“O cenário político português, pós-eleições de 10 de Março, tem sido marcado por uma série de movimentações e disputas políticas em torno das alianças e desacordos. Contudo, no meio de toda essa turbulência, emerge uma necessidade premente e vital: a formação de um governo estável capaz de garantir as condições para um mandato completo, sendo que as divergências ideológicas e os interesses partidários têm sido obstáculos significativos para a criação de um governo que possa oferecer estabilidade e continuidade ao país.
A recusa do líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, em formar uma aliança com o CHEGA, é emblemática desse impasse. Enquanto alguns “clientes do sistema” aplaudem o seu compromisso com as promessas feitas durante a campanha eleitoral (não, é não), outros questionam se essa postura é verdadeiramente benéfica para o país, tendo em vista a urgente necessidade de estabilidade governamental para se proceder às reformas há muito suplicadas pelo país.
Para compreender melhor essa questão, é fundamental recorrer aos ensinamentos de Max Weber. A dicotomia apresentada por Weber entre a ‘Ética da responsabilidade’ e a ‘Ética da convicção’ oferece uma perspectiva esclarecedora sobre esta matéria. Enquanto a primeira destaca a obrigação dos políticos de considerar as consequências práticas de suas ações para o bem comum, a segunda enfatiza a fidelidade aos princípios e convicções pessoais, independentemente das consequências.
Weber argumenta que os líderes políticos não devem apenas ater-se às suas convicções pessoais ou ideológicas, mas devem primordialmente considerar as consequências práticas de suas ações. Para ele, a política envolve a tomada de decisões ponderadas, que levem em conta não os princípios morais pessoais, mas sim os princípios morais coletivos e os seus impactos reais sobre a sociedade e o bem comum.
As promessas desempenham um papel central na política, assim como na vida cotidiana, desde compromissos pessoais até obrigações profissionais. No entanto, na esfera política, essas promessas assumem uma dimensão coletiva, afetando não apenas os indivíduos diretamente envolvidos, mas toda a sociedade. Nesse contexto, a recusa de Montenegro em criar pontos de entendimento com o CHEGA, deve ser interpretada como uma clara falta de ética de responsabilidade, pois prioriza claramente as suas promessas pessoais e partidárias, em detrimento da estabilidade governamental e do interesse do país.
A formação de um governo estável para um mandato completo de quatro anos torna-se, portanto, uma questão não apenas de princípios éticos, mas também de pragmatismo político. Após oito anos de (des)governo socialista, é crucial para Portugal poder contar com um governo capaz de garantir a estabilidade política e econômica necessárias, promovendo dessa forma o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável do país.
A imposição de barreiras por parte de Montenegro ao partido CHEGA, ao recusar um acordo que poderia contribuir para a formação de um governo estável, revela-se um equívoco estratégico. Na política, enfrentamos frequentemente armadilhas criadas pelos próprios interesses partidários, que nos impedem de alcançar os verdadeiros objetivos coletivos. Neste caso, o PSD tem duas opções: ou reconhece a necessidade de superar essas barreiras em prol da estabilidade do país, ou fica irremediavelmente preso na armadilha, das linhas vermelhas, por si criada, contribuindo dessa forma para o perpetuar da instabilidade política, desconsiderando a vontade de uma parte significativa da população portuguesa ( 1 . 169.469 votos) e comprometendo irremediavelmente o futuro de Portugal nos próximos anos.