Fernando Medina apanhado em esquema de corrupção

© Folha Nacional

O ministro das Finanças, Fernando Medina, é suspeito da prática de vários crimes, entre os quais corrupção, participação económica em negócio, financiamento proibido de partidos, prevaricação de titular de cargo político, tráfico de influências e abuso de poder.

A conclusão é do próprio Ministério Público, no âmbito do processo Tutti-Frutti, e foi tornada pública graças a uma investigação TVI/CNN. A primeira parte foi transmitida na terça-feira à noite, mas há ainda novas revelações a serem feitas em outros episódios da investigação.

Os crimes foram, alegadamente, cometidos por Fernando Medina quando era presidente da Câmara Municipal de Lisboa e as dezenas de escutas telefónicas a diversos membros do PSD e as centenas de e-mails apreendidos ao ora ministro das Finanças não deixam margem para dúvidas – tal como fotografias tiradas pelos inspetores da Polícia Judiciária durante vigilâncias efetuadas aos suspeitos.

Fernando Medina foi, segundo a investigação da Polícia Judiciária, o responsável por um acordo de regime entre PS e PSD em Lisboa cujo objetivo era o de colocar pessoas específicas em lugares para avenças e posições estratégicas em 2017, aquando das eleições autárquicas.

Este acordo foi firmado entre Medina, Sérgio Azevedo (PSD) e, espante-se, entre o agora ministro do Ambiente Duarte Cordeiro que, à época dos factos, era o braço direito de Fernando Medina na autarquia lisboeta.

De acordo com a TVI/CNN, para a magistrada do Ministério Público, que tem este caso a seu cargo, as escutas e emails mostram que houve “emissão de faturas falsas e acordos com responsáveis do PS para adjudicação de contratos públicos a empresas violando a transparência, integridade, zelo e boa gestão dos dinheiros públicos”.

O acordo de regime, entre PS e PSD, tinha como finalidade distribuir dezenas de avenças para trabalhos fictícios e negócios de milhões de euros celebrados com empresas de amigos através de ajustes diretos.

Porém, para que estes acordos estivessem seguros era necessário garantir que as juntas de freguesia da Estrela, Santo António e Areeiro fossem controladas pelo PSD.

É aqui que entram outros nomes sonantes dos aparelhos partidários do PS e PSD.

Sérgio Azevedo, à época deputado do PSD, ligou a Luís Newton (presidente da Junta de Freguesia da Estrela) dizendo: “Está combinado com o Medina eles (PS) apresentarem uns gajos merdosos para garantirmos as nossas juntas (PSD)”.

Nas escutas, Sérgio Azevedo é ouvido dizer ainda que se trata de um “acordo de governação com tachos por fora”.

Luís Newton diz a Sérgio Azevedo que o “Medina disse que na minha Estrela iam (PS) candidatar uma gaja do grupo de cidadãos” e Sérgio responde: “O Medina está a portar-se bem connosco”.

Sérgio Azevedo é escutado ainda dizer a um jornalista que o “PS ficou de apresentar candidatos fracos nas juntas que o PSD precisa” e o PSD vai também “apresentar candidatos fracos para o PS ganhar”.

“A gente vai tomar conta do país”, remata o então deputado do PSD.

 

O Belenenses e o Benfica

Sérgio Azevedo é também ‘apanhado’ a dizer que ficou a “dever favores ao Medina” pelos 200 mil euros que a Câmara Municipal de Lisboa deu ao Rugby do Belenenses para a construção de um campo.

A adjudicação da empreitada seria então entregue à empresa de Carlos Eduardo Reis – amigo de Sérgio Azevedo e atual deputado do PSD.

“É crime pedir ao Fernando Medina uma reunião sem receber nada em troca”, acrescenta Sérgio Azevedo.

O ora ministro das Finanças foi também apanhado pela Polícia Judiciária a facilitar a vida ao filho do então presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que havia pedido ajuda ao pai para “desbloquear” uma ilegal isenção de IMI.

Nos e-mails apreendidos pela PJ encontra-se um enviado pelo dirigente encarnado a pedir para Medina “desbloquear” uma isenção de IMI para um prédio de 10 apartamentos que pertencem a uma empresa cujos administradores são os seus dois filhos.

Nos e-mails apreendidos, a PJ dá nota de um enviado para Medina pelo seu chefe de gabinete, dando-lhe conta do estado do processo.

O agora ministro das Finanças está também na mira da Justiça por usar dinheiro camarário para pagar uma assessoria de comunicação cuja única função era preparar-lhe os comentários que fazia semanalmente na antena da TVI. De referir que Medina era comentador em nome próprio e não como autarca, logo terá usado dinheiro público para interesses privados.

Tanto Fernando Medina como Sérgio Azevedo negaram as acusações que constam dos documentos elaborados pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária.

Últimas de Política Nacional

O Presidente da República criticou hoje a demora do parlamento em eleger os conselheiros de Estado, frisando que já espera há seis meses, e disse ter convocado uma reunião do órgão consultivo porque a Ucrânia “é um tema fundamental”.
Candidato presidencial recorre da decisão que manda retirar cartazes com a frase “Os ciganos têm de cumprir a lei” e acusa os tribunais de impor uma ‘mordaça’ à liberdade de expressão em campanha eleitoral.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou o Conselho de Estado para 9 de janeiro para analisar a situação internacional e, em particular, na Ucrânia. A informação consta de uma nota divulgada esta terça-feira no site da Presidência da República.
Exigir que todos cumpram a lei passou a dar multa. O Tribunal Local Cível de Lisboa mandou retirar os cartazes de André Ventura e proibiu o candidato presidencial de repetir a mensagem, numa decisão que Ventura considera ser censura política.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou hoje os decretos da lei da nacionalidade, na sequência das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional, devolvendo-os à Assembleia da República.
O candidato presidencial Luís Marques Mendes divulgou hoje uma lista com os 22 clientes da sua empresa, na qual se encontram prestações de serviços em consultoria, comentários e participações em conferências, e que inclui a construtora de Famalicão Alberto Couto Alves.
A Autoridade Tributária classificou como “antiga” uma moradia reconstruída em 2024 pertencente ao ministro da Presidência, António Leitão Amaro, permitindo-lhe pagar menos de metade do IMI devido.
Luís Marques Mendes encerrou a sua empresa familiar e mantém silêncio sobre clientes, contactos e serviços que lhe renderam centenas de milhares de euros.
Foi distinguido oficialmente pelo Estado, elogiado em Diário da República pela ex-ministra da Justiça e apresentado como um quadro exemplar da governação. Meses depois, Paulo Abreu dos Santos está em prisão preventiva, suspeito de centenas de crimes de pornografia de menores e de abusos sexuais contra crianças.
O presidente da Assembleia da República decidiu hoje não remeter ao Ministério Público o caso da adulteração da assinatura da deputada socialista Eva Cruzeiro, considerando não atingir o patamar de crime, embora se trate de ato censurável.