A casa que era santa

© Folha Nacional

A Santa Casa da Misericórdia tem mais de cinco séculos de existência e tem como missão apoiar os desfavorecidos e defender uma sociedade mais solidária. Pois! Diria a irmã do inigualável Raul Solnado que gostava muito de dizer “coisas.”

Em 2017, Santana Lopes abandonou a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o PS sempre atento a estes cargos, nomeou de imediato Edmundo Martinho para o substituir e Vieira da Silva, o então homem da Segurança Social, tratou logo de colocar a vice, João Pedro Correia, então seu chefe de gabinete. (!?)

Estava conquistada a Casa que era Santa e que se preparava para ser laica porque controlada por gente que não gosta de ver a religião misturada com assuntos de estado.

Em 2019/2020 começam os rumores, o mal-estar instala-se por de entre a administração e a situação degrada-se como se degradam todas as instituições onde o PS mete a sua mão fechada, qual sinistro punho que tudo estraga. Em força e com o acordo do governo de então, o iluminado Edmundo avança em julho de 2021 para uma parceria apresentada como procedimento de manifestação de interesse (PMI) para implementação de operações de lotaria em Brasília. Em 1 de agosto de 2021 o foco aponta ao Peru e a uma parceria com a Nex Lot Juega, operadora das lotarias na América Latina. Mais, em 5 de agosto de 2021 a parceria acontece com a MCE Intermediações e Negócios para desenvolvimento e implementação da lotaria no estado do Rio de Janeiro. Por detrás está o banco de Brasília (BRB).

Todas estas informações não foram inventadas e constam do site da Santa Casa Global. E a questão põe-se. Sabe o leitor o que é a Santa Casa Global? Fui ver. Pois a conclusão a que cheguei é que é um “veiculo” que autoriza a administração da Santa a “investimentos” que têm que se lhe diga e que em princípio não podem misturar-se com negócios de estado. Perceberam? É que eu não. Mas há muito que está na moda. 

Sem “papas na língua”, Edmundo diz que os investimentos acima referidos” foram aprovados em orçamento e não precisavam da autorização da tutela.” Aliás a ministra da Solidariedade e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho já não sabe o que dizer quando confrontada com a pergunta sobre os resultados da auditoria à Santa Casa que tal como outras, vai acabar no fundo de uma gaveta enquanto o PS proíbe a presença de Edmundo Martinho exigida pelo parlamento.

Após a saída de Edmundo por indecente e má figura, o PS substituiu-o em 2023 por Ana Jorge, retirada da Cruz Vermelha onde presidia desde 2021 mas deixou lá ficar João Gouveia, despromovido a vogal. Longo parece ser o braço de Vieira da Silva apesar dos seus insucessos enquanto a experiência pediátrica de Lídia Jorge, poderá ser uma mais-valia no combate às “criancices” de Edmundo e companhia.

Dizem que a Santa Casa Global foi escolhida para explorar em exclusividade os jogos e lotarias no estado de Brasília mas o tribunal de contas do distrito federal suspendeu o acordo com o argumento de que poderia violar a lei local não tendo eu conhecimento de qual. Por ser velho, desconfio sempre destas escolhas e da razão de um tribunal que vê coisas que o Edmundo antes não viu. E ao não ver, supondo ser essa a verdadeira razão, provocou até agora um prejuízo de quase 30 milhões à Casa que era Santa e não tem culpa.

No site da Santa Global, a própria diz que está no Peru, Brasil e Moçambique e a desenvolver ainda o processo de expansão para outros países. Daí o aumento dos meus temores. A “coisa” que vai nos trinta milhões e que segundo os mais pessimistas pode ultrapassar os 50, irá crescer exponencialmente se continuarmos a acreditar que somos mais espertos que os outros. Que podemos controlar outros juízes, gentes e máfias que na sua terra põem e dispõem. A Santa Casa não deveria servir para experiências ou acreditar em tesouros de piratas. Devia, isso sim, preocupar-se com a sua principal função – Apoiar os desfavorecidos e defender uma sociedade mais solidária. 

Mas disso o PS só sabe a música. Nunca a letra!    

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