A regra da História é que os fortes fazem o tempo; os pequenos seguem-no, adaptam-o, imitam-no, mas não o determinam. Para nós, houve somente uma excepção: os Descobrimentos, quando o pequeno reino peninsular que era Portugal se viu na estranha posição de inventar um mundo eurocêntrico e talassocrático que, com altos e baixos, durou quinhentos anos. Foi a razão da nossa glória: fomos a vanguarda, o centro inventor e fazedor de uma nova era; não fomos contra o vento nem, sequer, puxados por ele. O Portugal quinhentista foi ele mesmo o vento; por isso foi grande.
Desde então que nunca mais Portugal esteve na crista da onda. Incapazes da originalidade e da criação, passámos a chegar quase sempre tarde às coisas. Um mau conservadorismo, de complacência e atavismo, entranhou-se-nos nos ossos e na cabeça.
Começávamos a descoberta do Absolutismo à francesa quase um século após Richelieu; salivantes, alcançávamos o romantismo quando ele era já razão de tédio mortal para os alemães; matámos o nosso rei em 1908, cento e vinte anos após Luís XVI ter sido decepado na Place de la Concorde. Quisemos ser hiper-liberais, republicanos e jacobinos a apenas dez anos de um maremoto de reacções iliberais, comunistas e fascistas. Erguíamos bandeiras rubras e cantávamos os lemas de 1917 em pleno 1975, quando em Londres e Washington despontava, com Thatcher e Reagan, a ordem neoliberal. Até inventámos um partido mimetizador das teses liberais-friedmanianas, a IL, mas só em 2017 – quando a América, com Trump, conjurava um Zeitgeist decididamente pós-liberal, nacionalista e estatocêntrico. Sempre fora de horas, tornámo-nos um conviva tosco, incómodo e incomodado na mesa da civilização, como que um amigo que só se senta para jantar quando o garçon já serve os cálices de Porto e o queijo azul. Nada de bom veio disto.
Nas eleições deste Maio, Portugal poderá escolher entre o salto para o futuro e continuar a vegetar entre um sortido de velhos partidos reaccionários em rápida putrefacção. É certo, a onda conservadora-patriótica que atravessa o Ocidente não nasceu cá. Contudo, se não podemos ser a locomotiva dos acontecimentos, ainda não perdemos a possibilidade de estar entre as carruagens da frente. Com tudo em reformulação, o interesse de Portugal reside em estar ao lado das coisas novas: com a reafirmação do Estado nacional contra o espartilho globalista, na resistência à submersão migratória, na reconstrução de economias soberanas após décadas de fantasia livre-cambista. É isso ou ser deixado novamente para trás. E isso não podemos permitir-nos.