ISTO SOU EU A FALAR DA HABITAÇÃO

Pela pequena cidade de Sacavém, ainda mais pequena pela falta de cuidado a que é votada, deu-se um caso que a todos fez espantar. Sabemos que temos de respeitar a lei vigente, o comportamento decente e condizente em sociedade, mas há cidadãos que, julgando-se mais espertos do que a maioria, procuram nas entrelinhas das leis pequenos e disfarçados buracos que permitem tipos de actuação que só confirmam a vil esperteza dos sempre prontos à vigarice. Julgam-se autorizados para tal. Pensam até que são mais espertos do que os outros ou que vivem em terra de burros ou atrasados mentais. E convenhamos, pelo que se anda a passar por terras de Sacavém, até não andam muito longe da verdade tal o sucesso da sua actuação perante a inoperância das autoridades. Ora vamos lá a factos.

Um comerciante estabelecido no Real Forte em Sacavém, resolveu comprar um casarão velho e em ruinas nos Terraços da Ponte bem ao fundo da rua Bernardino Machado no alto da cidade.  Numa zona de lixo abandonado onde existem carcaças de carros, casotas da EDP abandonadas, umas tantas barracas e porcarias várias do conhecimento da junta e da Câmara de Loures, o casarão completa a paisagem em que sobressai o muro que o rodeia.

Conjeturando sobre a compra do comerciante, dei por mim a pensar na ilegalidade de tal facto tendo em conta não só o estado de abandono do mesmo, mas também a sua colocação entre os bairros envolventes, a sua posição em relação aos mesmos ou até à clandestinidade da construção. Pelos vistos a venda foi autorizada pelas finanças o que comprova a legalidade do terreno, digo eu, do muro que o envolve e do casarão em ruínas. Ou não? É que estou sem saber.

Na rua, um enorme contentor metálico, estabeleceu-se sobre o passeio levando as pessoas a pensar nas obras supostamente a acontecer no enorme e degradado casarão. Puro engano. Depressa se concluiu que não havia obras de restauro na velha casa que continua com o seu aspecto ruinoso, mas sim na construção de cinco (5!!!) barracas a que o comerciante chama de habitações e que, à medida que eram consideradas prontas, de imediato eram ocupadas por imigrantes à razão de 12 indivíduos por barraca num espaço onde o muro limita, no total, pouco mais de 80 metros quadrados, deixando à imaginação de cada um, o espaço reservado aos ocupantes destas autênticas aberrações.

Fiz queixa à junta e à Câmara de Loures durante uma das assembleias que regularmente servem para tratar do bem-estar das populações, das suas necessidades, das suas queixas e preocupações, regulando na medida do possível, o comportamento destes “chicos espertos” que se servem de tudo para encher os bolsos, não querendo saber, talvez porque estejam habituados, do conforto mínimo a que o ser humano tem direito. É que o homem não comprou nada junto à sua casa, muito menos deu abrigo a cidadãos oriundos da sua terra. Comprou longe, em terra de ruinas, o objeto da sua obsessão pelo lucro, do fazer dinheiro a qualquer custo, seja ou não preciso passar sobre princípios, leis ou considerações sobre seres humanos.

Pela resposta que me foi dada em plena assembleia da Câmara Municipal de Loures, as autoridades acompanham há quase um ano esta situação vergonhosa. Acompanham eles e outros que gostam de acompanhar, mas não de fazer seja o que fôr.

Ele é a ASAE que se farta de andar por aí à procura de irregularidades e parece não querer ou não ver este atentado à normalidade e ao bom senso. Ele é a POLÍCIA que não sabe o que fazer mesmo perante as queixas que se multiplicam pela cidade. Eles são os BOMBEIROS que tantos problemas levantam em legais e decentes prédios por aí espalhados, apelando sempre à segurança mas que aqui nada vê de ilegal, de inseguro ou de perigoso. Eles são as FINANÇAS que por certo cairão, ou não(?), em cima do comerciante não só pelas barracas, mas pelo valor debitado a cada imigrante pelo aluguer ao longo do tempo passado e do futuro que acreditamos longo. Ou seja, ele é um sem número de autoridades que de autoridade e para esta gente, principalmente para o diligente e protegido comerciante, só tem o nome e não incute o mesmo respeito e temor que ao cidadão comum quando, ao desobedecer à lei como este habilidoso exemplar, paga caro e bem caro o desaforo.

Segundo o que a Câmara de Loures me disse na cara, agora há que seguir, dentro da legalidade, o que este comerciante empreendedor cometeu de irregularidades fora da legalidade. Percebem? Continuar segundo a lei com os processos já instaurados e esperar que os tribunais atuem e apliquem as respetivas sansões. Quando? Não sei. Mas autoridades também não!  Todos nós porém e falo nos que respeitam a lei, já calculamos.

