Trump vai usar condenação como “pedra angular” da campanha, diz especialista

A condenação de Donald Trump por 34 crimes em Nova Iorque deverá ser “pedra angular” da sua campanha política usando estratégias clássicas de propaganda, disse à Lusa o professor Nelson Ribeiro, especialista em média e propaganda.

©facebook.com/DonaldTrump

“Esta condenação vai ser aproveitada pela campanha do Donald Trump como mais um argumento para pedir votos ao seu eleitorado”, afirmou o investigador que dirige a FCH-Católica. “Isso começou logo à saída do tribunal, com uma das estratégias mais clássicas de propaganda política que é a da vitimização”, indicou.

Nelson Ribeiro referiu que houve um trabalho de “pré-propaganda” feito na antecâmara da condenação, durante o qual o candidato republicano preparou os seus apoiantes para um desfecho negativo.

“Ele sempre construiu a narrativa de que este processo não era uma questão judicial nem que tenha feito nada de errado, mas uma perseguição política. Com este resultado, o que vai fazer é continuar a escalar essa narrativa”, previu.

A eficácia da estratégia já se nota nas primeiras pesquisas após o veredicto. A nova sondagem da Morning Consult indica que mais de metade dos eleitores aprovam a decisão dos jurados (54%), mas essa não é a realidade entre os que votam à direita.

Na base de eleitores republicanos, 74% desaprovam o veredicto, enquanto 8% não sabem e apenas 18% aprovam. São 67% os que não acreditam que Trump tenha cometido um crime – uma percentagem que é de apenas 5% entre democratas e 31% entre independentes.

“As pessoas mais fiéis e que acreditam em praticamente tudo o que o Donald Trump diga vão utilizar esta condenação como comprovativo de que esta perseguição de que ele se diz alvo é real”, salientou Nelson Ribeiro.

O investigador referiu que a campanha está alicerçada na ideia de que ele é uma vítima e de que está a lutar contra o sistema, representando o povo americano.

“É claramente uma das coisas mais óbvias do ponto de vista populista. É esta ideia de que existe um sistema e que nós, os desgraçados do povo, temos que lutar contra esse sistema”.

Há outras estratégias de propaganda usadas com eficácia: incutir o medo, identificando alguns culpados, e prometer o regresso a um passado glorioso.

“O Make America Great Again tem imensos ecos com aquilo que aconteceu na Europa, com a ideia de que a Alemanha poderia voltar a ser uma nação grande como tinha sido antes da I Guerra Mundial”, frisou Ribeiro. “O próprio Estado Novo também tinha a sua forma de se promover como voltando ao tempo grandioso dos Descobrimentos”.

O que tem permitido a Donald Trump amplificar a sua mensagem e combater os efeitos negativos que uma condenação teria noutra campanha é o ambiente das redes sociais: “as estratégias são clássicas, mas os meios que utilizam são muito sofisticados e muito modernos”.

O escrutínio dos jornalistas está agora a ser contornado no universo online, devido à formação de bolhas informativas e da ação dos algoritmos – dos quais ainda não sabemos bem como funcionam, como estão a ser programados e quem os financia.

“As pessoas entram aqui de facto numa bolha e o facto de lhes ser dito que algo é mentira parece que é um pouco irrelevante”, notou Nelson Ribeiro. Isso tem permitido a Trump desacreditar os seus problemas legais.

O professor sublinhou que não é preciso que as pessoas acreditem em coisas falsas, mas apenas introduzir a dúvida.

“Se calhar as pessoas não acreditam necessariamente em tudo o que Donald Trump diz, mas basta ficarem com a dúvida de que será que o sistema judicial americano está de facto corrompido e está de facto a ser controlado pelo Joe Biden”, afirmou, acrescentando que “isso pode levar, por exemplo, a que algumas pessoas deixem de votar”.

Nelson Ribeiro considerou que é difícil estar otimista por causa da velocidade a que se estão a desenvolver novas ferramentas capturadas para fins propagandistas, como Inteligência Artificial e ‘deep fakes’.

Ainda assim, disse ter esperança e acreditar “que há alguma resiliência em termos das sociedades democráticas”.

O investigador considerou que o jornalismo “tem um enorme papel” e deve reclamar a sua posição como reduto de credibilidade, ao mesmo tempo que devemos ser mais cautelosos no consumo de informação “que não procuramos mas que chega até nós”.

Últimas de Política Internacional

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu hoje "uma resposta forte" aos rebeldes iemenitas Hutis, que lançam regularmente mísseis e 'drones' contra Israel desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
As autoridades turcas detiveram hoje 234 pessoas suspeitas de pertencerem a redes de crime organizado, numa grande operação policial de âmbito internacional, foi hoje anunciado.
A União Europeia (UE) quer reforçar o controlo e a responsabilização do comércio internacional de armas, após os 27 terem aprovado hoje uma revisão do quadro sobre esta matéria, motivada pela entrega de armas à Ucrânia.
A Alta-Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiro defendeu hoje que é preciso a Rússia seja pressionada para aceitar as condições do cessar-fogo, recordando que a Ucrânia está a aguardar há um mês pela decisão de Moscovo.
O presidente em exercício do Equador, o milionário Daniel Noboa, foi declarado vencedor da segunda volta das eleições de domingo pela autoridade eleitoral do país, derrotando a rival de esquerda, Luisa González.
O Governo moçambicano admitiu hoje pagar três milhões de dólares (2,6 milhões de euros) à euroAtlantic, pela rescisão do contrato com a estatal Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), mas abaixo da indemnização exigida pela companhia portuguesa.
O presidente da Ucrânia pediu uma "resposta forte do mundo" ao ataque com mísseis balísticos na manhã de hoje contra a cidade de Soumy, no nordeste da Ucrânia, que terá causado mais de 20 mortos.
O líder venezuelano Nicolas Maduro vai visitar Moscovo no próximo mês para participar nas comemorações do Dia da Vitória sobre a Alemanha nazi, que se celebra tradicionalmente a 9 de maio, confirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Os países que apoiam a Ucrânia na defesa do território ocupado por tropas russas comprometeram-se hoje com mais 21.000 milhões de euros para apoiar o país, durante uma reunião do Grupo de Contacto.
As autoridades italianas transferiram hoje o primeiro grupo de imigrantes em situação irregular para os polémicos centros de deportação na Albânia, transformados em estruturas de repatriamento de requerentes de asilo já com ordem de expulsão de Itália.