Diplomas na mão, bilhete de ida: a geração que Portugal deixa partir

Nos aeroportos portugueses repete-se a mesma cena: jovens de mochila às costas, diplomas acabados de conquistar e bilhete só de ida. Destinos? Londres, Roterdão, Berlim. Motivos? Salários que não chegam, contratos que não seguram e rendas que engolem o futuro. Portugal continua a formar os seus melhores talentos — mas são outros países que lhes dão casa.

Basta uma ida ao Aeroporto de Lisboa numa segunda-feira de manhã para perceber o fenómeno: filas cheias de jovens adultos, muitos em grupo, quase sempre carregados de malas grandes. A partida tornou-se rotina.

De acordo com o Atlas da Emigração Portuguesa, cerca de 30% dos nascidos em Portugal entre os 15 e os 39 anos vivem atualmente no estrangeiro — mais de 850 mil pessoas. Só entre 2020 e 2023, em média, 70 mil jovens de 25 a 34 anos saíram do país todos os anos. A maioria parte para Alemanha, França, Reino Unido e Países Baixos, atraída por melhores salários e oportunidades de carreira.

As razões são conhecidas: salários baixos, precariedade e crise da habitação. Em 2025, o salário médio bruto em Portugal é de 1.264 euros, mas 65% dos jovens até 30 anos ganham menos de mil euros mensais. Com rendas a rondar os 800 euros nas grandes cidades, o equilíbrio financeiro torna-se insustentável. Em Lisboa, esse salário mal paga a renda de um T1. No Porto, já se vê jovens a partilhar casas como se fossem estudantes — mesmo depois de começarem a trabalhar.

O novo perfil dos emigrantes mostra uma geração cada vez mais qualificada: em 2023, 42% tinham formação superior e três em cada quatro tinham menos de 39 anos. Nos anos 60, eram sobretudo trabalhadores agrícolas e da construção civil que partiam para França e Luxemburgo. Hoje, partem médicos, engenheiros e investigadores. Mudou o perfil, mas a sensação é a mesma: Portugal vê os seus a ir embora.

O impacto sente-se na economia e na demografia: falta de profissionais em setores-chave e um terço das mulheres em idade fértil a viver fora do país. Hoje, um em cada cinco bebés filhos de mães portuguesas nasce no estrangeiro.

Apesar de fenómenos semelhantes em países como França ou Alemanha, o caso português destaca-se pela diferença salarial e pela persistência do problema.

Chamam-lhe “fuga de cérebros”. Mas, no fundo, é mais do que isso: é a perda de energia, de criatividade e de esperança de uma geração inteira. Se nada mudar, Portugal continuará a encher auditórios no dia da graduação… e a esvaziar aeroportos na manhã seguinte.

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