Soube também que este comerciante continua a comprar casas velhas pelo meio de Sacavém, dá-lhes uns “toques” e aluga-as de imediato a outros imigrantes que não param de entrar nesta velha e pobre cidade, à conta de gente drogada e de alcoólicos inveterados que por aqui habitam e continuam a vender atestados de residência a apresentar numa junta que só cumpre, diz ela, a lei. Mais, pelas ruinas envolventes do casarão continuam a entrar sacos de cimento diariamente, sinal de que as obras não pararam, mesmo quando do levantamento dos processos que dizem ter levantado ou mesmo quando caso é tornado público e as múltiplas queixas deram(?) entrada no devido lugar. Não dá mesmo para acreditar este fazer pouco de qualquer autoridade por aqui.

Parece que estamos bem longe e não nesta terra com quase 882 anos de civilização.

O que está mal então? O comerciante? A câmara? A junta de freguesia? As autoridades? A lei? Os bêbados e drogados que por aqui param? Para onde vamos sem o respeito pelos outros e pelas suas obrigações? É que na mesma zona e bem de frente para o casarão em causa, há gente a pagar mais de 700€ de IMI que tem em conta a localização e sofisticação das casas não só em relação à zona envolvente, igual à descrita, como aos aquecimentos centrais, ares condicionados e aquelas coisas que servem para as autoridades, aí sim, carregarem de impostos os seus proprietários de uma maneira rápida e sem pruridos, deixando à vontade os incumpridores, tudo, claro está, conforme e não se riam, dita a lei.

O mal está em todos nós que, de repente deixámos de nos preocupar com a realidade e com tudo o que de mal ela traz. Debatendo-nos com graves problemas internos, o país parece ter políticos apenas preocupados com os votos dos cidadãos e com a economia que parece nunca ter existido em Portugal. Convencem outros de que bom é ter gente a trabalhar por nós por meia dúzia de tostões e que assim temos a resolução de problemas importantes como são os trabalhos do campo, do turismo e da hotelaria. Mas não há mais nada nesta santa terra? É que dantes havia trabalho onde os portugueses ocupavam o seu tempo, onde lutavam para ganhar o seu dinheiro e para poderem criar família.

Precisamos de outros só porque são mais baratos? E assim os hoteleiros, os agricultores e os proprietários dos milhares de estufas que enchem este país e os donos das culturas intensivas que abarrotam esta santa terra, poderem ter mais lucros e poderem continuar a pagar pouco? Como resolver o problema dos baixos salários, perguntamos todos? Como obrigar estes usurários a pagar mais? É que, mesmo com os milhares que por aí entraram em nome da economia, a mesma continua a sobreviver daquela maneira miserável a que nos habituaram e os imigrantes são cada vez mais por aí espalhados e espantem-se, sem trabalho.

É que dantes havia ocupação e não se viam tantos portugueses, vivendo à margem da lei, não pagando impostos como acontece a bem mais de metade da população, fugindo às suas obrigações ou encostados à parede como no tempo do Sócrates e das operações caril que não incomodavam como agora. Os portugueses sempre gostaram de fazer de ricos entre os pobres, de mandar trabalhar quem não sabe fazer mais nada e se possível, deixar de vez de o fazer mas usufruindo e exigindo os bens sociais que a segurança social doutros, põe à disposição em países mais evoluídos e ricos. Aqui despejam dinheiro para cima de tudo, mas nunca se sabe donde vem. Dizem agora que é dos imigrantes que também descontam. Mas não contam com a despesa que causam na saúde, nos trabalhos e nas preocupações que dão. Aqui, neste novo Portugal, as contas são como são. Especiais e diferentes da economia verdadeira. Daquela que convém enaltecer politicamente

Porque será?

Porque temos sempre tantas perguntas por aqui? E porquê tanto barulho pela habitação? Todos querem vir viver para Lisboa ou Porto? Mesmo sem dinheiro para tal? Eu vivo nos arredores e demorei anos e anos para cá chegar. Porque paguei sempre tudo e o dinheiro não chegava para mais. Agora querem tudo, a paz, o pão, a habitação, a saúde como pedia a abrilada. Trabalhar é que está quieto!

Agora querem é mesmo o estado a pagar a habitação!

Para quem? É que pela amostra atual, há poucos portugueses a trabalhar e consequentemente sem meios para a pagar. A não ser que perguntem ao Tremal Naik de Sacavém como é que a coisa se faz. Doutra maneira e pelo que por aí corre, por pagarmos pouco a quem trabalha, já começou a debandada para a Europa destes “novos portugueses” que ninguém quer, por pouco trazerem de positivo a esta e a outras santas terras.

ISTO SOU EU A FALAR dos que agora chegaram e dos que por cá vivem aproveitando-se da brandura e irresponsabilidade das ditas autoridades.

Até um dia.

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