“Direita radical na Europa vai ganhar novo alento”

O presidente da Jerónimo Martins afirma, em entrevista à Lusa, que a aposta do grupo na Europa Central "tem sido um ato de coragem" e prevê que a direita radical no espaço europeu ganhe "novo alento".

© D.R.

 

Questionado sobre o impacto das guerras, nomeadamente da Ucrânia, Pedro Soares dos Santos diz que, em termos de negócio, “acreditar na Europa Central, que tem esta fronteira com a Rússia, tem sido um ato de coragem”.

“O facto de continuarmos a acreditar que quer a União Europeia, quer a NATO, são estruturas fortes e que se vão manter para futuro (…) permite-nos olhar com alguma esperança para estes investimentos”, admite o gestor.

Agora, “em termos geopolíticos, isto é muito mais complicado porque a guerra não fica na logística, (…) fica no meio das sociedades e divide (…)aqueles que concordam e não concordam e estas divisões são sempre fraturantes no tempo”, lamenta.

No caso do conflito da Rússia-Ucrânia, considera que este resulta de “uma solução mal resolvida” entre ambos, com o fim da União Soviética e na forma como Estaline dividiu o país após a II Guerra Mundial. Já sobre o conflito no Médio Oriente, duvida que algum dia a crise venha a ser resolvida.

“Acho que o conflito do Médio Oriente não tem solução, se já não tinha há 2.000 anos, também não vai ter agora, por muito” que se “pense que as sociedades evoluíram, há raízes que não mudam e essa é uma delas”, até porque “vamos ter sempre pequenos conflitos no mundo, não acredito numa guerra mundial, mas acredito em muitos conflitos em muitos sítios”, prossegue.

Por outro lado, também considera que a Europa vai atravessar momentos complexos, com as eleições europeias e uma direita radical “que vai ganhar novo alento”.

Por exemplo, os sinais com a Rússia “estavam lá há muitos anos”, mas a Europa “mais uma vez cometeu um erro e subestimou” quer na Defesa como na Energia “de uma forma muito preocupante” o impacto disso.

“Permitiu que o adversário se sentisse com força para dar esse passo. Porquê? Porque nos esquecemos às vezes, um bocadinho, de ler a história”, aponta, acrescentando que outro ponto importante é que as pessoas devem perceber que o desequilíbrio que existe dentro das sociedades “muitas vezes leva os líderes a encontrar os seus inimigos fora e não dentro”.

E, em vez de se resolverem os problemas internos, “criam inimigos e isso é muito preocupante”, pois os desequilíbrios trazem insegurança, o que faz com que as pessoas tendam a “encostar-se a líderes fortes, o que não quer dizer que seja o melhor” ou que “seja bom para a sociedade como um todo”.

Pedro Soares dos Santos espera que o “bom senso se mantenha” e que não aconteça uma guerra nuclear.

Relativamente à União Europeia, considera que esta está “a aprender a lidar com a Europa Central, com os líderes da Europa Central”, que querem ter voz, tal como os países mais antigos do espaço europeu.

“Acho que existe um aqui [uma] Europa com duas visões do mundo e é isso que eu acho que neste momento está em confronto”, pois “não podemos esquecer que temos uma história de democracia na Europa do Sul que não tem o Leste, e o mesmo na educação”, aponta.

“Há aqui um confronto geracional” entre como “integrar ainda mais europeus” a leste, que pensam diferente dos do sul e tem objetivos diferentes.

Depois, vive-se num mundo “de pouca tolerância para o debate: ou pensas como eu ou és meu inimigo. Aqueles grandes líderes que estávamos habituados a ver a debater, a não ter medo ter ideias, hoje já não existe”, aponta.

Esta falta de tolerância para o debate “está a radicalizar uma Europa e, num continente que está a envelhecer, as pessoas com mais idade começam a premiar a segurança física e têm mais medos. E o que é que fazem os partidos? Incutem mais medo”, o que “não é bom para ninguém, porque não traz soluções e abre caminho ao radicalismo”, lamenta.

“Vejo que a direita radical na Europa vai ganhar um novo alento” e “que o Parlamento Europeu vai ter muito mais dificuldades em lidar com os assuntos e, como não há líderes fortes na Europa (…), temo que vamos ter que passar por um período” de uma “grande paralisação”, diz.

