O Decreto-Lei n.º 243/2015, que regula o Estatuto Profissional do Pessoal com Funções
Policiais da Polícia de Segurança, define no seu artigo 17.º que “Os polícias utilizam o
armamento e os equipamentos, fornecidos ou autorizados pela PSP, necessários à
execução das tarefas de que estão incumbidos e zelam pela respetiva guarda, segurança
e conservação”.
Segundo a imprensa, no contexto de uma acção policial recente na Cova da Moura um
cidadão, depois de visualizar uma equipa da PSP e estando a conduzir um veiiículo
roubado, encetou uma fuga que resultou num despiste a abalroar outras viaturas. Na
sequência de ameaças com uma arma branca aos polícias que o interceptaram foram
inicialmente disparados tiros para o ar e, posteriormente, outros tiros que alvejaram
mortalmente o cidadão em causa. Em comunicado a PSP esclarece que, durante a
abordagem, o suspeito teria resistido à detenção e tentado agredir os polícias com uma
arma branca, o que levou um dos agentes a usar a arma de fogo após esgotar outras
alternativas, atingindo o suspeito.
A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, apressou-se a anunciar a abertura
de um inquérito para apurar as circunstâncias que envolveram a actuação dos agentes da
PSP e a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) já iniciou uma investigação sobre
o ocorrido tendo o agente que efectuou o disparo também sido interrogado pela Polícia
Judiciária e constituído arguido. A ministra classificou o episódio como um “infeliz
incidente”, levantando-se, de imediato, questões sobre a adequação do termo. A
expressão parece ter sido usada de forma eufemística, possivelmente para suavizar a
gravidade do acontecimento, mas levanta dúvidas sobre se interpretou o sucedido como
um mero “azar” ou se existiam alternativas à actuação do agente policial. Contudo, com
a investigação a decorrer como pode a ministra, responsavelmente, fazer esta afirmação?
Para que se compreendam as várias fases do processo importa que se conheçam as
respostas a várias questões. O uso de armas de fogo que resulte na morte de um cidadão
exige, sempre, que o agente envolvido seja interrogado pela Polícia Judiciária (PJ) e que
seja sempre constituído arguido? A arma utilizada em disparos fatais é sempre
apreendida para investigação? A abertura de um inquérito disciplinar, por parte da IGAI,
ocorre sempre a pedido da ministra da Administração Interna, e sempre com caráter de
urgência? Em todas as situações similares, os agentes envolvidos são sempre afastados
temporariamente das suas funções e sempre mandados para gozo de férias por ordens
superiores enquanto decorre a investigação, conforme foi noticiado pela comunicação
social? A resposta a estas e outras questões é fundamental para que todos percebamos
se as acções tomadas fazem parte de um protocolo interno ou se foram motivadas pela
pressão de alguma opinião pública e de determinados partidos políticos.
Mesmo antes de concluídas as investigações da IGAI e da PJ, a SOS Racismo emitiu
declarações afirmando que a PSP estaria “inegavelmente infiltrada pela extrema-direita racista”. Segundo a associação, a morte do cidadão insere-se num contexto de
discriminação racial e securitário dirigido às comunidades negras. Afirmam ainda que a
intervenção policial ocorreu num contexto político de crescente discurso de ódio e
suscitam dúvidas sobre as motivações da actuação policial.
Estas acusações graves levantam questões sérias sobre a imparcialidade das instituições
nacionais, nomeadamente do Ministério da Administração Interna (MAI) e da PSP. A
ministra da Administração Interna deverá, portanto, esclarecer se há fundamento para
essas alegações. Caso não existam provas concretas, irá ser aberta uma investigação às
declarações da SOS Racismo? As alegações são graves e, se infundadas, podem resultar
num processo-crime contra a associação? Será que a SOS Racismo se refere à fruta podre
que a ministra há uns meses disse existir no seio da Polícia? Se existe, o que foi feito para
acabar com essa fruta podre? Se não existe, a ministra já se retratou e pediu publicamente
desculpa às forças de segurança?
A SOS Racismo e o movimento Vida Justa também questionam a versão oficial dos
acontecimentos, exigindo uma investigação “séria e isenta”. Estas reivindicações levantam
dúvidas sobre a confiança nas investigações conduzidas pela PJ e pela IGAI. A expressão
“cultura de impunidade” nas forças policiais é frequentemente mencionada. Há
fundamentação e provas objectivas que justifiquem a sua veracidade?
No portal Esquerda.net, as informações são colocadas de forma a sugerirem dúvidas
sobre a narrativa policial. Palavras como “fuga” e “violentamente” aparecem entre aspas,
indicando uma possível descrença no relato dos agentes. O portal questiona a
possibilidade de que o cidadão não estivesse armado ou que não tivesse ameaçado os
polícias? O autor destas informações tem provas das insinuações que levantou? Estas
insinuações geram desconfiança sobre a autenticidade dos testemunhos oficiais e
incendeiam e alimentam um discurso de contestação legitimando a desordem pública
que acabou por acontecer com autocarros, contentores do lixo e pneus incendiados,
automóveis danificados, tiros e desacatos a espalharem-se por vários locais de Lisboa,
Amadora, Oeiras, Sintra e Seixal.
Perante tudo isto, o Governo não pode ficar em silêncio. O Estado deve dar uma resposta
clara e fundamentada. É uma exigência dos cidadãos. A verdade dos factos deve ser
apurada de forma imparcial, e todos os envolvidos, tanto os agentes policiais quanto
aqueles que os acusam, devem ser investigados. Se há provas que confirmem ou
desmintam as declarações feitas estas devem ser apresentadas e aplicadas as devidas
consequências. É fundamental que o debate sobre a actuação policial e as questões de
discriminação racial seja guiado pela verdade, pelo respeito e pela protecção das nossas
instituições democráticas.
O oportunismo da esquerda, para ganhar vantagem política, não se coíbe de lançar
acusações graves contra as forças de segurança, de gerar desconfiança nas instituições e
de minar a confiança dos cidadãos na justiça agravando a polarização e incentivando ao
desrespeito à autoridade do Estado. Estamos a testemunhar mais uma tentativa
descarada de manipular os acontecimentos para caçar votos. É a política de baixo nível aque a esquerda nos habituou, sacrificando a estabilidade do país em prol da sua agenda
ideológica.