Na ocasião em que se completa o primeiro ano da partida física do último Papa Emérito da Igreja Católica, Bento XVI, evoco este saudoso Santo Padre, pelo seu testemunho e ensinamentos, que contribuíram de forma crítica para estruturar a minha formação religiosa, moral e política.
Nasci em 1989, meia dúzia de meses antes da queda do Muro de Berlim, e fui deste modo e até ver, contemporâneo de três papas: João Paulo II, Bento XVI, Francisco.
Ao contrário dos marianos São João Paulo II – ídolo de massas, grande comunicador poliglota e baluarte do anticomunismo no final da Guerra Fria, e Papa Francisco – um Papa Superstar, cool, ligeiro, bonacheirão, produto acabado da sociedade mediática moderna, o Papa Bento XVI foi de alguma maneira um pontífice que apesar de afável, era tímido e reservado, emanando uma certa austeridade e distância dos comuns mortais.
Joseph Ratzinger como representante de Jesus Cristo na Terra e guia espiritual de todos os fiéis católicos não teria o tal “horror às multidões”, mas era sobretudo um contemplador, um estudioso, um Intelectual, pêndulo da luta contra os males da modernidade: o individualismo, o relativismo moral. Não foi por isso nunca um grande agregador, pois nunca foi um exímio pregador, daqueles que numa torrente magnetizam chusmas e montanhas. Não foi popular, tampouco popularucho.
Todavia, e quiçá por eu próprio não tender a encarnar normalmente o “espírito do tempo”, sempre considerei Bento XVI um grande Sumo Pontífice, o mais importante dos três Bispos de Roma meus coetâneos. Um enorme filósofo, sólido teólogo. Na linha de São Tomás de Aquino, acreditava na subsistência de uma “harmonia natural entre fé cristã e razão”. Foi também, mesmo que de forma indirecta, mentor da orientação e modelação de um pensamento político mais estável, mais tradicional.
“Nós estamos caminhando para uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e tem como valor máximo o ego e os desejos individuais. A Igreja precisa de se opor às “marés de modismos e das últimas novidades. Precisamos de nos tornar maduros nessa fé adulta, precisamos de guiar o rebanho de Cristo para essa fé.”
Cardeal Ratzinger, 18 de Abril de 2005 (durante uma missa na Basílica de São Pedro, pouco antes do início do conclave e um dia antes de ser eleito)
Ao longo do seu pontificado e ao invés do comummente propalado pelo laicismo vil e demolidor dos meios de comunicação e restante “Intelligentsia” ocidental, Ratzinger criticou e combateu com ardor, os vícios e imperfeições internas da Igreja de Pedro.
Mas mais do que moralizador, doutrinador ou inspirador, Bento XVI foi o Papa da minha adolescência, universidade, início da idade adulta. Foi a Sua Santidade que recebi no Porto em 2010, numa Avenida dos Aliados a transbordar – a única vez que avistei um papa. Foi o Pontífice Romano da canonização do nosso Condestável, agora São Nuno de Santa Maria, em 2009.
Bento XVI foi definitivamente o Papa da minha juventude. E ainda bem.