Na alvorada de um tempo que ainda se deixa escrever, quando as vozes dispersas do Parlamento se confundem com o murmúrio morno dos dias comuns, ergueu-se, pela primeira vez nesta legislatura, uma voz singular, vigorosa, sóbria e carregada de um propósito maior.
Como num poema Homérico, sexta-feira era o dia, marcava o relógio as dez e um quarto da manhã, e foi então que da bancada dos que representam um povo se levantou não apenas um recém-eleito, mas um mestre. Um professor, desses que sabem que ensinar é muito mais do que apenas transmitir, é convocar o outro à altura da responsabilidade.
Rui Cardoso não discursou. Deu a lição.
Tal como um cavaleiro, brandiu um discurso como se fosse uma espada. Ministrou uma aula.
Falou, e no timbre das suas palavras ia a gravidade de quem sabe que a política, tal como a pedagogia, exige presença, exige rigor, exige espinha dorsal. “Se um aluno se baldar a uma aula, tem uma penalização, tem falta”. Mas e o deputado que falta ao debate nacional? E o político que se ausenta do seu dever perante a Nação, quem o admoesta?
É com essa interrogação, tão simples quanto implacável, que sacudiu os alicerces de um hemiciclo tantas vezes entregue à sonolência confortável e à negligência da rotina.
Foi, nesse momento inaugural, que Rui ensinou sem didatismo. Ensinou pelo exemplo. Na ausência de muitos, ele esteve presente, e deu sentido à presença. Porque ser deputado não é ocupar um lugar, é honrá-lo. E Rui fê-lo como quem sabe que a autoridade se constrói na coerência entre o que se diz e o que se faz.
Como professor, sabe que o ensino começa no exemplo. Como deputado, demonstrou que a política só é nobre quando se deixa contaminar pelo mesmo escrúpulo moral que deve habitar uma sala de aula.
Não se ficou, porém, pela aula cívica. Como historiador, traz consigo a consciência aguda de que as nações não morrem apenas por falta de recursos, mas, por conseguinte, e sobretudo, por falta de memória, de cultura e de exigência. Foi deste modo, que ergueu a sua voz para dizer o que tantos calam. Que há escolas degradadas, alunos abandonados, professores desencantados.
Que há uma escola rendida ao facilitismo e uma política de ensino refém de agendas que pouco têm a ver com o saber.
E foi nesse mesmo registo, entre o tribuno e aquilo que se pode considerar como um ressurgimento aristotélico da Ética a Nicómaco, que Rui Cardoso anunciou não promessas de circunstância, mas compromissos de carácter. Disse que lutará para corrigir as injustiças na carreira docente, que devolverá à profissão o respeito e a autoridade que lhe são devidos, e que combaterá, sem transigência, a violência nas escolas.
E proclamou com virtude. A ideologia de género e os desvios doutrinários infiltrados nos manuais escolares não terão lugar numa escola que se quer livre e orientada para o saber. Não por intolerância, mas por integridade. Porque doutrinar não é educar, e confundir os dois é trair ambos.
Rui Cardoso é, assim, mais do que um jovem deputado. É um professor, que ao subir à tribuna, não esqueceu a mais importante vocação na história, ensinar.
E ironicamente, ou talvez não, no seu primeiro dia, ensinou mais do que muitos ensinaram em décadas. Ensinou que servir é estar. Que representar é comparecer. Que falar em nome dos portugueses exige mais do que presença física, exige alma e dedicação ao serviço pelo qual se é eleito.
Não tem ministério. Mas tem missão. E é por isso que aqui lhe chamamos, sem cerimónia mas com justiça, o Ministro do Conhecimento. Não da pasta apagada de um gabinete, mas do ministério mais nobre de todos, aquele que se exerce no campo da consciência pública. Porque quando um professor se levanta e, da tribuna, fala ao país com a seriedade de quem conhece o seu passado e quer preparar-lhe o futuro, então sabemos que ainda é possível acreditar.
Os portugueses ouviram-no. E os que tiveram ouvidos, aprenderam. A política, quando se dignifica, começa nos que ensinam. E neste Parlamento, profetizou-se um momento, em que vemos o jovem, o professor, o Ministro do Conhecimento.