Instabilidade eleitoral na RDCongo “previsível” e pode ter implicações para Angola

O especialista angolano em relações internacionais Osvaldo Mboco considera que a instabilidade pré-eleitoral na República Democrática do Congo (RDCongo) “era previsível” e que a situação pode ter implicações para Angola em caso de crise política.

© D.R.

“A instabilidade eleitoral que se regista na RDCongo era previsível devido aos vários sinais de incapacidade, por um lado, e insuficiência da Comissão Eleitoral Nacional Independente(CENI) em dar tratamento a uma série de questões que são determinantes para a lisura do processo eleitoral”, por outro, afirmou o analista em declarações à Lusa.

Para fundamentar os seus argumentos, Osvaldo Mboco referiu que o processo de cadastramento de eleitores naquele país africano não obedeceu ao princípio e ao critério da territorialidade nacional.

“Ou seja, não se fez o cadastramento em todo o território nacional, tendo em atenção que ainda existem localidades controladas por grupos rebeldes e que a CENI ficou impedida de o fazer”, salientou.

Pelo menos 22 candidatos, incluindo o atual Presidente cessante, Félix Tshisekedi, concorrem às eleições presidenciais marcadas para a próxima quarta-feira, 20 de dezembro, na mesma data em que devem decorrer igualmente as eleições legislativas, provinciais e municipais.

Para Osvaldo Mboco, o elevado número de candidatos às presidenciais na RDCongo, “que via de regra criam dispersão de votos”, bem como a presença de cidadãos mortos no ficheiro informático dos cidadãos eleitores, são fatores que levantam o “fantasma da fraude”.

“Não foram expurgados do ficheiro os cidadãos já falecidos e isto levanta sempre uma perspetiva do fantasma da fraude eleitoral e também os pequenos incidentes que foram decorrendo dos partidos políticos que não tiveram acesso aos cadernos eleitorais”, apontou.

“São todos elementos que criam sempre uma nuvem cinzenta do processo eleitoral, daí que os processos eleitorais em África são sempre caracterizados como difíceis, são sempre caracterizados por incertezas”, acrescentou.

Mboco observou, por outro lado, que tudo o que acontece na RDCongo interessa a Angola, sobretudo pela aproximação geográfica dos Estados, que partilham uma extensa fronteira terrestre de mais de 2.500 quilómetros.

Entende mesmo que toda e qualquer alteração securitária e política que decorre na RDCongo “acaba por ter implicações para o Estado angolano”.

Se existir uma crise pós-eleitoral na RDCongo e esta crise “se transformar em crise política e resvalar para uma crise militar”, sinalizou, Angola poderá ver-se a braços com uma vaga de refugiados.

“E Angola é obrigada a aceitar estes prováveis refugiados, fruto desta crise militar que pode ser decorrente do processo eleitoral, então há este perigo para o Estado angolano”, rematou o também docente universitário.

Félix Tshisekedi, Moisés Katumbi, Martin Fayulu, Denis Mukwege, Delly Sesenga e Adolphe Muzito são os principais nomes da campanha eleitoral na RDCongo, cuja instabilidade continua patente na região leste com ações desenvolvidas pelo Movimento 23 de Março (M23).

A ONU expressou, recentemente, preocupação com o risco acrescido de “confronto militar direto” entre a RDCongo e o Ruanda, num momento em que Kinshasa pede uma retirada das forças de manutenção de paz.

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, a chefe da missão das Nações Unidas na RDCongo, Bintou Keita, destacou a insegurança “contínua e crescente” no leste, especialmente relacionada com a nova crise do M23, uma das milícias mais importantes do Kivu Norte, mas também o surgimento de novos focos de insegurança noutras partes do país, nomeadamente na região do Grande Catanga, assim como nas províncias de Mai-Ndombe e Tshopo.

Últimas do Mundo

A liberdade na Internet em Angola e no Brasil continuou sob pressão devido a restrições legais, à repressão à liberdade de expressão e a campanhas para manipular narrativas políticas, segundo um estudo publicado hoje.
Os Estados Unidos adiaram hoje, pela segunda vez, o lançamento de dois satélites que vão estudar a interação entre o vento solar e o campo magnético de Marte, proporcionando informação crucial para futuras viagens tripuladas ao planeta.
Após os ataques em Magdeburgo e Berlim, os icónicos mercados de Natal alemães estão sob alerta máximo. O governo impôs medidas antiterrorismo rigorosas e custos milionários, deixando cidades e organizadores em colapso financeiro.
Um relatório do Ministério do Interior alemão revela que suspeitos sírios estão associados a mais de 135 mil crimes em menos de uma década. A AfD aponta o dedo ao governo de Olaf Scholz e exige deportações imediatas.
O aumento da temperatura global vai ultrapassar o objetivo de 1,5 graus centígrados no máximo numa década em todos os cenários contemplados pela Agência Internacional de Energia (AIE), relatório anual de perspetivas energéticas globais, hoje publicado.
A Ryanair deve abster-se de impedir o embarque de passageiros, com reserva confirmada, que não sejam portadores do cartão digital, bem como de impor taxas pela utilização do cartão físico, determinou a ANAC - Autoridade Nacional de Aviação Civil.
O Governo ucraniano afastou hoje o ministro da Justiça, depois de este ter sido implicado num alegado esquema de cobrança de comissões na empresa nacional de energia atómica, revelado na segunda-feira pela agência anticorrupção do país.
Pelo menos 27 pessoas morreram e 3,6 milhões foram afetadas pela passagem do supertufão Fung-wong nas Filipinas no domingo, informaram hoje as autoridades locais.
As autoridades espanholas intercetaram 18 migrantes em Pilar de la Mola, que tinham alcançado Formentera, ilhas Baleares, na terça-feira à noite a bordo de uma embarcação precária.
A produção mundial de vinho recuperou ligeiramente em 2025 face ao ano passado, mas segue em baixa, principalmente devido ao impacto das condições climáticas adversas, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV).