Todos os dias, além de tantas outras coisas que faço, tenho o prazer, a tristeza, a humildade e a perplexidade de atender chamadas e ler e-mails.
Tento resolver ou encaminhar a quem resolva, mas essencialmente ouço e tranquilizo, leio e respondo da melhor maneira que a vida e a idade já me ensinaram. Tenho dias que levo para casa todas as injustiças, que adormeço a pensar em soluções.
Ex-combatentes e mutilados da Guerra do Ultramar que se queixam do esquecimento, das ajudas parcas, da falta de reconhecimento. Homens que combateram por este País, por amor à pátria, voltaram e dentro destas “paredes” a luta parece mais dura, mais injusta, sem fim à vista.
Pessoas que me dizem que o convívio na rua ou bairro é impossível e traumatizante – são assaltadas, insultadas, aterrorizadas. Idosos que são maltratados na sua própria casa, que assistem à degradação do seu bairro onde podiam sentar se à porta e conviver… agora não, agora trancam-se a sete chaves para não sentirem a vida ameaçada, privilégios dados a outros que nada fizeram por os merecer, prémios por mau comportamento – está tudo errado, valores invertidos, valores sacrificados.
Tenho polícias que comigo desabafam cenas horrorosas, inconcebíveis, brutais e assustadoras – seja na rua ou nas esquadras com condições precárias onde trabalham e dormem. Tão maltratados estes nossos homens e mulheres corajosos que fazem tudo para nos proteger e com condições tão fracas. Tenho o maior orgulho na nossa força policial. Sabem vocês o número de agentes que cometem suicídio? Sabem quantos metem baixa porque não aguentam mais? É assustador!
Tenho pessoas desesperadas por não terem casa, não terem dinheiro para uma renda de um mísero apartamento ou um quarto.
Desde famílias de 6/8 ou mais a viver em T0, a pessoas que vivem na rua. São pessoas, seres humanos. Amanhã posso ser eu e as minhas filhas.
E o abandono e maus-tratos a animais? Afinal se tratamos tão mal as pessoas, como tratar, recolher e acarinhar os animais? Não há comida para os filhos, não há tecto, o cão/gato que se amanhem pelas ruas… há uns que lá são resgatados!
E o Pai ou Mãe que desespera com greves nas escolas que os leva a faltar aos seus empregos? Já cansados do dia-a-dia que é educar e criar crianças, defendê-las dos perigos da rua, ainda se depararam com uma pandemia que fez perder dois anos letivos e não permitiu às crianças e jovens socializarem – os psicólogos que vos digam o que se passa com as nossas crianças, eles não conseguem gerir a afluência de miúdos deprimidos!
Agora que poderiam normalizar estão no meio da guerra do Governo com os Professores. Quem terá razão? Os Pais só querem que os seus filhos estudem, vão as aulas, façam amigos. Querem poder ir trabalhar para no fim do mês terem dinheiro para sobreviver.
Já viram o aumento nos supermercados? Como vou dar de comer aos meus filhos? São estes os desabafos.
Ouço também pessoas que me pedem ajuda para os problemas jurídicos, porque alguém as enganou. Pedem ajuda porque um advogado é caro e recorrer aos do Estado requer muita burocracia. Devia eu tirar Direito para ajudar toda esta gente.
Tenho muita gente a queixar-se dos transportes sempre em greve. Como pode a CP fazer tantas greves, prejudicar tanta gente, toda menos o Governo…os nossos governantes andam de carro, não os incomoda muito.
Tenho telefonemas de gente desiludida com o País, com o facto de trabalhar uma vida, descontar e receber uma miséria para viver quando outros, que em nada contribuíram, todos os apoios adquirem.
Muitos telefonemas atendo de brasileiros, assustados com o que se passa no seu País e a agradecerem a nossa posição em relação ao Presidente eleito, denunciam casos graves de pessoas presas e maltratadas, simplesmente porque manifestam o seu descontentamento.
Tenho queixas, tristezas, desilusões, mentiras, pobreza, solidão.
Poder-se-ia achar que trabalho na Segurança Social, que sou psicóloga,
Não, trabalho simplesmente no Partido CHEGA, o único que combate este sistema instalado, que dá esperança, que quer defender toda esta gente de bem, tão maltratada.
Penso que o País está a acordar e a pedir ajuda.
Obrigada, André!