A saúde mental dos jovens e a urgência de recuperar a força da família

Os dados recentemente divulgados pela Organização Mundial da Saúde revelam uma verdade desconcertante: a saúde mental das crianças e dos adolescentes europeus enfrenta uma queda tão acentuada que já não admite silêncio nem fuga. Este alarme não chama apenas especialistas ou instituições; convoca pais, educadores, governantes e toda a sociedade para um exame de consciência. Antes de apontarmos culpados difusos ou soluções meramente administrativas, importa regressar ao espaço onde se forma o carácter, a afectividade e a estabilidade emocional de qualquer ser humano: a família.

O aumento das perturbações emocionais entre jovens levou muitos a dirigir a atenção exclusivamente para a escola, o Estado, as redes sociais ou a tecnologia. Embora todos esses factores desempenhem um papel relevante, nenhum deles substitui a estrutura vital que sustém ou compromete o equilíbrio interior: o lar. Onde falta tempo, cresce a desorientação. Onde escasseia afecto, instala-se a ansiedade. Onde se perde a verdade, nasce a instabilidade. Onde desaparece estrutura, emerge o conflito.

É necessário afirmar com lucidez aquilo que tantas vezes se evita por conveniência política ou receio de polémica: quando a família perde coesão, toda a sociedade perde rumo. A criança que vive num ambiente sem limites definidos, sem atenção autêntica, sem presença emocional e sem referências morais consistentes torna-se mais vulnerável à ansiedade, à violência, à solidão profunda e à dependência. Não nasce inclinada para o descontrolo; nasce exposta, sem ancoragem e sem bússola ética.

As políticas públicas desempenham aqui um papel decisivo. Ao longo dos últimos anos, sucederam-se orientações que, muitas vezes de forma involuntária, reduziram a centralidade da família na formação emocional das crianças. Quando as políticas educativas substituem a responsabilidade parental por programas desligados da realidade doméstica, criam-se distâncias que fragilizam. Quando as políticas sociais não valorizam a estabilidade familiar, geram-se desigualdades que se prolongam na vida emocional. Quando a legislação desautoriza, fragmenta ou confunde o papel dos pais, retira às crianças a segurança moral e afectiva que permite crescer com propósito. Mas existem também escolhas políticas que fortalecem. Medidas que apoiam a conciliação entre trabalho e vida familiar, programas que reforçam competências parentais, estratégias que aproximam escola e família, e iniciativas que tratam a saúde mental não como um tabu, mas como uma prioridade civilizacional.

A violência que domina manchetes não surge por geração espontânea. Muitas vezes nasce da ausência. A ausência de afecto genuíno. A ausência de escuta paciente. A ausência de responsabilidade partilhada. A ausência de realidade autêntica, substituída por distrações permanentes. E nasce igualmente de uma incoerência colectiva que privilegia discursos vistosos sobre diagnósticos corajosos.

A sociedade regenera-se quando os lares oferecem estrutura e propósito. Lares onde o amor não se confunde com permissividade, onde a autoridade se exerce com sensatez, onde a palavra mantém peso, onde o exemplo educa mais do que qualquer manual, onde a presença vence a indiferença. Políticas que respeitam esta verdade essencial constroem futuro. Políticas que a ignoram preparam fragilidade.

Não existe solução duradoura para a crise de saúde mental juvenil sem devolver à família o seu papel como núcleo afectivo, moral e civilizacional. A Europa pode multiplicar relatórios, financiar programas e organizar conferências, mas continuará a falhar se esquecer que a raiz do equilíbrio emocional se alimenta em casa. No abraço que acalma. No limite que orienta. Na conversa que ilumina. No olhar que ampara.

Se desejarmos um futuro mais sereno para os jovens, teremos de abandonar ilusões e enfrentar o essencial com coragem: nenhuma sociedade progride quando desvaloriza a família; nenhuma criança floresce quando cresce à deriva; nenhum país se fortalece quando negligencia o seu alicerce mais íntimo.

O caminho inicia-se onde tudo nasce: dentro de casa. É aí, no silêncio e na verdade dos afectos, que se decide grande parte do futuro emocional das próximas gerações.

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