A verdade da mentira (2)

© Folha Nacional

Em 1986 já havia em Bruxelas um plano de socorro de prontidão a 3 minutos, protagonizado pela cruz vermelha belga. Um Voluntário Belga descreveu-me os objetivos deste plano e os meios envolvidos.

Dado que uma paragem cardíaca determina a morte cerebral ao fim de 5 minutos, a CVB tinha espalhados pela cidade postos de pronto-socorro para que em caso de alerta de uma situação de desmaio os socorristas pudessem chegar em tempo ao sinistrado e salvarem uma vida.

Penso que em Lisboa (ou mesmo em nenhuma cidade portuguesa) exista semelhante capacidade de prontidão. Volvidos 38 anos.

Ter Planos de Ação para Prevenção de riscos é fundamental para se reduzirem os efeitos de situações de catástrofes.

Esta semana assistimos, com total perplexidade, às palavras daquele colaborador das Águas e Resíduos da Madeira, a referir-se ao acidente que vitimou uma jovem turista espanhola (21 anos) em resultado de um deslizamento de terras numa Levada.

Disse o dedicado colaborador que aquela levada não era um caminho turístico, mas sim um acesso técnico para a manutenção da levada quase a justificar que a responsabilidade do acidente foi dos turistas, possivelmente para ali encaminhados por algum mapa publicado por uma entidade turística qualquer.

E em resultado do desastre foi colocada sinalética a interromper o eventual acesso de mais turistas (nota da reportagem televisiva).

Levantam-se aqui várias questões:

  • Então existem caminhos das Levadas que são perigosos e não estão interditos ao público e a visitantes?
  • De quem é a responsabilidade de manter esse levantamento de caminhos interditos: de alguma entidade de Marte?
  • E os caminhos para trabalhos técnicos nas Levadas, são ou não mantidos em condições de segurança para os próprios trabalhadores?
  • Só houve problema porque as vítimas são turistas imprudentes?

Atrevo-me a dizer, perante tanta incompetência do referido funcionário das Águas e Resíduos da Madeira que, por norma, acessos a zonas de perigo estão devidamente sinalizadas para se evitarem acidentes. Por exemplo nas estações de metro em Lisboa em cada estação existem 4 avisos de perigo máximo para não se ultrapassar o fim de plataforma de embarque. E o mesmo sucede em qualquer serviço público ou privado em que avisos de perigo são colocados para se evitarem o acesso de pessoas que desconhecem os riscos potenciais.

O problema é, no entanto, mais grave porque envolve outras vertentes. Na internet existe uma extensa oferta de descrições de Levadas com diferentes trechos e graus de dificuldade com diferentes classificações “até os mais difíceis, extensos e, eventualmente, perigosos”.

Ou seja, as Levadas são hoje parte da Indústria Turística da Ilha, sem que aparentemente os caminhos mais difíceis estejam interditos a visitantes, que ficam à sorte ou ao azar das circunstâncias.

Assim pergunto, onde está o (não) governo de Miguel Albuquerque em matéria de prevenção dos riscos das Levadas.

Será que a Proteção Civil da Madeira tem palavra a dizer sobre esta matéria ou estamos no campo dos jogos de sorte e de azar para os Turistas?

E onde mora a responsabilidade das Águas e Resíduos da Madeira no acidente que vitimou a jovem turista espanhola, por não haver sinalética de alerta dos riscos potenciais naquela Levada perigosa? 

Será que a atividade de visitação das Levadas é regulamentada, ou está tudo deixado ao “Deus dará”? 

Importa evidenciar que neste caso extremamente infeliz, quem perde é a Marca Madeira, como destino turístico seguro, e por isso perdem os Madeirenses e perde Portugal.

Há mais de 38 anos, em Bruxelas, já se faziam planos de contenção de riscos e estavam implementados procedimentos de resposta rápida e eficaz aos riscos identificados.

Em Portugal, nos nossos dias, os portugueses e os nossos visitantes são deixados à sorte por (Des) governantes incapazes e incompetentes, famosos pensadores de obras públicas e de casos de corrupção, mas muito pouco preocupados com o serviço público para o qual foram eleitos.

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