Portugal vive mais um verão marcado pela devastação dos incêndios florestais e pelos dramas humanos que se multiplicam entre a população. A situação repete-se há uma década, com anos de intensa destruição entre 2015 e meados de 2025.
De acordo com dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), citados pelos meios de comunicação social, o ano mais negro foi 2017, com mais de 215 mil hectares de área ardida — o equivalente a 301 mil campos de futebol —, o valor mais elevado da última década. Em 2024, registaram-se 136.424 hectares ardidos, o terceiro maior valor do mesmo período, segundo a RTP. Já até 15 de julho de 2025, arderam 10.768 hectares, uma redução face a anos anteriores, de acordo com a Euronews.
O relatório provisório do ICNF, com dados até 31 de julho e hoje divulgado pela agência Lusa, revela que um quarto dos incêndios rurais investigados este ano teve como origem fogo posto. Além disso, a área ardida até julho representa já o terceiro valor mais elevado desde 2015.
Atualmente, os incêndios consomem zonas de Vila Real e Viseu, onde operacionais combatem as chamas desde a madrugada, sem descanso. A escassez de meios humanos e materiais agrava a situação, deixando muitos em sentimento de impotência e desamparo perante a força do fogo. Entre a população, multiplicam-se testemunhos carregados de medo, angústia e revolta.
Jorge Almeida, responsável por uma área afetada em Águeda, descreveu à Rádio Renascença o cenário vivido como “uma catástrofe económica, mas sobretudo ambiental”. Segundo relatou, “desde a primeira hora percebíamos que estávamos perante uma bomba atómica difícil de conter”.
No que respeita a detenções por fogo posto, a Polícia Judiciária deteve, em 2025, 26 suspeitos — um aumento em relação ao mesmo período de 2024. Em anos anteriores, como em 2022, a GNR deteve 72 indivíduos, o número mais elevado dos últimos cinco anos. Somando as detenções da GNR e da PJ, foram contabilizadas 156 detenções nesse ano por crimes de incêndio florestal.
Segundo o relatório do ICNF, entre os incêndios investigados até 31 de julho, as causas mais frequentes foram as queimas e queimadas (32%), seguidas do “incendiarismo – imputáveis” (25%) e dos reacendimentos (8%). Dos 4.758 incêndios rurais registados até ao final de julho, 2.895 foram alvo de investigação, sendo que em 61% desses casos a averiguação das causas já está concluída.
No entanto, continua a não existir um relatório nacional consolidado que permita conhecer, entre 2015 e 2025, o total de condenações por incêndio florestal ou o número de penas de prisão efetiva aplicadas.
Porto lidera número de ocorrências. Viana do Castelo lidera área ardida
Até ao final de julho, Portugal registou 40 “grandes incêndios”, responsáveis por 27.150 hectares de área ardida. O maior deflagrou a 26 de julho, no concelho de Ponte da Barca (Viana do Castelo), tendo consumido 5.707 hectares de floresta. Seguiram-se os incêndios de Arouca (Aveiro), iniciado a 28 de julho, com 4.755 hectares ardidos, e o de Penamacor (Castelo Branco), com 2.904 hectares.
O distrito do Porto foi, até 31 de julho, o que registou maior número de incêndios (1.014), seguido de Braga (445) e Viana do Castelo (394). O ICNF ressalva, contudo, que a maioria destes incêndios foi de reduzida dimensão, não ultrapassando um hectare de área ardida.
Já no que toca à área afetada, o distrito mais atingido foi Viana do Castelo, com 7.293 hectares — cerca de 22% do total nacional —, seguido de Aveiro, com 5.790 hectares (17%), e Castelo Branco, com 3.193 hectares (10%).
O relatório hoje divulgado pelo ICNF não inclui ainda os incêndios registados nos primeiros dias de agosto.