Contactada pela agência Lusa, a embaixada de Israel em Lisboa sustentou, numa resposta escrita, que a decisão do Governo português “transmite a mensagem de que, se assassinarem 1.200 judeus e massacrarem famílias, serão recompensados”.
“É esta a mensagem que o povo português quer enviar à nossa região? O próprio Hamas reconheceu que o reconhecimento é um dos ‘frutos’ do 07 de outubro’ [de 2023]. Também elogiou Portugal por esta iniciativa e prometeu repetir o massacre de ‘07 de outubro’ repetidas vezes”, escreveu o diplomata israelita.
“Esta declaração equivocada de Portugal prejudica qualquer perspetiva de paz e serve apenas para recompensar o terrorismo, dando um impulso desestabilizador àqueles que continuam a recorrer à violência como meio para soluções políticas”, sublinhou Rozenblat.
Mais a mais, para o chefe da missão diplomática israelita, a Autoridade Palestiniana, com sede em Ramallah, “não provou ser um órgão governamental eficaz ou responsável”.
“[A Autoridade Palestiniana] continua a glorificar o terrorismo, a promover o antissemitismo e incitar a violência fazendo uma política de ‘pagar para matar’ [pagando aos terroristas e suas famílias, em inglês, Pay for slay] e com uma doutrinação venenosa na educação. A maioria dos palestinianos na Judeia e Samaria [o nome israelita para a Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental] apoia o massacre de ‘07 de outubro’”, sustentou.
Além disso, acrescentou o diplomata israelita, Portugal apoiou os Acordos de Oslo de 1993 e 1995, pelo que o reconhecimento do Estado Palestiniano “vai agora contra os Acordos, que estipulavam que todas as decisões entre as duas partes seriam tomadas em negociações diretas”.
“Esse reconhecimento é uma recompensa para aqueles que sempre se recusaram a sentar à mesa de negociações”, afirmou Rozenblat, que lembrou que o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, listou um conjunto de condições, “não cumpridas” para o reconhecimento do Estado Palestiniano.
“Essas condições são a garantia da Autoridade Palestiniana de uma libertação segura dos reféns mantidos pelo Hamas e o desarmamento do grupo islâmico palestiniano no poder na Faixa de Gaza. A Autoridade Palestiniana deve realizar reformas internas com vista a prever eleições presidenciais e legislativas a médio prazo, além de reconhecer o Estado de Israel (como um Estado judeu). Essas condições ainda não foram cumpridas”, frisou o diplomata israelita.
E prosseguiu: “O momento deste reconhecimento, exatamente quase dois anos após o massacre de ‘07 de outubro’ e na véspera do Ano Novo Judaico, oferece ao Hamas e aos seus apoiantes um motivo de celebração, ao mesmo tempo que inflige dor às vítimas do terror e suas famílias”.
“Se Portugal realmente deseja promover a paz e a estabilidade no Médio Oriente, deve concentrar os seus esforços no confronto com o Hamas e, acima de tudo, em garantir a libertação dos 48 reféns que permanecem em cativeiro em Gaza”, concluiu Rozenblat.
Portugal, Reino Unido, Canadá e Austrália reconheceram no domingo formalmente o Estado da Palestina, num contexto de crescente pressão diplomática para avançar com uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano, marcado por décadas de impasse nas negociações de paz.
O reconhecimento aconteceu na véspera da Conferência para a Solução de Dois Estados (Israel e Palestina), marcada para hoje na sede da ONU, em Nova Iorque, na qual vários países vão igualmente oficializar o reconhecimento do Estado palestiniano.
No domingo, Israel rejeitou o reconhecimento e argumentou que é uma “enorme recompensa ao terrorismo”. Em palavras dirigidas aos líderes ocidentais, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, avisou que não haverá um Estado palestiniano.
Já o movimento islamita Hamas afirmou que o reconhecimento representa “uma vitória” para os direitos dos palestinianos.