No Relatório Anual de Segurança Interna referente a 2022, não obstante àquela que é a perceção diária de uma pessoa comum, é de fácil constatação o aumento da criminalidade geral em Portugal com uma percentagem de 14,1% sendo que dentro desta fez-se ainda registar uma subida da criminalidade violenta e grave em 14,4%. Face a estes dados é fundamental perceber quais são as diligências necessárias para travar o aumento exponencial da criminalidade e manter a segurança pela qual Portugal era, até um certo ponto, conhecido.
Para tal, importa não só entender em que circunstâncias acontecem estes crimes, mas também em que estado se encontram as nossas forças de segurança uma vez que, a curto prazo e tendo em conta a urgência de visar por um país seguro, este é o meio mais eficaz que temos à nossa disposição.
Apesar de os dados referentes aos meios humanos das nossas forças de segurança, nomeadamente GNR, PSP, PJ, SEF e PM, constantes no RASI de 2022 apresentarem um saldo positivo de 2,9%, esta não é a tendência que se tem observado nos últimos anos, pelo contrário, tem-se verificado um saldo negativo entre entradas e saídas de polícias das forças e serviços de segurança.
Tendo em conta estes dados e sabendo que uma das exigências para ingressar nestas instituições é a idade, é possível concluir dois factos: Em primeiro lugar que precisamos de jovens nas instituições de forças de segurança e em segundo lugar que os jovens não querem pertencer às mesmas ou aqueles que pertencem acabam por ter uma tendência para sair o que nos leva à existência de um antagonismo.
Com o objetivo de compreender quais são as dificuldades reais com que estas instituições se deparam no processo de recrutamento de novos agentes bem como na conservação daqueles já existentes, recorri ao testemunho real de um jovem polícia.
Quando questionado sobre as suas motivações para ingressar na polícia, refere que “A minha motivação diária é o facto de poder contribuir de forma direta para a segurança e bem-estar fundamentalmente do meu país, da minha família e da sociedade no seu geral com a certeza de que estou do lado certo”, mas acrescenta que “Apesar da paixão pelo que faço, ser polícia é colocar a sociedade como prioridade nas nossas vidas mesmo que isso signifique sacrificar a nossa família e o nosso bem-estar pessoal até mesmo colocando as nossas vidas em risco. Significa também saber lidar com a falta de reconhecimento acrescido do ódio que recebemos diariamente para no final do mês recebermos uma remuneração insuficiente” palavras estas que fazem todo o sentido uma vez testemunharmos estes episódios de ódio contra as nossas forças de segurança dia após dia e de os dados concluírem, também no RASI, que as agressões contra estes agentes são cada vez mais violentas.
Estas afirmações são aquelas que levam ao dilema constante dos nossos agentes, será que colocando o amor à profissão e a vontade de contribuir para um Portugal mais seguro e justo de um lado e as agressões pessoais que estes recebem diariamente,
sejam elas físicas ou não, juntamente com a falta de reconhecimento do outro lado da balança, o saldo é positivo? Nem sempre a resposta é positiva e no que toca à progressão de carreira, apesar deste agente afirmar que tem notado uma certa melhora afirma que “Tenho muitos colegas que procuram um negócio complementar e alguns até uma outra profissão porque a motivação de servir as pessoas e o país não nos coloca comida na mesa e provavelmente é o que acontecerá comigo”.
Por fim refere ainda que sente um maior respeito e reconhecimento por parte de portugueses mais velhos, o que é interessante pois a criminalidade juvenil cresceu cerca de 50,6% no último ano, o que demonstra mais uma vez o antagonismo existente entre Portugal precisar dos jovens para ocupar lugares de agentes de segurança e a falta dos mesmos.
Por vezes, tudo o que estes homens e mulheres precisam é de um “obrigado pelo vosso trabalho”!