Quer queiramos, quer não, a verdade é esta: Salazar foi o único governante deste País que, até hoje e, do ponto de vista da eficiência, pode ser considerado socialista.
Não por princípio, evidentemente. A sua orientação foi sempre a de respeitar a propriedade privada dentro dos limites do interesses da comunidade, como garantia da liberdade da pessoa humana e como fonte de progresso social. Mas é possível, mesmo dentro deste critério, fazer socialismo.
Em Portugal o socialismo teve antes de Salazar uma expressão pouco mais do que teórica e bastante limitada. Ficaram-se em raras zonas das grandes cidades, onde aliás a industrialização ainda era fraca. Para mais, a propaganda republicana agirá sobre a receptividade revolucionária prejudicando a expansão socialista; pois a I República não foi socialista nem anti-socialista.Foi apenas desordeira.
Depois de Salazar, o entusiasmo pró-socialista, mais rigorosamente pró-social-democrata, que de certo modo caracterizou o corporativismo, cedeu, influência da guerra do Ultramar e a orientação liberal, mais consentânea com o surto de enriquecimento e, vamos lá, de capitalismo à solta, em que os senhores do dinheiro foram os primeiros responsáveis pelo colapso de 25 de Abril.
Salazar encarava o capitalismo nos seus aspectos úteis e nocivos: na sua capacidade de empreendimento e de progresso social, na criação audaz de novas fontes de riqueza e de aperfeiçoamento das existentes.
Para ele o trabalho era um dever de todos, cada qual na sua esfera de acção : dirigentes e dirigidos, patrões e empregados, ricos e pobres.
O socialismo praticado por Salazar não foi o socialismo demagógico das agitações partidárias, nem o socialismo de Estado que tanto está a influenciar a nossa sociedade, nem o socialismo soviético. Foi, digamos, um socialismo paternalista de lançamento e fiscalização, que naturalmente por via fiscal havia a distribuição equitativa de rendimentos e a realização de grandes obras, como o Metropolitano de Lisboa, a Ponte sobre o Tejo, a Barragem de Cahora Bassa e estudos sobre a energia nuclear….
Encontrava-se o Estado português perante um povo desconfiado, receoso da colocação dos seus capitais e das suas economias em mãos aventureiras. Com a administração de Salazar confia no Estado. Mas o estadista preocupa-se em despertar no povo, que noutras latitudes tem dado sobejas provas de um espirito de iniciativa e de capacidade de risco, a confiança que o levava a agir por si próprio.
Ele tem as alavancas do Estado e por elas controla a vida económica. Os seus principais meios de acção situam-se no Banco de Portugal e na Caixa Gera de Depósitos, um e outro sob a sua mão. Através dele domina a banca, salva algumas situações difíceis e abre caminhos que nem sempre foram aproveitados na justa medida,
Adianta-se na realização das grandes obras de progresso, desde as vias de comunicação até a produção e distribuição de energia. O Estado comanda o lançamento das empresas com os seus capitais. Cria confiança.
Não há-de ser absorvente a função do Estado. Nem na actividade económica, nem na sociedade, nem na previdência e assistência. O culto da liberdade e da iniciativa individual, que tanto o havia impressionado desde jovem na educação inglesa, pretende ele radicá-lo entre os portugueses. Mas levará tempo. Primeiro há-de o Estado dar a impulsão inicial, ir-se-á retirando depois para uma função supletiva.
De qualquer forma, era independentemente de forças de pressão internas ou externas doutrinárias ou materiais. Só o interesse nacional dominava o pensamento do estadista na execução de uma obra eficiente. Temos de considerá-lo neste ponto, como o único realizador socialista até hoje conhecido em Portugal
Contra o interesse nacional não conhecia a validade de quaisquer outros. ” temos obrigação de sacrificar tudo por todos; não devemos sacrificar-nos todos por alguns ” E mais. ” o interesse nacional é superior à neutralidade e à paz”