Direita radical no Chile com vitória provável devido a desilusão popular

A analista política chilena Julieta Suárez-Cao considera que a desilusão com a política tradicional acelera o risco de uma vitória da direita radical, alinhada com a ditadura de Augusto Pinochet.

© D.R.

“Há uma extrema-esquerda, mas é muito pequena e não tem caudal de votação. Penso que o Chile é mais parecido com os Estados Unidos, onde o que aconteceu foi a radicalização de um setor da direita” e “não há uma polarização igual de ambos os lados, não são simétricos”, afirmou, em entrevista à Lusa, a investigadora da Universidade Católica do Chile.

Os académicos consideram este fenómeno uma “polarização assimétrica, um extremo que se radicaliza e do outro lado não há algo semelhante com o mesmo peso eleitoral”, afirmou Julieta Suares-Cao, considerando que este fenómeno é comum a muitos países, em particular na América Latina, com a ascensão da direita radical na Argentina, recentemente, e, anteriormente, no Brasil.

O Chile, considera, vive hoje um “momento muito estranho e parece que, aos 50 anos [após o golpe de 1973] estamos mais atrasados do que aos 40 anos após o golpe”.

As sondagens apontam para uma vitória nas próximas eleições do Partido Republicano, de direita radical, que é liderado por José Antonio Kast, um político de uma família associada a um dos massacres executados por Pinochet, na década de 1970.

O atual governo, liderado por Gabriel Boric, é uma frente ampla que junta vários partidos de esquerda e de centro criada no contexto do debate da revisão constitucional do país.

Para Suárez-Cao, o impacto de uma vitória da direita radical será mais sentido na população do que na organização do país.

“O Estado chileno é o Estado da Constituição de Pinochet, portanto é um Estado bastante neoliberal, e qualquer impacto da direita radical não seria tão forte” como noutros países, afirmou a analista.

“Estou mais preocupada não tanto com o Estado, mas com as políticas públicas destinadas a grupos historicamente desfavorecidos: mulheres, dissidentes, pessoas com deficiência, povos indígenas”, disse, confiando que o sistema democrático resista ao assalto deste populismo, à semelhança dos EUA ou do Brasil.

“Penso que no Chile o Estado é pequeno e bastante eficiente, e tem uma capacidade relativamente boa para os padrões latino-americanos”, resumiu.

Devido à alteração da constituição em curso, não é clara a duração do mandato presidencial que deveria ser de quatro anos, nem se é possível uma recandidatura de Gabriel Boric.

Em 2021, Boric derrotou Kast por 11 pontos percentuais.

No caso do Chile, a direita radical afirma-se herdeira do regime de Pinochet, mobilizando o discurso antigovernamental e atraindo eleitorado da direita tradicional que, durante anos, se tentou demarcar da ditadura.

“Embora a direita seja herdeira do regime militar, desde há dez anos que estava a tentar distanciar-se, com uma atitude mais crítica”, mas “o surgimento mais forte da ultra direita pressiona o que seria a direita mais convencional a assumir essa herança” e a encontrar formas de “justificar o golpe” de 1973, explicou Suaréz Cao.

Este discurso, afirma a analista, gera uma reação muito forte de “pessoas que dizem que a ditadura não é justificável em nenhum contexto e que os direitos humanos devem ser sempre salvaguardados”.

“Qualquer esperança contra a direita radical vem, por um lado, da capacidade de trabalhar em conjunto da esquerda e do centro-esquerda tradicional”, mas também das condições de o “centro-direita e direita tradicional estabelecerem um cordão sanitário” em relação ao populismo, “como aconteceu na Alemanha, por exemplo”, adianta.

Contudo, essa solução “a curto prazo, não vai beneficiar os partidos de direita e parece ser mais rentável do ponto de vista eleitoral aderir” às propostas políticas da direita radical”.

Últimas de Política Internacional

A NATO vai reforçar a vigilância e segurança no flanco leste da Aliança Atlântica, depois do incidente em que drones russos entraram no espaço aéreo da Polónia, anunciou hoje a organização.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, homenageou hoje, numa cerimónia solene no Pentágono, as vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington, que causaram cerca de 3.000 mortos.
O Presidente finlandês, Alexander Stubb, acusou hoje a Hungria e a Eslováquia de alimentarem a invasão da Ucrânia com as compras de recursos fósseis russos, durante uma visita à Ucrânia, ecoando críticas de Kiev.
A Comissão Europeia desembolsou hoje a oitava parcela do empréstimo de assistência macrofinanceira excecional (AMF), no valor de mil milhões de euros, de um total de 18,1 mil milhões de euros.
Peter Mandelson foi destituído do cargo de embaixador britânico nos Estados Unidos "com efeito imediato", na sequência de alegações sobre a sua relação com o abusador de menores norte-americano Jeffrey Epstein, comunicou hoje o Governo.
A Polónia, membro da União Europeia (UE) e da NATO, anunciou hoje que restringiu o tráfego aéreo na sua fronteira leste, após a invasão de cerca de 20 drones russos suspeitos no seu território.
O primeiro-ministro polaco anunciou esta quarta-feira que vai invocar o artigo 4.º do Tratado da NATO, que prevê consultas entre todos perante ameaças à segurança de um dos Estados-membros, na sequência da violação do seu espaço aéreo por drones russos.
A França regista hoje protestos que se fizeram sentir principalmente nos transportes e autoestradas, com mais de 100 detenções, a maioria em Paris, num dia em que estava previsto um bloqueio total convocado contra as medidas do Governo.
Manifestantes nepaleses incendiaram esta terça-feira o Parlamento na capital Katmandu, após a demissão do primeiro-ministro na sequência de protestos que causaram 19 mortos, anunciou um porta-voz da assembleia.
O Parlamento Europeu (PE) validou hoje o acordo entre a União Europeia (UE) e o Brasil que permite o intercâmbio de dados pessoais e não pessoais para combater a criminalidade grave e o terrorismo.