A propósito do 50º aniversário da Revolução dos Cravos, muito se tem falado sobre o 25 de novembro, o que tem levado a extrema-esquerda a espumar-se com a possibilidade de o celebrar.
Em abril de 1975, o país estava virado ainda mais à esquerda, especialmente depois do falhado 11 de março. Vasco Gonçalves não escondia a sua proximidade ao PCP e ao MFA e a sua preferência pelo adiamento das tão esperadas eleições (que se realizariam a 25 de abril desse ano). “Não podemos perder por via eleitoral aquilo que tanto tem custado a ganhar ao povo português”, disse o militar que foi primeiro-ministro quatro vezes durante o PREC.
Ora, pois não se tinha feito a Revolução para que Portugal fosse um país democrático com um governo e deputados democraticamente eleitos? Para o MFA e os seus apoiantes de extrema-esquerda a democracia era aquilo que eles definiam que deveria ser. E isso mesmo disse Costa Gomes: “Não queriam eleições, defendendo que a escolha do Presidente da República não fosse por sufrágio universal, mas por um conselho eleitoral, assim um pouco à semelhança do que Salazar havia feito com Américo Tomás”.
Os militares de esquerda e extrema-esquerda tinham medo de perder o poder que haviam conquistado com o 25 de Abril e, por isso, demonizavam as eleições, considerando que os portugueses não estavam ainda ‘democraticamente amadurecidos’ para decidir por eles próprios. Aliás, até as eleições autárquicas quiseram adiar, pois isso significaria que perderiam as suas posições de poder espalhadas localmente pelo país desde a Revolução.
Há uma frase de Spínola que resume muito bem o que queriam os militares de esquerda e extrema-esquerda: “Assistimos a uma nova tentativa dessas forças para adiarem a democratização final do país alegando a inexistência de bases democratizadas. Se tal argumentação houvesse vingado, o resultado teria sido que, de uma ditadura ante-25 de Abril autojustificada pela impreparação política do povo, passaríamos a outra ditadura pós-25 de Abril autojustificada com o mesmo argumento”.
Esta loucura só parou com o 25 de novembro. Por isso, sim: devemos celebrar o 25 de novembro, tal como defendemos o 25 de abril. Porquê? Porque Abril trouxe-nos a liberdade, mas foi Novembro que nos deu a democracia!