Ultimamente, mas sem ser novidade, têm sido veiculadas pela imprensa algumas notícias inquientantes acerca do futuro da fábrica da Autoeuropa no nosso país.
As lutas sindicais, a falta de componentes electrónicos, a migração para a mobilidade eléctrica e a mais recente paragem da fábrica devido a uma paragem não programada de um fornecedor essencial, são os motes para esta narrativa péssimista…
Como é amplamente sabido o Parque Industrial da Autoeuropa possui ao dia de hoje um peso inegável na economia nacional, através de todo o constributo fiscal (IVA, IRC, SS, IS, IMI…), do peso na balança comercial, da geração de divisas e como motor do desenvolvimento local. Mas a par disso também um garante da coesão social regional, empregando mais de 5000 trabalhadores.
Não obstante, a manutenção desta fábrica e das que a suportam assenta na sua rentabilidade a longo prazo.
O actual cenário de falta de componentes estima-se que será transitório, apesar de se estar a estender no tempo mais do que inicialmente previsto, portanto esse não será um motivo que pese na continuidade da unidade. Além de que a actual escassez na indústria automóvel tem levado à criação de equipas dedicadas à procura de alternativas e redundâncias nas cadeias de abastecimento. Tal como a massificação do uso de centrais de compras dentro das companhias de indústria automóvel, de modo a conseguir ter um maior poder negocial junto dos fornecedores, face à indústria eléctrónica de retalho, seus maiores clientes.
Também, independentemente do facto de neste momento a fábrica de Palmela apenas produzir automóveis com motor de combustão esse não será o decisor da sua continuidade, de longe.
Ter unidades de negócio dedicadas em exclusivo à tecnologia de combustão e outras dedicadas à tecnologia de motor elétrico é algo que fará parte da estratégia do grupo de modo a ter cadeias logísticas mais eficientes e ter processos produtivos optimizados.
Se a tecnologia de combustão desaparecer, naturalmente as unidades serão convertidas para albergar os novos produtos. Claro está, se forem unidades rentáveis do ponto de vista histórico e do ponto de vista previsional.
É portanto aqui que reside o fulcro da questão e é aqui que o Estado pode ter uma palavra a dizer no sentido de ajudar a manter ou melhorar a performance e competitividade da empresa. Através de incentivos fiscais mas também de programas de ajuda e incentivo à optimização tecnológica e modernização.
O investimento em infra estruturas de apoio é também importante para capacitar este e outros parques industriais.
Por outro lado é também de todo o interesse o acompanhamento da actividade sindical, no sentido de perceber de que forma pode o Estado promover uma relação equilibrada entre a centrais sindicais e as empresas, pois infelizmente os sindicatos de esquerda e extrema esquerda estão mais preocupados em fazer cumprir as suas próprias agendas ideológicas do que propriamente defender os interesses dos trabalhadores, mesmo que isso custe postos de trabalho ou mesmo que isso signifique fechar empresas.
Existem portanto responsabilidades políticas a assumir para promover a continuidade desta e outras grandes empresas no nosso país. No entanto, nos últimos anos, observa-se uma serenidade complacente por parte do executivo no que a isto diz respeito. A ausência de diálogo com as empresas é a base para a falta de entendimento das suas necessidades e da forma como podem ser auxiliadas.
Algo que é extensível a muitas outras áreas, quiçá fruto da prepotência socialista que deixou de se dignar a ouvir as populações, assumindo já tudo saber.
Assumamos nós a responsabilidade de ouvir quem precisa de ser ouvido para que possamos desenhar um projecto coeso, equilibrado e reformador para o nosso País!
Apesar de tudo, e ao contrário do que se possa especular, acredito e espero que o parque industrial da Autoeuropa ainda cá esteja por muitos e bons anos, assim haja vontade de o manter como o ex- libris da indústria automóvel em Portugal.