Ser de Direita, tornou-se hoje quase um acto de resistência estética. Quando a vulgaridade do discurso dominante se transveste de virtude, manter a compostura, é já de si, um gesto revolucionário. Gritar não é mais autêntico do que pensar; facto que nos remete para um desafio: permanecer firmes, convictos, até provocadores, sem cair na armadilha dos insultos fáceis!
Assumamos que nem todo aquele que discorda da nossa linha é um energúmeno; precisemos embora de reconhecer que a idiotice existe, e que esta prolifera sobretudo quando a ideologia se torna numa facciosa religião.
Vivemos numa época em que a sofisticação é suspeita, o riso é ofensivo e o argumento lógico, opressivo. Para muitos, nutrir ideias de Direita é sinónimo de rudeza ou nostalgia reaccionária. Levantemo-nos perante tamanha falsidade. Ser de uma Direita pensante, clássica, que não se reduz a memes ou youtubers adolescentes é, desde já, um acto de lucidez estética e maturidade intelectual.
Entretanto, pela nossa vida costumeira, somos diariamente provocados pelo espetáculo da inconsciência progressista, onde o instinto é reagir com brusquidão verbal, traindo assim a própria natureza do verdadeiro Direitista. Sorrir com pena, responder com história e questionar calmamente “o oponente” se as redes sociais são as suas únicas fontes; são excelentes legais ferramentas de desarme.
Todas as ideologias vivem do calor e da sagacidade. A Esquerda, em particular, vive da combustão moral, sendo que precisa da injustiça “coitadista” como combustível, como se “quanto pior melhor”. O espectro canhoto não leva em conta se a injustiça é real ou de proveniência fabulista: o importante é que o panorama aqueça, oferecendo-nos assim e, com conivência negligente, um militante típico da Sinistra contemporânea; ou seja: um animador de ressentimentos.
Cair nas provocações e retribuindo com gritaria, insulto ou deboche histérico não é apenas vulgar, é sobretudo contraproducente. A pessoa que pensa mais à Direita e que se perde no tom acaba por tropeçar no vigor, embrulhando-se taralhoucamente num tombo de vulgaridade.
É tentador ridicularizar o delírio alheio, especialmente quando alguém propõe a abolição da propriedade privada não abdicando irrefutavelmente da sua. Há gente de divergente opinião com quem dá gosto conversar, felizmente estou rodeado de algumas pessoas com quem consigo estabelecer diálogos de acrescento, com as quais me dá especial gozo apreciar que lhes acenta como uma luva a “Lei do Frei Tomás”( faz o que ele diz mas não faças o que ele faz).
Mas também existe o inverso, seres no expoente máximo da miopia de esquerda, tão cegos que, ao reagirmos com fúria, perderíamos a batalha da estética comportamental. Não ao alcance de todos, existe segredo e arte no sarcasmo bem temperado e no escárnio mais educado, sendo que devem ser estas as peças do nosso “tabuleiro de Xadrez” do quotidiano.
É fácil ser-se de Esquerda, enquanto se toma um bom café colombiano, criticando o capitalismo pelo iphone nas redes sociais e ornamentando roupas fabricadas por crianças no Vietname. Este tipo de dissonância cognitiva não merece fúria, mas apenas humor.
O humor, aliás, é para muitos, o termómetro da inteligência, sendo capaz de ridicularizar sem ferir, de expôr o absurdo sem berrar, como se de uma artesão aristocrático se tratasse. É por isso que o humor genuinamente conservador deve ser subtil, ácido, mas nunca histérico.
Um conservador inteligente jamais se compromete do ponto de vista pessoal. O seu desejo de desconstruir, converge sempre na desconstrução de uma ilusão generalizada e não do indivíduo com o qual se debate. No fundo é dar prioridade ao bisturi da razão em detrimento da marreta do ressentimento.
A Esquerda grita “fascista” como quem cospe para o chão, algo automático, vazio e previsível. E ao contrário do que pensam os ingénuos, não se combate isso com a mesma moeda: que se use tempo, contexto, leitura e ironia como armas para o disfrute do sentimento de vergonha alheia. Nada mais, nada menos do que o equivalente intelectual de oferecer um livro a quem nos apelidou de opressores e se, no meio do “surto” este se recusar, já perdeu, não só o debate trauliteiro, como arrogantemente, a oportunidade de aumentar o seu conhecimento.
De Rousseau a Marx, de Foucault a Judith Butler, a Esquerda vive de abstrações, enquanto que a Direita vive de realidades: desde o que funciona, passando pelo que já foi tentado e acabando no que historicamente fracassou estrondosamente. A Direita perde quando tenta imitar a histeria que arduamente combate, quando negligencia a virtude romana da gravitas, a paciência dos velhos estoicos e a malícia dos escritores que sabiam que o ridículo fere mais do que uma adaga.
Na Era das Punch Lines e dos TikToks, ser de Direita com inteligência é um acto totalmente subversivo. Pese embora que, ser de Direita com inteligência e cortesía, é pura estratégia na guerra cultural.
Convenhamos que é desejável ser-se de Direita sem roçar o ogre, uma vez que o mundo real já grunhe que chegue por uma Direita messiânica. As crianças sem pai, os bairros sem segurança, os jovens sem sentido, os Estados endividados, os intelectuais sem noção; tudo isto são sintomas do fracasso das ideias contra as quais lutamos.
Cabe-nos, como dizia Burke, agir como “uma aristocracia do espírito”: cultivar o bom senso, a erudição e, acima de tudo, o saber-estar.
No convívio com a hipersensibilidade emocional, ser-se corajoso é citar Platão calma e serenamente.
Ser de Direita, sem envergar pela boçalidade, é cultivar uma ética da forma, onde os argumentos só vencem aquando servidos com autoridade e elegância. Há que abraçar com humildade o silêncio, porque nem todos os gritos merecem resposta, alguns, apenas uma sobrancelha arqueada.
Concluamos com a advertência de Nicolás Gómez Dávila, o mais fino dos reaccionários colombianos:
“O conservador não é o que se opõe ao novo, mas aquele que se opõe ao idiota.”