a ocorrer, dependerá dos fatores externos habituais como a situação da economia mundial, a inflação e as taxas de juro”.
O economista recorda que “no passado os episódios de interrupção de legislatura têm tido efeitos pequenos na variação da atividade económica”, uma vez que “por vezes é até o contrário: é a alta inflação, o desemprego elevado ou a contração da economia que geram a instabilidade que faz cair os governos”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou quinta-feira que vai dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas para 10 de março de 2024.
Contudo, irá adiar a publicação do decreto de dissolução, permitindo a votação final global do OE2024, marcada para 29 de novembro, que tem aprovação garantida devido à maioria absoluta do PS.
O processo de especialidade do Orçamento no parlamento continua a decorrer, mantendo-se as audições previstas dos ministros para defender a proposta.