“Isto [ameaça de interferência russa] não é novo, mas compreendemos hoje muito melhor do que antes e temos de estar vigilantes. É por isso que, no último Conselho Europeu [de meados de abril], procedemos a uma troca de pontos de vista sobre este tema […] e encarregámos os nossos organismos nacionais e europeus de cooperarem muito mais do que antes, de modo a podermos tentar detetar, prevenir e reagir, se necessário”, disse Charles Michel.
Em entrevista à agência Lusa a poucos dias do arranque das eleições europeias marcadas para 06 a 09 de junho, o responsável garantiu que a UE já tem estado “vigilante”.
“Penso que o risco zero nunca existirá, mas o facto de denunciarmos, o facto de estarmos a chamar a atenção das pessoas, o facto de fazermos deste tema um debate público é também uma forma de prevenir este tipo de risco”, indicou.
De acordo com Charles Michel, “todos os líderes [chefes de governo e de Estado da UE] estão absolutamente conscientes de que se trata de algo grave”.
“É por isso que estou confiante de que estão a encarregar os organismos nacionais de se prepararem para estar vigilantes e atentos para protegermos as nossas instituições democráticas”, frisou.
A posição surge depois de os 27 Estados-membros terem vindo a registar um aumento dos ataques híbridos (como ações de desinformação, ciberataques, sabotagem e interferência), nomeadamente por parte da Rússia, esperando-se que isso se intensifique com o aproximar da data do sufrágio.
Na entrevista à Lusa, Charles Michel descreveu as próximas eleições europeias como “um importante encontro democrático com os cidadãos de toda a UE”.
“Esta é uma ocasião única, quando temos eleições europeias, para chamar a atenção para os desafios que enfrentamos e também para permitir que os candidatos dos partidos políticos expliquem quais são as suas ideias, qual é a sua visão para o futuro da UE”, referiu.
Cerca de 370 milhões de eleitores são chamados a escolher os 720 deputados ao Parlamento Europeu, nas eleições que decorrem nos 27 Estados-membros da União Europeia entre 06 e 09 de junho.
Em Portugal, que elege 21 eurodeputados, o escrutínio está marcado para 09 de junho.
Com base nos resultados das eleições, os líderes da UE vão escolher os nomes para altos cargos europeus (como lideranças do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu) para o próximo ciclo institucional (2024-2029).
Depois de, neste mandato, a UE ter enfrentado a saída do Reino Unido do bloco comunitário, a pandemia de covid-19 e o início da invasão russa da Ucrânia, Charles Michel adiantou à Lusa que “há muitas lições para aprender porque os últimos anos foram extraordinários, complexos e difíceis”.
“Precisamos também de aprender a lição para podermos, no futuro, desenvolver um plano, desenvolver um programa, que será a agenda estratégica, que tem em conta as consequências do que enfrentámos e a necessidade de a UE ser mais forte, mais influente e talvez mais consistente”, disse ainda.
O belga Charles Michel lidera o Conselho Europeu desde 2019.