“Dos 63 casos de infeção humana nos EUA, 40 são em humanos. Está mais do que confirmada a passagem de bovino para bovino, sem a intervenção de outras espécies. Podemos tentar iludir-nos, mas esta já não é só uma gripe das aves. É uma gripe instalada que derrapou a espécie e afetou vários mamíferos e animais de jardim zoológico”, afirmou o secretário-geral da Associação Nacional dos Centros de Abate e Indústrias Transformadores de Carne de Aves (Ancave), Pedro Raposo.
Este responsável falava numa audição parlamentar na Comissão de Agricultura, representando também a Federação Portuguesa das Associações Avícolas (Fepasa).
Pedro Raposo assinalou que o setor das aves está sujeito a medidas de segurança e biossegurança, o que esclareceu não acontecer com outras atividades, nomeadamente com as criações a céu aberto.
De acordo com os dados avançados pela federação, mais de dois terços do setor avícola estão abrangidos pelos mais altos padrões de bem-estar animal.
“O apelo que venho aqui fazer a esta casa é para que não adira ao ecopopulismo vigente, onde os retrocessos civilizacionais, técnicos e científicos estão na origem dos problemas”, acrescentou.
O secretário-geral da Ancave insistiu ainda que, “por via da irracionalidade técnica”, a detenção doméstica começou a ser protegida, abrindo-se assim “a porta para que esta infeção passe”.
Na semana passada, gripe das aves foi confirmada numa capoeira doméstica e em aves do Parque Urbano D. Carlos I, no concelho de Caldas da Rainha, em Leiria.
Um dos focos foi detetado numa capoeira doméstica na freguesia de Tornada e Salir do Porto. O outro foi confirmado em aves do lago que fica no Parque Urbano D. Carlos I.
Foram impostas restrições à movimentação dos animais e medidas de vigilância nas explorações com aves, localizadas nas zonas de restrição (num raio de 10 quilómetros em redor do foco detetado na capoeira doméstica).
A DGAV voltou a apelar a todos os detentores de aves que cumpram as medidas de segurança, em particular, que evitem o contacto entre aves domésticas e selvagens.
No início da mesma semana, já tinha sido anunciada a confirmação de um novo foco de gripe aviária numa pequena exploração de galinhas, patos e gansos, em Sintra, onde tinha sido detetado um caso no início do mês.
No mesmo dia em que foi confirmado o primeiro caso em Sintra, a DGS esclareceu que, até à data, não tinham sido identificadas pessoas com sintomas ou sinais sugestivos de infeção por este vírus (H5N1).
A transmissão do vírus para humanos acontece raramente, tendo sido reportados casos esporádicos em todo o mundo.
Contudo, quando ocorre, a infeção pode levar a um quadro clínico grave.
A transmissão ocorre, sobretudo, através do contacto com animais infetados ou com tecidos, penas, excrementos ou inalação de vírus por contacto com animais infetados ou ambientes contaminados.
Já tinham sido confirmados em Portugal, na corrente época epidemiológica, três casos de infeção pelo vírus da gripe aviária de alta patogenicidade em aves selvagens, nomeadamente numa gaivota-de-patas-amarelas, em Quarteira, Loulé, numa gaivota-de-asa-escura, em São Jacinto, Aveiro, e numa gaivota-de-patas-amarelas em Olhão, Faro.
Mais de 840 focos de gripe das aves foram detetados na Europa, entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, sobretudo na Hungria e em Itália.
A gripe das aves já afetou mais de 60 espécies de mamíferos em oito anos, incluindo cães, gatos, leões e porcos.