“No final de março de 2024, a candidatura do ‘Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro’ à Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade que Necessita de Salvaguarda Urgente foi formalmente entregue em Paris, sede da UNESCO”, refere um comunicado da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).
Segundo a mesma entidade, este marco surge depois de “um profundo processo de análise e avaliação” da Comissão Nacional da UNESCO, que “reconheceu o seu elevado potencial e selecionou a candidatura da região de Aveiro como a representante nacional”.
“Ao longo do próximo ano, a candidatura será novamente avaliada, por peritos internacionais da UNESCO, devendo a decisão ser conhecida no final de 2025”, refere a mesma nota.
A CIRA diz que este é mais um passo no caminho iniciado em 2021, com a assessoria do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, que já alcançou a inscrição no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial em dezembro de 2022.
Citado na mesma nota, o presidente da CIRA, Joaquim Baptista, refere que a “oficialização da candidatura da UNESCO deve encher de orgulho a todos, na região de Aveiro”, acrescentando que, enquanto se aguarda a decisão oficial da UNESCO, a CIRA “estará, como sempre, 100% empenhada na preservação deste património que está profundamente enraizado na tradição local e nos corações das nossas gentes”.
Um dos aspetos singulares dos barcos moliceiros são as pinturas da popa e da ré: “A proa é a parte monumental do moliceiro, em que figuras, desenhos e legendas são exclusivos, sem igual em qualquer tipo de navegação conhecido”, escreveu Jaime Vilar, em livro dedicado àquela embarcação.
Nesse trabalho classifica as legendas da proa em “satíricas, humorísticas e eróticas”, “religiosas”, “românticas, brejeiras e pícaras”, “profissionais, morais e históricas”.
O mesmo autor, baseando-se em dados colhidos junto dos artífices, descreve que um moliceiro mede, em média, 15 metros de comprimento (…), desloca cerca de cinco toneladas e tem o fundo plano e de pouco calado, pormenor que lhe permite navegar por onde barcos de quilha não passam”.
Na década de 70 do século XX estavam registados três mil barcos moliceiros a operar na Ria de Aveiro. Atualmente, subsistem apenas 50 embarcações, metade das quais afetas à exploração turística nos canais urbanos da Ria.