“No próximo ano vamos ter muitas lutas bastante sérias”, afirmou a cientista política luso-americana Daniela Melo, da Universidade de Boston. “Este é um momento de enorme volatilidade. A maioria é pequena demais e o risco é muito alto”.
O novo líder da maioria Republicana na Câmara dos Representantes, Mike Johnson, aprovou uma resolução orçamental temporária com o apoio dos democratas, que expira a 19 de janeiro nalgumas partes do governo e a 02 de fevereiro noutras.
A não ser que os congressistas dos dois partidos cheguem a acordo a partir daí, o governo fica sem financiamento e paralisa.
“Se em janeiro e fevereiro Mike Johnson apresentar enormes concessões para manter o governo aberto sem receber algo grande em troca, seja a questão da imigração ou da ajuda externa, arrisca-se a ser posto fora”, explicou Daniela Melo.
A fação mais radical dos Republicanos e o próprio ‘speaker’ querem cortes importantes nas despesas, financiamento para Israel mas não para a Ucrânia, e reforço do combate à imigração ilegal na fronteira sul dos EUA.
“Ele pode realmente conseguir uma grande concessão dos Democratas e com isso ganhar a confiança até das alas moderadas, que não o veem como um aliado”, referiu a analista.
Mas continua a haver apoio à Ucrânia entre as hostes moderadas dos Republicanos e será desafiante conseguir que o Senado – controlado pelos Democratas – aceite cortes radicais nos programas sociais. Tudo isto num ano eleitoral decisivo, com presidenciais em novembro.
“Ele tem aqui várias bolas no ar”, comparou Daniela Melo. “Tem que lidar com a eleição e tem que dar aos Republicanos que vão a votos algo para que possam dizer aos eleitores que fizeram alguma coisa”.
Há também um endurecimento de posições, que na última semana envolveu confrontos e ameaças de violência física.
Na Câmara dos Representantes, o congressista Tim Burchett acusou Kevin McCarthy de lhe dar uma cotovelada violenta nos rins, algo que o ex-líder disse ter sido acidental.
No Senado, o Republicano Markwayne Mullin desafiou a testemunha de uma audiência, o presidente do sindicato Teamsters Sean O’Brien, para uma sessão de pancada. Bernie Sanders teve de intervir.
“Aparentemente, as lutas são literais”, apontou o cientista político Thomas Holyoke, da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno. “Quando as pessoas me perguntavam se esta era a pior disfunção partidária nos Estados Unidos, eu dizia que não porque nos anos 1850 os congressistas andavam aos socos e isso era pior”, referiu. “Mas agora parece que estamos a chegar lá”.
Holyoke antecipa um agravar da situação no próximo ano, não sendo claro se Mike Johnson terá armas para solucionar as divisões.
“No fim de tudo, os Republicanos vão ficar numa posição ainda pior”, prevê o analista. Até porque a câmara baixa prepara-se para expulsar George Santos, depois de um relatório severo da Comissão de Ética sobre múltiplas infrações do Republicano.
“A pequena maioria ficará ainda mais curta. E isso tornará ainda mais difícil os Republicanos governarem”, adiantou Holyoke. Ou seja, não conseguirão aprovar legislação se perderem mais que um ou dois votos.
“Ou encontram uma forma de suavizar estas questões ou vão paralisar completamente”, disse à Lusa o analista.
A ala radical que deixou passar o que considera uma afronta de Mike Johnson, por ter aprovado uma resolução com apoio Democrata, não vai fazê-lo uma segunda vez. “É isso que os congressistas de direita radical estão a sinalizar”, frisou Holyoke. “Que estão zangados e ele não pode fazer acordos com Democratas da próxima vez”.