A expedição reúne uma equipa internacional de cerca de 30 cientistas – a maioria a trabalhar a bordo de uma “armada” de três navios que tem o antigo bacalhoeiro Santa Maria Manuela como navio-almirante – e está a recolher dados sobre a saúde e a biodiversidade do habitat oceânico criado pelos picos Gettysburg e Ormonde do banco de Gorringe.
Estes dados resultarão num relatório científico, com publicação prevista para o primeiro trimestre de 2025, para sustentar a gestão daquela área, que desde 2015 já é área marinha protegida da Rede Natura 2000 mas exige proteção mais robusta.
O trabalho em curso, a partir do Santa Maria Manuela e dos catamarãs privados ‘Feel Good’ e ‘Oceanus II’, inclui filmagens e registos fotográficos, mergulhos a profundidades variáveis para recolha de amostras, a utilização de ‘drones’, um sistema submarino de câmaras de vídeo para capturar imagens de animais no habitat natural sem a presença humana e um veículo subaquático controlado remotamente para observação de zonas mais profundas.
Os montes submarinos Gettysburg e Ormonde – apesar de submersos, ao elevarem-se desde profundidades de cerca de 5.000 metros são mais altos que as montanhas do Pico (Açores) e Serra da Estrela juntas e são as montanhas mais altas da Europa ocidental – são ecossistemas de elevada biodiversidade, com habitats que vão desde florestas de algas perto da superfície até recifes de coral de água fria a grandes profundidades.
Considerados ‘oásis oceânicos’, onde já estão identificadas mais de 800 espécies, para além da flora e fauna bentónica (associada ao fundo) os picos do banco de Gorringe atraem também grande variedade de fauna pelágica (que vive em água aberta), incluindo mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, tartarugas e aves marinhas.
A campanha científica – promovida pela Fundação Oceano Azul, Oceanário de Lisboa, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Marinha Portuguesa – é um esforço para impulsionar o caminho de Portugal no cumprimento da estratégia europeia de conseguir que até 2030 pelo menos 30% do oceano seja protegido, com pelo menos 10% com proteção estrita.
Emanuel Gonçalves, coordenador da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul, disse na altura da partida dos cientistas para o banco de Gorringe, que está a ser feita “uma radiografia do estado de saúde do oceano” numa zona de grande riqueza biológica e que “muitos não sabem que Portugal tem esse enorme valor nas suas águas”.
Considerado um local de elevado interesse, mas ainda pouco explorado apesar de campanhas científicas anteriores, o banco de Gorringe é, defende Emanuel Gonçalves, um “desencadeador muito importante para acelerar em Portugal medidas de proteção e gestão eficaz de áreas marinhas”.
A expedição tem o envolvimento institucional do Governo Português, Fundo Ambiental, Autoridade Marítima Nacional, Oceana, National Geographic Pristine Seas e Waitt Institute.
A equipa científica envolve o Instituto Hidrográfico, IPMA, e os centros de investigação CCMAR – Universidade do Algarve, CESAM – Universidade de Aveiro, CIBIO e CIIMAR – Universidade do Porto, MARE – IPLeiria, Okeanos – Universidade dos Açores, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação para a Investigação dos Mamíferos Marinhos (AIMM), Aquário Vasco da Gama, Moss Landing Marine Laboratories da universidade de San Jose (Estados Unidos), Marine Futures Lab da universidade de Western Australia e o Laboratory of Applied Bioacoustics da Universidade Politécnica da Catalunha.
A cerca de 130 milhas náuticas (cerca de 240 quilómetros) a sudoeste do cabo de S. Vicente, no Algarve, o banco de Gorringe foi originalmente cartografado em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio da marinha dos Estados Unidos USS Gettysburg e é uma cordilheira submarina com cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 quilómetros de largura que se ergue desde uma profundidade de 5.000 metros até um planalto de profundidade entre os 200 e os 300 metros e com os dois picos principais a erguerem-se até aos 60 metros e aos 25 metros da superfície.