O CHEGA questionou o primeiro-ministro sobre a sua presença na final da Liga Europa de futebol, concretamente porque não a colocou na agenda pública, quem suportou os custos da escala aérea e quando decidiu ir a Budapeste.
No passado dia 31 de maio, na sua viagem a caminho de Chisinau, na Moldova, para participar na II Cimeira da Comunidade Política Europeia, António Costa fez uma escala em Budapeste para assistir à final da Liga Europa, evento desportivo no qual participavam duas equipas não portuguesas: o Sevilha FC e a AS Roma.
Não estando esta paragem em Budapeste na agenda pública do chefe do governo português, e questionado numa primeira fase pela imprensa, o gabinete do primeiro-ministro remeteu-se ao silêncio, deixando no ar uma série de dúvidas sobre as reais motivações e intenções desta escala.
Entretanto, surgiram novos factos e declarações, com origem em diversas fontes, que adensaram ainda mais as dúvidas relacionadas com esta deslocação.
Desde logo, as declarações iniciais do Sr. Presidente da República revelam que a viagem de Costa teve uma motivação surpreendente, tendo em conta que está a usar meios do Estado. Afirmou Marcelo que “o primeiro-ministro ia para uma reunião internacional e entendeu que devia dar um abraço a José Mourinho. Ele disse-me: ‘olhe, é um português que está envolvido, eu vou dar-lhe um abraço, pode ser que dê sorte’. E quase ia dando sorte.”
Posteriormente, o Presidente da República disse que a paragem do primeiro-ministro na Hungria se deveu à necessidade de fazer uma “escala técnica” devido a uma eventual “falta de autonomia” do avião da Força Aérea. Assim sendo, afirmou o Presidente da República que o primeiro-ministro “aproveitou a escala técnica para ir ver o futebol”. “Acho que decidiu à última da hora”, disse.
Estas últimas afirmações também levantam algumas dúvidas, visto que os Falcon 50 da Força Aérea têm uma autonomia de 5.500 quilómetros sem necessitar de escalas técnicas e a distância que separa Lisboa de Chisinau, na Moldova, é de aproximadamente 3.200 quilómetros.
Por outro lado, o pedido do Governo para antecipar o debate parlamentar com o primeiro-ministro, que acabou por ter lugar no dia 24 de maio em vez de 31, dia da final da Liga Europa, vem levantar mais dúvidas sobre quais as reais motivações para essa antecipação.
Entretanto, na passada segunda-feira, dia 19 de junho, o gabinete do primeiro-ministro emitiu um comunicado onde é dito que “tendo concluído atempadamente os seus compromissos oficiais em Portugal e situando-se Budapeste na rota para Chisinau, o primeiro-ministro teve oportunidade de fazer uma escala nessa cidade, correspondendo ao convite que lhe tinha sido endereçado pelo presidente da UEFA para assistir ao jogo da final da Liga Europa”.
Segundo o mesmo comunicado, o “primeiro-ministro mereceu, por parte da UEFA, o tratamento protocolar adequado, tendo sido sentado ao lado do seu homólogo húngaro, com quem mantém, naturalmente, relações de trabalho”.
André Ventura não tem dúvidas sobre a imoralidade desta viagem de Costa à Hungria. “Querer estar com José Mourinho e apoiar um treinador português, um jogador português, uma equipa portuguesa é sempre louvável, mas António Costa não colocou na agenda pública que ali estaria, o que significa que, de alguma forma, um equipamento do Estado foi utilizado para finalidades que, não sendo secretas, foram mais privadas do que políticas ou públicas”, afirmou o Presidente do CHEGA, defendendo que “os equipamentos do Estado, suportados pelo erário público e pelo contribuinte, não devem ser utilizados desta forma”.
Em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, o líder do terceiro maior partido português considerou que o esclarecimento dado, de que António Costa tinha estado na final a convite da UEFA, “levanta mais problemas e outras questões”, desde logo o porquê de o primeiro-ministro ter tentado “ocultar dos portugueses e das instituições portuguesas esse convite”.
“Um primeiro-ministro que decide por sua iniciativa desviar o itinerário de uma viagem para assistir a uma final de futebol sem que conste num compromisso oficial do Estado português deve explicações”, defendeu.
De acordo com o líder do CHEGA, a preocupação do partido foi, através do parlamento, “questionar diretamente o gabinete do primeiro-ministro sobre esta viagem, as suas motivações e as suas condições”, reiterando que “sendo pública a sua notícia, o Ministério Público não precisa de queixa nem de denúncia para poder atuar”.
O CHEGA quer saber quando é que António Costa “decidiu que ia assistir à final da Liga Europa” e, se foi convidado pela UEFA e mereceu tratamento protocolar, “por que razão não estava na agenda pública”.
Foi ainda perguntado “quem suportou os custos desta escala e os custos a ela associados” e “se a antecipação do debate parlamentar que ocorreu a 24 de maio, em vez de 31, teve como motivo a participação do primeiro-ministro na final”.
“Se há uma dimensão que é de justiça, há uma que é da política e do escrutínio. O primeiro-ministro não pode nem deve usar bens do Estado ao seu bel-prazer, de forma totalmente discricionária, mesmo que tenha o consentimento do Presidente da República para o efeito”, defendeu.
Para o líder do CHEGA, “ou esta era uma viagem oficial e faz sentido que seja suportada pelo erário público ou esta foi uma viagem privada, para dar um abraço a José mourinho, para dar abraço aos jogadores de futebol, mas que devia ser paga pelo primeiro-ministro português e não pelos contribuintes”.
*Com Agência Lusa.