E com a falta de tolerância do diálogo “vamos perder muito caminho para a China e para os EUA, que já perdemos e muito”.

Além disso, houve “políticas erradas” da parte da Europa, com a falta de investimento na Defesa, em que “estamos dependentes de quem vai ser o futuro Presidente dos EUA para saber se vivemos em segurança”, e “entregámos a energia (…) aos russos”, num “‘trade off’ entre a energia barata ou o investimento para o futuro”, elenca.

Destaca ainda a sustentabilidade e a independência alimentar da Europa: “Nós não a podemos perder”, adverte.

Critica as políticas de sustentabilidade “radicalizadas” que a Europa está a assumir considerando que é “mais importante” fazer uma “revolução” do que uma evolução.

“No dia em que perdermos a capacidade de nos autoalimentar, quem tiver essa força para nos alimentar é quem vai mandar em nós” e “eu espero que as pessoas percebam que” estas são áreas “fundamentais” para o futuro da União Europeia, sublinha.

“Vivemos esse risco e os primeiras pessoas que estão a mostrar que esse risco é grande são os agricultores” que estão a perceber que os seus produtos “vão ficar fora do mercado”, alerta.

Pedro Soares dos Santos defende que é preciso fazer “evolução no tempo” e, “ao mesmo tempo, ajudar os países para os quais participam ativamente nesta questão alimentar e nesta segurança alimentar também a mudarem”.

“E aceitar que temos que partilhar parte da nossa riqueza com eles para que esta evolução aconteça nos dois campos ao mesmo tempo, não é um campo mudar e o outro não faz nada”, insiste.

Exemplifica com a questão do Egito e da laranja: “Veja o que é que vai acontecer em Espanha à laranja: vai desaparecer para o Egito”. Mas, do Egito “vai utilizar que água? Que meio ambiental é que vai ter? Que trabalho infantil é que vai ter nisto tudo? Não há ninguém a controlar. E a União Europeia, em vez de controlar, quer que sejam as companhias a controlar, mas isso é incontrolável pela nossa parte, nós não temos autoridade para chegar lá e mandar”, remata.

Últimas do País

O médico Miguel Alpalhão, que recebeu mais de 700 mil euros em três anos de cirurgias adicionais no Hospital de Santa Maria (Lisboa), foi suspenso de funções com perda total de vencimento.
Os maiores aumentos registaram-se entre mulheres asiáticas, sobretudo oriundas do Bangladesh, que ocupou o segundo lugar no número de episódios nos dois anos analisados.
Um bebé de apenas um ano deixou de respirar nos braços do pai, em Loures, mas a tragédia foi evitada por um agente da PSP que, em poucos segundos, conseguiu reanimá-lo.
O Governo decidiu que a solução para os problemas da saúde não passa por mais médicos, mais recursos ou menos burocracia, passa por criar um novo cargo. As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) vão ganhar vice-presidentes especializados em Saúde, num movimento que promete revolucionar tudo… exceto o que realmente precisa de ser revolucionado.
O mês passado foi o segundo outubro mais quente em Portugal continental desde 1931, tendo sido muito quente e seco, segundo o mais recente boletim climatológico mensal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) hoje divulgado.
A GNR registou até 31 de outubro 2.856 casos de burla informática através de utilização de aplicações para transferência imediata de dinheiro, informou hoje a Guarda numa nota para assinalar a operação “Comércio Seguro 2025”.
Uma das mais urgentes prioridades para o CHEGA na Câmara Municipal do Porto é pressionar o Executivo de Pedro Duarte a tomar decisões sobre o MetroBus na Avenida da Boavista.
O Conselho das Finanças Públicas confirma o pior cenário: o Serviço Nacional de Saúde afundou as contas públicas em 2024, absorvendo 93% de todos os prejuízos das empresas do Estado.
Portugal está a gastar mais de 40 milhões de euros por ano com reclusos estrangeiros, as prisões estão sobrelotadas, as agressões a guardas aumentam e o sistema aproxima-se do limite.
O Instituto Nacional de Emergência Médica registou este ano 28 intoxicações por monóxido de carbono, mais 10 do que em todo o ano de 2024, e alertou, esta quinta-feira, para os riscos de braseiras, esquentadores e fogões em locais com pouca ventilação.