Médicos do Santa Maria queriam repensar prioridades nos tratamentos caros

Os médicos do Hospital Santa Maria que escreveram ao diretor clínico em outubro de 2019, quando o caso das gémeas luso-brasileiras foi analisado, defendiam que era preciso coragem para definir limites e repensar prioridades na atribuição de tratamentos caros.

© D.R

Na missiva, a que a Lusa teve acesso, os médicos do departamento de Neuropediatria do Santa Maria, em Lisboa, nunca abordaram diretamente o caso destas duas crianças nem se estas cumpriam ou não os critérios clínicos para receberem o tratamento para a atrofia muscular espinal que na altura custava dois milhões de euros por doente.

Lembrando que as escolhas nunca são fáceis, mas que é fundamental medir o seu impacto, lembram as dificuldades económicas com que Portugal tem sido fustigado nos últimos anos, que obrigaram a controlar os gastos públicos, e os esforços do pessoal de saúde para que o Serviço Nacional de Saúde respondesse aos cidadãos.

Nesse sentido, recordam que diariamente vêm ilegalmente a Portugal pessoas cujo único propósito é receber cuidados de saúde gratuitos, sublinhando que se estão a referir não a migrantes a aguardar legalização, mas a pessoas com vida estável nos países onde vivem e que viajam apenas para investigação diagnóstica e tratamento, por reconhecerem a qualidade dos serviços prestados e que ninguém é excluído do sistema.

Dão igualmente como exemplo o nascimento de crianças de países terceiros que, após o parto, rastreios e vacinas, regressam aos países de origem.

A este respeito, o jornal Expresso divulgou há um ano notícias sobre a procura do SNS por cidadãos estrangeiros que vinham a Portugal apenas para receber vacinas e tratamentos, adiantando que a PJ estava a investigar “alguns casos suspeitos de grávidas estrangeiras que vieram ter o filho a Portugal”.

Na carta endereçada ao diretor clínico da altura, os neuropediatras do Santa Maria lembram o esforço coletivo da sociedade portuguesa para oferecer gratuitamente cuidados de saúde e dão como exemplo o tratamento dos doentes do atrofia muscular espinal (como era o caso das gémeas).

Apontam a cobertura mediática destes casos e referem que vários cidadãos portugueses a viver noutros países, seguidos nos serviços locais de neuropediatria e em tratamento com o único medicamento aprovado na altura pela Agência Europeia do Medicamento pretendiam vir a Portugal apenas para fazer o tratamento que ainda não era suportado nos países de acolhimento.

Na carta, os especialistas frisam que sendo Portugal um país com recursos limitados, reconhecem que as escolhas nunca são fáceis de fazer, mas dizem ser essencial medir o seu impacto, escrevendo igualmente que iriam submeter um parecer à comissão de ética do hospital relativamente ao conflito entre o investimento necessário a estes tratamentos face às restrições a que muitos doentes são submetidos.

A Lusa contactou hoje a comissão de ética do hospital pedindo acesso a este parecer, mas não obteve resposta até ao momento.

O caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, – um dos mais caros do mundo – para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.

Segundo a TVI, havia suspeitas de que isso tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.

O caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e é também objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.

Últimas do País

O Instituto Nacional de Emergência Médica registou este ano 28 intoxicações por monóxido de carbono, mais 10 do que em todo o ano de 2024, e alertou, esta quinta-feira, para os riscos de braseiras, esquentadores e fogões em locais com pouca ventilação.
A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e 11 meses em 2027, um aumento de dois meses face ao valor estabelecido para 2026, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.
O número de pedidos para indemnizações por abusos sexuais na Igreja Católica aumentou para 93, disse hoje a coordenadora do Grupo VITA.
O Estado está a ser ultrapassado dentro da sua própria casa: cerca de 300 fogos públicos foram tomados ilegalmente e o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) admite não ter mãos a medir. Lisboa lidera o caos, os despejos duplicam e a vigilância é impossível num património espalhado por 493 bairros.
O presidente da associação de médicos tarefeiros, que hoje se reuniu com o Ministério da Saúde, prevê entregar à tutela até ao final do ano as suas propostas para disciplinar a prestação de serviços nos hospitais públicos.
A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) avalia os quase dois anos de expansão das Unidades Locais de Saúde (ULS) como “acidentados” num país onde as assimetrias criaram integração de cuidados “muito diferente nos vários locais”.
Elementos do Departamento de Investigação Criminal (DIC) da PSP do Porto terminaram ao início desta manhã de realizar buscas a “várias residências dos Super Dragões no distrito do Porto, avançou fonte da PSP do Porto.
A Polícia Judiciária está a realizar hoje buscas na Câmara Municipal de Coruche, no distrito de Santarém, confirmou à Lusa a força de segurança, sem revelar mais pormenores sobre a operação.
No último dia de votações na especialidade do Orçamento do Estado para 2026, a proposta do CHEGA foi aprovada com votos a favor do PSD e CDS-PP, votos contra de PS, PCP, BE, Livre e PAN e abstenção da IL.
O parlamento aprovou hoje duas propostas de alteração do CHEGA sobre a construção de autoestradas, em Coimbra e Castelo Branco, bem como uma iniciativa para o lançamento da obra do IC6 em Seia.