A China não quer uma guerra comercial com os Estados Unidos, mas vai retaliar contra quaisquer novas restrições impostas por Washington no acesso a tecnologia e no comércio, disse hoje o embaixador chinês, Xie Feng.
Numa intervenção durante o Fórum de Segurança realizado em Aspen, no Estado norte-americano do Colorado, o representante diplomático de Pequim em Washington criticou as restrições impostas pelos Estados Unidos da América (EUA), no ano passado, à venda para a China de ‘chips’ semicondutores e de equipamento utilizado no fabrico daqueles componentes, essenciais na produção de alta tecnologia.
Pequim descreveu a medida como parte de um esforço para “conter” a China.
“A China não foge da concorrência, mas a definição de concorrência do lado norte-americano não é justa”, disse Xie Feng.
“Os EUA estão a tentar vencer ao manter a China de fora da competição”, prosseguiu o diplomata, referindo-se às medidas adotadas para restringir as vendas de tecnologia norte-americana à gigante chinesa de telecomunicações Huawei, por alegados motivos de segurança.
“Isto é como restringir o concorrente a usar fatos de natação antigos numa competição de natação, enquanto o outro lado usa ‘speedos'”, descreveu.
No início do mês, a China impôs restrições à exportação de dois metais importantes usados em ‘chips’ de computador e células solares, decisão amplamente vista como uma medida de retaliação pelas restrições adotadas pelos EUA.
No início do ano, Pequim restringiu as vendas no país de produtos da Micron, a maior produtora de ‘chips’ de memória dos Estados Unidos.
“Definitivamente, não é a nossa expectativa entrar numa disputa ‘olho por olho'”, disse Xie.
“Não queremos uma guerra comercial, uma guerra tecnológica. Queremos dizer adeus à Cortina de Ferro, assim como à Cortina de Silicon”, apontou o diplomata, numa referência a Silicon Valley, região californiana onde estão situadas várias das empresas de tecnologia norte-americanas.
Os comentários de Xie Feng surgem numa altura em que Washington e Pequim estão a tentar impulsionar a relação bilateral, que atravessa o pior momento das últimas décadas, face a uma prolongada guerra comercial e diferendos em torno da soberania do Mar do Sul da China, do estatuto da ilha de Taiwan ou de questões de direitos humanos.
Como parte dos esforços para restabelecer os laços, três altos funcionários dos EUA visitaram Pequim nas últimas semanas.
John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, concluiu na quarta-feira as negociações com as autoridades chinesas sobre formas de combater as alterações climáticas e restaurar a cooperação de alto nível entre os dois países.
Kerry foi precedido, no início deste mês, pela secretária do Tesouro, Janet Yellen. No mês passado, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve também na China, numa visita focada na reabertura dos canais de comunicação entre os dois países e no retomar das negociações estagnadas entre os respetivos exércitos.
Xie disse que a China está “ansiosa” para ter um “relacionamento estável e saudável” com os EUA.
O embaixador chinês afirmou ainda que melhorias “concretas” imediatas podem incluir o aumento do número de voos de passageiros entre a China e os EUA – que foram fortemente reduzidos durante a pandemia de covid-19 — e a renovação do acordo de cooperação dos países nas áreas da ciência e tecnologia.
Sobre a questão da guerra em curso na Ucrânia, Xie reiterou os pontos defendidos pelas autoridades chinesas de que Pequim respeita a soberania e a integridade territorial dos países, mas também reconhece “preocupações de segurança legítimas e razoáveis”, numa referência à Rússia.
A China diz ser neutra no conflito, mas por diversas ocasiões tem mostrado apoio à Rússia, nomeadamente através da organização de frequentes visitas de Estado e de exercícios militares conjuntos com Moscovo.