O partido já apresentou queixa ao Ministério Público. Quando os deputados do CHEGA se juntaram à manifestação pelo direito à habitação, em Lisboa, foram recebidos com diversos insultos, ameaças de morte e agredidos com murros, pontapés e arremesso de líquidos, tendo estes episódios sido presenciados pela comunicação social no local.
Nas imagens consegue ver-se o deputado Rui Paulo Sousa a ser agredido com vários socos, enquanto os jornalistas questionavam a comitiva pelos motivos da sua presença naquela manifestação. “Estamos a ser agredidos em plena manifestação”, queixaram-se. “Estamos num país livre. Se acham que somos fascistas é um problema deles, nós somos democratas”, acrescentou Rui Paulo Sousa. Perante os incidentes, os deputados acabaram por ser escoltados pela polícia, que teve de formar um cordão de segurança para conseguir conter a fúria dos manifestantes de extrema-esquerda que, numa atitude antidemocrática, tentaram silenciar e expulsar a comitiva do CHEGA.
“Decidimos abandonar a manifestação a pedido das forças de segurança e respeitando o trabalho que estão a fazer, porque caso contrário não o faríamos”, justificou Filipe Melo. Filipe Melo disse aos jornalistas que os deputados do CHEGA se tinham juntado à manifestação por entenderem que “a habitação é um direito de todos, não é um direito da extrema-esquerda”. “Infelizmente, é esta a democracia que estas pessoas tanto apregoam? É que se é isto a democracia, então estamos na democracia errada. Todos têm o direito de se manifestar, seja de esquerda, seja de centro, seja de direita, nós compreendemos as reivindicações deles todos, associamo-nos a essas reivindicações, a essas manifestações, estamos solidários com elas. Agora, não podemos é compactuar com agressões e insultos”, afirmou.
A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, ao ser questionada sobre os incidentes com os deputados do CHEGA, considerou normal que tivessem sido mal recebidos pelos manifestantes, desvalorizando, dessa forma, os insultos e agressões de que foram alvo os deputados do partido de Ventura. “Parece-me só natural que um partido de extrema-direita que defende a especulação imobiliária e o negócio imobiliário não seja bem recebido numa manifestação pelo direito à habitação”, disse.
Perante estas declarações nenhum dos jornalistas presentes teve a coragem de questionar a líder do partido de extrema-esquerda acerca do antigo vereador do Bloco de Esquerda, Ricardo Robles que, recorde-se, pôs à venda por 5,7 milhões um prédio que comprou à Segurança Social em 2014 por 347 mil euros. O mesmo vereador que tanto criticava o “carrossel da especulação”. Já o líder do PCP, que esteve na manifestação em Lisboa, foi cáustico relativamente ao incidente. Sem querer “alimentar” o tema, disse isto: “Se as pessoas vieram cá com um propósito, infelizmente conseguiram-no e está feito”. Também o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, não foi capaz de expressar nenhuma palavra de repúdio perante tão graves acontecimentos, ainda que seja ele o representante máximo de todos os deputados. E não o fez no imediato, como não o fez na primeira sessão plenária que teve lugar após os acontecimentos (ver mais à frente).
Por sua vez, o Presidente da República desvalorizou o sucedido com os deputados do CHEGA, referindo que a democracia também é feita de “momentos atritivos”, que “as manifestações devem ocorrer de forma pacífica” e que “quem quiser juntar-se deve juntar-se”, mas que há vários “que não gostam do que pensam os outros”. Entretanto, o presidente do CHEGA anunciou a participação ao Ministério Público dos “crimes graves” de que os deputados foram alvo na manifestação de sábado, criticando o silêncio de Santos Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.
Em conferência de imprensa na sede do partido, André Ventura afirmou que aquilo que aconteceu em Lisboa na manifestação pela habitação foi que “deputados do CHEGA foram escoltados enquanto eram agredidos com murros e pontapés, empurrados, cuspidos”, tendo alguns deles sido “ameaçados de morte”. “Tudo isto está nas imagens captadas pelas televisões e que serão entregues às autoridades”, disse. Considerando que os incidentes de sábado configuram “um baixo nível de democracia interna e um regime de hostilidade permanente face a um partido e os seus representantes”, o líder do CHEGA recusou “respostas violentas à violência”. “Entregaremos uma participação ao Ministério Público não só pelo crime de coação contra órgãos constitucionais, previsto no Código Penal, como ainda as ofensas e as ameaças de morte a vários deputados, algumas delas filmadas e captadas em imagem”, referiu, considerando que “estes crimes são graves e alguns deles foram feitos à frente de todos”. Ventura criticou ainda o silêncio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, em relação a estes acontecimentos. “Uma última palavra para Augusto Santos Silva. Usou as suas redes sociais para criticar e condenar tudo e mais alguma coisa (…) Quando alguns deputados são agredidos e insultados – os seus deputados – fica em silêncio como o cobarde que é”, acusou. No plenário do parlamento de terça-feira, André Ventura interpelou a mesa da Assembleia da República, na abertura de sessão, para lamentar que Augusto Santos Silva não tenha tido “palavras de condenação” para as agressões aos elementos do CHEGA nas manifestações de sábado, sobre a habitação.
O Presidente da Assembleia da República falou em “ato de provocação” e o grupo parlamentar abandonou a bancada. “Aquele que nos devia representar a todos ficou em silêncio perante ataques de forças políticas extremistas sem respeito pelo pluralismo e pela representatividade democrática”, disse o líder do CHEGA.
André Ventura considerou que Santos Silva tinha a oportunidade de “emendar a mão” e “dizer ao país e ao parlamento que a violência nunca, em caso algum, é aceitável”.
“Se não conseguir fazer isto é porque o senhor presidente não é presidente de todos os deputados, é porque não é presidente de todos os membros deste parlamento”, afirmou.
“A violência é sempre condenável”, disse Santos Silva, acrescentando, contudo, ser necessário que nos abstenhamos de “atos de provocação”. “Devemos respeitar as manifestações cujos produtores, cujas motivações e cujos objetivos estão muito distantes dos nossos. Devemos saber respeitar porque essa é uma condição da convivência democrática: nem impedir os outros de se manifestar, nem nos imiscuirmos em protestos ou manifestações que, manifestamente, nada têm a ver connosco”, afirmou Santos Silva, levando a nova resposta de André Ventura que frisou que um dos deputados agredidos tem 73 anos.
“O senhor presidente já não é meu presidente, nem desta bancada. Não o reconheço como presidente da Assembleia da República e vou-me embora”, atirou André Ventura, acabando o grupo parlamentar por abandonar o plenário.
*Com Agência Lusa