Prática semanal de 150 minutos de exercício baixa risco de cancro

A prática semanal de 150 minutos de exercício físico moderado reflete-se num risco mais baixo de desenvolver cancro em adulto, indicou hoje um investigador da Fundação Champalimaud, instituição que criou há dois anos um laboratório dedicado a esta área.

© D.R.

“Há toda uma evidência de como a atividade física é importante na prevenção e no tratamento do cancro. Hoje percebemos que as pessoas que trocaram uma hora de comportamento sedentário por uma hora de atividade moderada ou vigorosa [andar a um passo mais rápido, correr, dançar] têm, seis anos mais tarde, um risco de cerca de 15 a 20% mais baixo de desenvolver o primeiro cancro”, refere o fisiologista do exercício Pedro Saint-Maurice.

Em entrevista à agência Lusa, este especialista que, antes de integrar a equipa de investigação do Laboratório de Atividade Física e Qualidade de Vida que a Fundação Champalimaud criou há dois anos, trabalhava no Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos, fala dos benefícios do exercício físico na prevenção e no tratamento, um tema abordado na Conferência Moving Beyond que recentemente juntou em Portugal investigadores de todo o mundo.

“Claro que a prescrição está sempre dependente do tipo de diagnóstico, da terapêutica, e de vários fatores (…), mas, de forma geral, existem recomendações publicadas. Até porque, em pacientes que estão a passar por uma fase muito difícil, iniciar um programa de exercício físico também ajuda a ganhar confiança para o que vem a seguir”, sublinha.

Salvaguardando que percebe os temores de alguns pacientes e médicos, porque “apenas na última década se evoluiu” do “evitar o movimento e fazer bastante repouso” para a integração nos tratamentos de um programa de mobilidade, Pedro Saint-Maurice soma outros conselhos à recomendação dos 150 minutos de atividade física.

“A ciência mostra que os benefícios do exercício físico não se conseguem só com exercício estruturado, como ir ao ginásio ou vestir o fato de treino para andar ou correr uma hora consecutiva. Mas também não está em causa só atividade aeróbica. Sobre o trabalho de força, o trabalho de resistência muscular, as recomendações dizem que deve ser feito mais ou menos dois dias por semana”, sugeriu.

Pedro Saint-Maurice trabalha num laboratório onde médicos oncologistas partilham estudos com fisiologistas do exercício.

À Lusa contou que na Fundação Champalimaud tem sido feito um trabalho, não só ao nível do tratamento, mas também na área da epidemiologia.

Os pacientes passam pelo ginásio da fundação, onde decorre já um programa de investigação em cancro da mama.

“Acho que este é o caminho: integrar a ciência, integrar a clínica e integrar os profissionais de exercício físico”, resume.

Além de pacientes com cancro da mama, o laboratório e o ginásio da Fundação Champalimaud trabalham casos de cancro digestivo e próstata, entre outros.

Segundo o investigador, para pessoas em idade adulta já com diagnóstico não existem, em Portugal, orientações e dados sobre esta área.

O também presidente da Society for Diet and Activity Methods [em tradução livre, Sociedade Internacional para Métodos de Dieta e Atividade Física] aponta outras lacunas, como a falta de profissionais como fisiologistas nas instituições clínicas ou a falta de infraestruturas.

“Em Portugal não temos ‘guidelines’ de exercício físico durante o tratamento. Há cidades no Norte que têm feito trabalho nesta área, mas ainda não conseguimos arranjar uma forma unificada de traduzir isto em recomendações que possam ser implementadas nos nossos sistemas de saúde”, apontou, mostrando-se, no entanto, otimista.

Na conferência que decorreu em Lisboa, especialistas americanos apontaram como meta para os Estados Unidos que, até 2029, cerca de 40% a 50% dos pacientes após o diagnóstico de cancro juntem ao tratamento comum um programa de exercício físico.

“Neste momento, se calhar, eles têm 3% a fazer isso. É uma meta ambiciosa, mas só prova que se está a evoluir nesta área. Em Portugal, estamos a conhecer esta realidade e estamos numa fase muito inicial. Mas não é só aqui. Alguns países à nossa volta também têm o mesmo desafio. Tenho a certeza de que chegaremos lá”, disse.

Um estudo epidemiológico recente com cerca de 85 mil pessoas, liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, no qual Pedro Saint-Maurice participou mostrou que “adultos que acumulam 9.000 passos por dia parecem ter os melhores benefícios para reduzir o seu risco de cancro”.

Considerando que a contagem de passos é um método “objetivo muito fácil de monitorizar” graças aos telemóveis, relógios e aplicações, Pedro Saint-Maurice lembrou que “a atividade física pode ser espalhada ao longo do dia e não tem de ser consecutiva”.

“Basta pensar em estratégias (…), deslocar-se para o trabalho a pé, usar mais as escadas em vez do elevador, estacionar o carro mais longe da entrada dos edifícios”, sugeriu.

Atividades de jardinagem, atividades caseiras que podem envolver objetos mais pesados ou atividades da lida doméstica são outras sugestões.

Últimas do País

Os encarregados de educação realizaram mais de 60 mil inscrições de crianças para o pré-escolar e 1.º ano de escolaridade na primeira semana de funcionamento do Portal de Matrículas, segundo dados do Ministério da Educação.
Lares a pedir ajuda aos vizinhos para alimentarem os idosos, assistentes a gritar na rua para lhes abrirem portas e utentes a descer seis pisos pelas escadas foram alguns constrangimentos vividos pelas instituições durante o apagão de segunda-feira.
A Proteção Civil colocou os bombeiros em alerta às 20:00 de segunda-feira, quando algumas zonas do país já tinham luz elétrica e mais de oito horas depois do apagão, disse hoje o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LPB).
Portugal registou uma descida do número de casamentos em 2024, que totalizaram 36.633, observando-se uma quebra nas uniões entre pessoas de sexo oposto e um aumento nas celebrações entre casais do mesmo sexo, revelam dados do INE hoje divulgados.
André Ventura reagiu a estes números afirmando que o “problema maior é o das grávidas que vêm para Portugal para ter filhos” e defendeu que o partido pretende exigir que, para entrarem no país, estas mulheres tenham seguro de saúde.
Cerca de 84.650 bebés nasceram em Portugal em 2024, menos 1,2% do que no ano anterior, e um terço são filhos de mães de naturalidade estrangeira, revelam dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O operador de rede de distribuição de eletricidade E-Redes informou que até às 22:30 estavam ligadas parcialmente 276 subestações, alimentando cerca de quatro milhões de clientes, mas não consegue prever a reposição integral.
A Comissão Europeia disse hoje estar em contacto com as autoridades de Portugal e Espanha e com a rede europeia de operadores para compreender a causa e o impacto do corte maciço no abastecimento elétrico na Península Ibérica.
A PSP está a colocar um maior número de polícias nas ruas para auxiliar as pessoas, nomeadamente no trânsito, devido à falha de energia em Portugal continental.
Os sistemas telefónico e informático do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) estão a funcionar com recurso a geradores na sequência da falha de energia que hoje afetou várias zonas do país, disse à Lusa fonte oficial.