No vasto salão da política Nacional, feito de carpete vermelha, discursos sonolentos e indignações de ocasião, há sempre um convidado que ninguém quer sentar à mesa, o Baixo Alentejo, é aquele primo pobre que chega tarde, traz as mãos calejadas e ainda por cima se atreve a pedir atenção.
Ora, num País tão ocupado com os brilhos do litoral, quem tem paciência para uma região que perde 6,9% da população em dez anos? Que maçada estatística!!
As sumidades políticas, sempre prontas para inaugurar rotundas e cortar fitas com entusiasmo quase litúrgico, garantem em época eleitoral que o despovoamento é “uma prioridade nacional”, prioridade essa que, misteriosamente, se evapora na mesma noite em que se abrem as garrafas de espumante da vitória, transformando-se no conhecido “Síndrome do Esquecimento Pós-Tacho”, maleita grave, incurável, mas estranhamente comum em democracias madura
Entretanto, os jovens qualificados fogem do Baixo Alentejo com a mesma pressa com que um estudante foge de um exame surpresa, porque os salários médios rondam os 995 a 1.125 euros, valores tão inspiradores que até o mais patriótico dos recém-licenciados sente um irresistível chamamento para Lisboa, Porto ou qualquer lugar onde o ordenado não venha acompanhado de um pedido de desculpas, pelo que não admira que cerca de 30% dos jovens talentosos emigrem para outras paragens, pois, ali, ao menos, podem sonhar com uma vida em que os vencimentos não são uma entidade metafísica.
Depois há as infraestruturas ou, como se diz no Baixo Alentejo, “as lendas urbanas”, Hospitais que funcionam por teimosia, Escolas que resistem ao tempo, como ruínas romanas e respostas sociais para idosos que fazem lembrar aquelas cadeiras que ninguém ocupa nas salas de espera, estão lá, mas não servem grande coisa, tornando-se na prova viva de que o País, ao contrário do que se apregoa, ainda acredita firmemente na desigualdade geográfica como método de governação.
E chegamos à ferrovia, essa epopeia tragicómica, onde o viajante, que ousar apanhar um comboio na região, corre o risco de se sentir personagem de um romance histórico mal escrito, em que a velocidade é tão prudente que permite meditar, contemplar, filosofar e, em casos extremos, envelhecer, ficando a falta apenas a locomotiva a carvão para completar o quadro, onde o século XIX agradece a homenagem, mas os alentejanos, nem por isso
Ora, num cenário tão animado, o que falta? Responsabilidade política, claro está! Os autarcas deveriam, com humildade rara, lembrar que foram eleitos para servir e não para exibir lapelas, podiam lutar por melhores condições para jovens, por incentivos às empresas, por uma redução das taxas de IRS que aliviasse as famílias e por infraestruturas dignas que não envergonhassem o País.
Foram estas as propostas que apresentei, humildemente, quando me candidatei em Serpa, mas o povo, benevolente e fiel às tradições, decidiu entregar as chaves do concelho à velha esquerda socialista, aquela que, em meio século, considerou sempre que a mudança é um conceito perigoso, talvez até subversivo.
Resta agora observar, com a serenidade de um Eça diante de uma ceia decadente, o que farão nos próximos quatro anos, porque talvez surpreendam, talvez transformem o Baixo Alentejo, ou talvez, e esta é a hipótese favorita dos realistas, continuem a tratá-lo como o parente pobre que se mantém esquecido na estação, à espera de um comboio que nunca CHEGA!