O cidadão sírio de 26 anos, alegado autor do ataque, que se entregou à polícia no sábado à noite, por assassínio e tentativa de homicídio, relatou “fortes suspeitas de pertencer a um grupo terrorista no estrangeiro”, declarou o Ministério Público Federal em Karlsruhe (oeste) em comunicado de imprensa.
O juiz de instrução do Tribunal Federal alemão ordenou hoje a prisão do alegado autor do ataque com uma faca que fez três mortos e oito feridos na sexta-feira em Solingen.
De acordo com o comunicado da Procuradoria-Geral, o detido, de nacionalidade síria, é acusado de homicídio em três casos e de tentativa de homicídio noutros oito, bem como de pertencer a uma organização terrorista estrangeira.
Segundo a nota, os investigadores assumem que Issa Al H., o suspeito, partilha a ideologia islâmica radical do EI e que por isso tomou a decisão de “matar o maior número possível de pessoas que, do seu ponto de vista, eram infiéis”.
Por esta razão, no festival municipal de Solingen “esfaqueou os visitantes do festival com uma faca nas costas, repetidamente e visando o pescoço e o tronco”, defendeu o Ministério Público.
Depois de matar três pessoas e deixar outras quatro em estado crítico, o suspeito – que até então não era conhecido por tendências islamitas – fugiu no meio da confusão.
O ataque deu início a uma corrida contra o relógio das autoridades que duraria cerca de 24 horas, até que Al H. fez sinal a um carro da polícia e disse aos agentes, com as roupas ainda manchadas de sangue: “Sou eu que vocês procuram”, segundo os meios de comunicação social.
Acredita-se que depois de se livrar da arma do crime, uma faca de cozinha do centro de refugiados onde vivia, o alegado agressor tenha permanecido escondido num pátio interior próximo do local do ataque, no centro de Solingen.
Durante o sábado, a polícia deteve dois indivíduos – um deles, um adolescente de 15 anos – mas nenhum deles se revelou ser o suspeito.
Segundo os meios de comunicação social, Al H. é originário da cidade síria de Deir ez-Zor, situada no leste do país e que permaneceu sob o controlo do EI durante três anos até à sua libertação em 2017.
Em 2022 o suspeito chegou à Alemanha, mas foi decidido deportá-lo para a Bulgária, que foi responsável pelo processamento do seu pedido de asilo por ser o país de entrada na União Europeia, segundo fontes citadas pelos meios de comunicação alemães.
No entanto, Al H. conseguiu escapar às autoridades até à ordem de deportação expirar e obteve depois uma autorização de residência temporária, uma vez que foi reconhecido o seu direito à proteção subsidiária como cidadão sírio.
O EI assumiu a responsabilidade pelo ataque em Solingen, no sábado, dizendo que foi executado por “um dos seus soldados” como vingança “pelos muçulmanos na Palestina e em todo o lado”, mas não forneceu provas do seu envolvimento no atentado.
Segundo especialistas em terrorismo, este é o primeiro ataque reivindicado pelo EI em solo alemão desde 2016, quando 13 pessoas morreram depois do embate de um camião num mercado de Natal, embora as autoridades ainda estejam a analisar a veracidade das alegações de envolvimento do grupo terrorista neste caso.
O ataque fez renascer o debate sobre as medidas de segurança na Alemanha, uma semana antes das eleições regionais em vários estados federais do leste do país, nas quais a extrema-direita é favorita.
A ministra do Interior, a social-democrata Nancy Faeser, há muito que defende a proibição de facas na via pública, uma proposta à qual os parceiros da coligação liberal aderiram na sequência do ataque.
“Devemos endurecer a lei sobre as armas”, declarou hoje o vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, apontando que o terrorismo islâmico “põe em risco” o modo de vida no país.
“O problema não são as facas, mas sim as pessoas que andam com elas”, criticou por sua vez o líder da oposição democrata-cristã, Friedrich Merz, que apelou para o fim total do acolhimento de refugiados da Síria e do Afeganistão.
Por outro lado, a colíder do Partido Social Democrata (SPD) do chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou-se a favor de começar a deportar criminosos condenados e extremistas islâmicos para a Síria e o Afeganistão, uma medida difícil de implementar legalmente e que a oposição conservadora há muito exige.