Casamento PSD/CDS + PAN. Traição à Direita?

Os resultados das eleições da Madeira tiraram a maioria que PSD e CDS detinham no parlamento regional, obrigando o candidato do PSD, Miguel Albuquerque, a encetar negociações para conseguir formar governo, e trouxeram uma derrota pesada ao PS, que perdeu oito mandatos relativamente às anteriores eleições regionais.

© Folha Nacional

O líder do PSD, Luís Montenegro, visivelmente incomodado com o falhanço do objetivo da maioria absoluta, prontificou-se a afirmar que “coligações com o CHEGA nem na Madeira, nem no país, porque não precisamos”, atirando o seu partido para os braços do PAN e da IL, o que viria a ser confirmado pelo seu candidato.

Miguel Albuquerque, que clarificou durante a campanha que não governaria se os madeirenses não dessem a maioria à coligação PSD/CDS, deu nessa mesma noite o dito por não dito e começou desde logo a negociar um acordo de incidência parlamentar com o PAN, que rapidamente ficou fechado. Isto apesar das diferenças ideológicas e programáticas notórias entre PSD, CDS e PAN.

Por sua vez, o CHEGA conseguiu um resultado histórico, com a eleição de um grupo parlamentar de quatro deputados e uma percentagem na Madeira superior à que teve a nível nacional nas eleições legislativas do ano passado, aumentando 55,7% relativamente a este ato eleitoral.

Para o presidente do CHEGA, estas eleições demonstraram que o partido “tem agora um eleitorado fixo, que não se altera, não muda e é firme independentemente de todos constrangimentos e chantagens”.

“O CHEGA teve uma incrível votação, que nenhuma sondagem registou, e espero que uma vez na vida quem as faz, quem as produz, quem as divulga, retire também consequências e não peça aos políticos consequentemente que retirem consequências, quando eles não fazem o mesmo”, afirmou.

Entretanto a Iniciativa Liberal, que se tinha imediatamente colocado ao dispor do PSD para eventuais coligações, tendo o seu líder nacional referido que não seria pelo seu partido que a Madeira não teria uma solução de estabilidade governativa, recuou quando percebeu que a escolha de PSD e CDS tinha recaído no PAN, levando Rui Rocha a afirmar que estes partidos tinham seguido pelo caminho mais fácil.

Uma das vozes mais audíveis na denuncia do acordo de PSD e CDS com o PAN foi a da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), que usou palavras fortes para denunciar aquilo que ainda era uma possibilidade, mas que se veio a confirmar. Num comunicado enviado às redações referem que têm “reiterado por diversas vezes a sua oposição frontal a um partido que é inimigo da agricultura e do mundo rural, um partido que coloca ao mesmo nível pessoas e animais, que afirma que “os interesses humanos e animais devem ser igualmente tidos em consideração” e que coloca no mesmo plano ético a luta histórica da humanidade contra o esclavagismo, o racismo ou o sexismo com aquilo a que, ironicamente, chama de defesa dos animais.”

Para o presidente do CHEGA, este acordo de incidência parlamentar entre PSD, CDS-PP e PAN na Madeira é uma “traição profunda” à direita, considerando que “vale tudo” para permanecer no poder.

André Ventura considerou que este entendimento constitui “um dos números mais impensáveis no panorama político português em muitas décadas” e prova que “para o PSD vale tudo para manter o poder”.

“Faltava isto para percebermos quão degradado está o panorama da política nacional”, afirmou, acusando sociais-democratas e centristas de aceitarem “vender a alma ao diabo para se manterem no poder”.

Ventura criticou também o líder do PSD/Madeira e presidente do Governo Regional por não se ter demitido na sequência de falhar a maioria absoluta, como disse durante a campanha que iria fazer.

Lembrando o seu passado no PSD, acrescentou: “Este acordo fere-me como antigo militante do PSD e a muitos dirigentes, deputados e amigos que tenho no PSD. É uma traição à memória do PSD, à memória da direita”.

O presidente do CHEGA apontou que este “acordo forjado à última hora” com um partido que “nada tem que ver com ideias base do PSD e do CDS” é “uma benesse para o PS”.

André Ventura desafiou também os líderes do PSD e do CDS-PP a pronunciarem-se sobre este acordo, afirmando que “gostava de ouvir Luís Montenegro e Nuno Melo sobre esta brutal traição”.

“Não espantará ninguém se noutras eleições regionais, ou nas legislativas, o PSD entender que pode coligar-se com o PAN, o BE ou o PCP para um qualquer acordo que evite a governabilidade com o CHEGA”, defendeu.

CHEGA roubou maioria absoluta ao PSD

Com a subida abrupta de zero para quatro deputados, o CHEGA foi o partido que mais cresceu em número de votos e foi a terceira força em mais de metade dos concelhos da região. Subiu mais de 55% face à votação na Madeira nas legislativas de 2022 e roubou a maioria absoluta à coligação PSD-CDS, cumprindo assim os seus dois objetivos previamente anunciados.

Partido Socialista sofre derrota pesada

O PS perdeu 22 363 votos nas eleições de domingo, o que, comparativamente com 2019, representa uma descida de 43,6% e teve oito mandatos a menos. É o grande derrotado da noite.

*Com Agência Lusa

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