Em conferência de imprensa realizada na sede do partido em Lisboa, André Ventura, Presidente do CHEGA, fez declarações que agitaram o cenário político nacional, acusando o primeiro-ministro Luís Montenegro de trair o eleitorado de direita ao negociar o Orçamento do Estado de 2025 (OE25) com o Partido Socialista. André Ventura anunciou que o CHEGA se vai retirar imediatamente das negociações em torno do OE25, destacando que, “com toda a probabilidade”, o partido votará contra o documento. Segundo o líder do CHEGA, esta decisão é irrevogável, pois, nas suas palavras, “não negoceia nem com mentirosos nem com traidores”, numa clara referência a Montenegro. A reação de André Ventura surgiu após a divulgação de uma reportagem do jornal Expresso, que revelou que PS e PSD estariam a conduzir negociações sobre o OE25 através de carta, sem incluir outras forças políticas, como o CHEGA. Para o CHEGA, esta atitude foi uma surpresa e uma demonstração de desrespeito não apenas com o seu partido, mas com todo o eleitorado de direita que confiou no PSD para romper com o legado socialista. “Esta negociação é uma traição ao eleitorado de direita e a todos aqueles que tinham a esperança de cortar de vez com as políticas socialistas que têm afundado o país”, afirmou.
Segundo André Ventura, a disposição inicial de Montenegro em dialogar com o CHEGA não passou de uma “fachada” para ganhar tempo, enquanto as negociações reais eram conduzidas nos bastidores com o PS. “O que vemos aqui é mais um exemplo de como os dois partidos do sistema – PS e PSD – se uniram para garantir a viabilização do OE25, ao mesmo tempo em que continuam a distribuir cargos entre si, perpetuando o poder político e marginalizando as vozes de verdadeira oposição”, denunciou. André Ventura foi ainda mais longe, ao afirmar que as atitudes do atual Governo, especialmente do primeiro-ministro, revelam uma profunda falta de compromisso com as promessas feitas durante a campanha eleitoral. Lembrou que, durante a corrida eleitoral, Luís Montenegro criticou severamente o PS, acusando os socialistas de “deixar o Estado todo partido e o partido todo no Estado”.
Montenegro, à época, prometeu cortar laços com as práticas socialistas e implementar um governo de rutura. No entanto, o Presidente do CHEGA sustenta que estas promessas foram completamente ignoradas, resultando numa traição ao eleitorado. “Montenegro sempre quis e continua a querer um acordo com o PS e governar como o PS”, acrescentou.
“Montenegro teve nas mãos a oportunidade de romper de vez com a forma de governar do PS, mas preferiu espezinhar o eleitorado à direita e continuar o mesmo jogo de interesses”, criticou Ventura, acrescentando que o CHEGA não fará mais nenhum esforço para viabilizar o OE25. “Vamos liderar a oposição no parlamento e começar a construir a alternativa que o país tanto precisa”, assegurou, sublinhando que o CHEGA se manterá firme na sua missão de representar os valores e aspirações dos eleitores que se sentem traídos pelo atual Governo. Ao ser questionado sobre as propostas relacionadas com o IRS Jovem e o IRC, André Ventura desafiou o Governo a retirá-las do Orçamento do Estado e a apresentá-las num documento separado. Segundo o Presidente do CHEGA, se o Governo realmente estiver comprometido em aprovar essas medidas, a solução seria essa. “Se o Governo estiver empenhado em aprovar as propostas de IRS e IRC, só tem de as retirar do OE25 e negociaremos as mesmas”, garantiu. André Ventura afirmou que espera que “as negociações secretas entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata sejam bem-sucedidas para garantir que não haja uma nova crise política nos próximos meses.” O Presidente do CHEGA ressaltou a importância de que essas negociações sejam eficazes, pois acredita que uma nova crise política poderia ter repercussões graves para o país e para a estabilidade do governo. O Presidente do CHEGA, aproveitou ainda a oportunidade para deixar um aviso sério a Luís Montenegro, líder do PSD: “quando não se faz o corte a tempo, as consequências costumam ser graves e que quem tudo quer, tudo perde.” Com essas palavras, Ventura sugeriu que a falta de ação decisiva ou a tentativa de buscar mais do que é viável pode levar a um colapso ou a uma situação desfavorável. Durante os primeiros meses de governo da Aliança Democrática Luís Montenegro tem enfrentado críticas relacionadas à sua postura e estilo de liderança. Acusado de demonstrar uma atitude de arrogância, Montenegro tem sido alvo de críticas pela sua falta de disposição para dialogar com outros partidos, nomeadamente com o CHEGA. Questão que é particularmente relevante, considerando que a AD não possui uma maioria absoluta no parlamento, o que torna a colaboração e o consenso com outras forças políticas essenciais para a governabilidade.
As críticas apontam que, em vez de procurar construir pontes e formar alianças que poderiam facilitar a aprovação de propostas e garantir uma estabilidade para o país, Montenegro tem optado por uma abordagem mais arrogante e unilateral.
Além disso, a falta de abertura para as negociações e discussões com outros partidos pode ser vista como uma estratégia arriscada, pois compromete a capacidade de formar maiorias parlamentares para aprovar o Orçamento do Estado e poderá levar o país para novas eleições.