Cuidados continuados: Associação prevê desperdício de 100 milhões do PRR

O presidente da associação de cuidados continuados estimou hoje que mais de 100 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para esta área serão desperdiçados porque há "enormes atrasos" e as obras não estarão concluídas a tempo.

© D.R.

“Segundo os meus cálculos, seguramente mais de 100 milhões, ou seja, mais de 50% do PRR para os cuidados continuados não vão ser gastos e, portanto, Portugal não vai receber essa verba, infelizmente”, disse à Lusa José Bourdain, que lamentou que o Governo “tenha incentivado as unidades a avançares para obras mesmo sabendo dos enormes atrasos”.

O presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC) acrescentou que escreveu ao primeiro-ministro e ao ministro da Coesão (responsável pelos fundos do PRR) “há meses”, mas não recebeu qualquer resposta.

O responsável insistiu no sub-financiamento das unidades, sublinhando que “mesmo com a majoração na verba para por metro quadrado de construção o valor é curto”.

“Neste momento [o metro quadrado de construção] está à volta dos 1.600, 1.700 ou 1.800 euros o metro quadrado, dependendo do equipamento. No caso dos cuidados continuados, como têm questões técnicas muito mais complexas e são áreas maiores, neste momento, está na ordem dos 1.800 euros/m2. Portanto, os tais 700 euro/m2 que dão a fundo perdido significa qualquer coisa perto de 30% daquilo que verdadeiramente custa uma obra. Isto sem IVA”, explicou.

O responsável adiantou que, mesmo com a majoração – o valor passou de 30 mil euros/cama para 42 mil euros/cama – “é curto porque este valor há uma percentagem que é aplicada à obra, outra ao equipamento e outra aos projetos”.

“Face aos metros quadrados envolvidos estamos a falar de qualquer coisa como 700 euros um metro quadrado, o que é um valor perfeitamente ridículo face aos valores que são praticados”, acrescentou.

O presidente da ANCC deu ainda o exemplo do concelho de Sintra, onde fica a sua instituição, revelando que se candidatou ao PRR para 143 camas de longa duração – “a tipologia que mais falta faz” – e 30 vagas em unidade de promoção da autonomia.

“Só para a minha instituição eram 173 vagas, mais outras cinco entidades que se candidataram, só para camas de internamento são mais de 400 no conselho de Sintra. Nenhuma avançou”, lamentou, sublinhando: “Eu diria até que é o conselho mais prejudicado do país”.

Reconheceu que o atual Governo herdou “enormes atrasos” do anterior, mas defendeu que “poderia ter resolvido, imprimindo outra dinâmica, mas não o fez”.

“Lançou os avisos demasiado tarde, analisou candidaturas demasiado tarde, mas incentivou as unidades a concorrerem, a avançar”, disse.

O presidente da associação contou também que só depois de terem sido assinados os contratos em Lisboa e Vale do Tejo, a meio do mês de abril, é que, numa reunião com a secretária de Estado da Gestão da Saúde, foi informado do que as unidades que não conseguissem ter as obras concluídas a 30 de junho de 2026, deveriam desistir, podendo a verba ser usada para equipamentos hospitalares.

O responsável recordou que a ANCC já tinha por diversas vezes alertado para os atrasos no lançamento dos concursos nesta área do PRR, no anterior e atual governos, e disse ter estranhado que, na cerimónia de assinatura dos contratos em abril tenha sido anunciada a publicação de “novo aviso para as restantes camas que sobraram”.

Para tentar recuperar os atrasos e conseguir executar as verbas do PRR, José Bourdain chegou a pedir legislação específica (uma espécie de ‘via verde’) para acelerar licenciamentos o processo.

Lembrou que muitas entidades investiram centenas de milhares de euros em projetos, contraíram créditos bancários, algumas avançaram mesmo para concursos públicos (com alguns a ficarem desertos devido à constante subida de preços), tendo já assinado contratos.

O responsável disse ainda que na Região de Lisboa e Vale do Tejo, esta situação envolve “cerca de metade da meta do PRR, que são mais de 2.000 camas em cuidados continuados”.

Últimas do País

A Associação Nacional de Oficiais da Guarda (ANOG) pediu hoje uma reunião à ministra da Administração Interna, considerando que é "muito urgente" resolver o problema do cálculo da pensão de reforma dos militares da GNR.
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) afirmou hoje, em audição parlamentar, que o ano letivo começou com 6.000 alunos do 1.º Ciclo sem professor, que provavelmente vão ser distribuídos por outras turmas.
O presidente da associação de cuidados continuados estimou hoje que mais de 100 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para esta área serão desperdiçados porque há "enormes atrasos" e as obras não estarão concluídas a tempo.
O Ministério Público (MP) alertou hoje para uma burla que usa ilicitamente o nome dos supermercados Continente e o respetivo cartão de fidelização, visando obter dados de cartões bancários em troca de uma falsa recompensa por pontos acumulados.
O Serviço de Terapia Celular do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto apelou hoje a que a educação sobre a dádiva de medula óssea se torne uma prioridade nacional e seja integrada no plano de formação escolar.
Representantes dos funcionários técnicos, administrativos e de gestão da Universidade de Évora (UÉ) iniciam, esta sexta-feira, reuniões com grupos parlamentares para apresentar as suas discordâncias sobre a revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES).
Um homem detido por suspeitas de violência doméstica, em Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança, foi ouvido em tribunal que decretou a proibição de se aproximar da vítima, controlado por pulseira eletrónica, revelou hoje a GNR.
A ministra da Justiça vai estar hoje no Parlamento para discutir com os partidos o anteprojeto da lei da perda alargada de bens, aprovado em Conselho de Ministros em abril.
O número de crianças e jovens em risco retiradas à família baixou para 6.349 em 2024, menos 97 comparativamente ao ano anterior, revelam dados hoje divulgados pelo Governo, segundo os quais o acolhimento familiar aumentou 37%.
A Guarda Nacional Republicana (GNR) inicia hoje a operação “Escola Segura” 2025/2026 para assinalar o regresso às aulas com um conjunto de ações de sensibilização dirigidas aos alunos, professores e encarregados de educação.