Patriarca de Lisboa recorda milhões de ucranianos que morreram “pura e simplesmente à fome”

O patriarca de Lisboa, Rui Valério, “recordou” sábado à noite, numa missa nos Jerónimos que assinalou os 90 anos do Holodomoro na Ucrânia, os milhões de ucranianos “vítimas de crueldade indescritível, que morreram pura e simplesmente à fome”.

© Facebook de Rui Valério

Ao lado do patriarca de Lisboa, na nave central do mosteiro, o representante da igreja greco-católica ucraniana em Portugal, bispo Stepan Sus, sublinhou a “dignidade e responsabilidade” com que algumas pessoas presentes vestiam camisas bordadas ucranianas, explicando que “muitos morreram à fome, só por vestirem uma camisa bordada ucraniana, só por falarem ucraniano”.

O “Holodomor”, palavra que em ucraniano significa “morte à fome”, foi uma estratégia genocida ordenada por Josef Estaline contra os camponeses das regiões ao longo do Volga, do Don e do Kuban, bem como na zona da Sibéria ocidental, que o líder soviético isolou.

“Estamos também hoje em presença de uma tragédia, também um genocídio”, acrescentou o clérigo ucraniano na sua língua materna, sublinhando uma ideia que esteve no centro da cerimónia que juntou as cerca de duas centenas de ucranianos e portugueses presentes nos Jerónimos, e numa marcha que antecedeu a missa.

“Pessoalmente, vivo isto como uma manifestação de proximidade, antes de mais às vítimas do Holodomoro na Ucrânia há 90 anos, mas não haja dúvida nenhuma de que a Ucrânia é hoje novamente uma terra onde se morre”, afirmou à Lusa, o bispo Rui Valério.

“No meu coração e na minha oração estão aquelas e aqueles que continuam a ser, à causa da injustiça, à causa de uma sociedade que teima em não acertar no caminho da fraternidade, da partilha, da justiça e da paz, novas vítimas de pobreza, de miséria e de fome”, acrescentou o patriarca de Lisboa.

Maryna Mykhailenko, embaixadora da Ucrânia em Portugal, manifestou-se agradecida ao patriarca de Lisboa e a Portugal, de uma forma geral, sublinhando o apoio recebido há dois dias nas Nações Unidas e hoje em Kiev, na conferência internacional “Grain from Ukraine”.

“Há dois dias, nas Nações Unidas, a declaração de comemoração deste evento trágico [Holodomoro] foi adotada e apoiada por 55 estados-membros, incluindo Portugal e a União Europeia”, começou por sublinhar Mykhailenko, em declarações à Lusa.

“Hoje tivemos a conferência internacional “Grain from Ukraine” em Kiev e o primeiro-ministro [António] Costa filmou uma mensagem vídeo, em que anunciou a contribuição de Portugal com cinco milhões de euros através da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, na sigla em inglês)”, acrescentou a diplomata.

“Estamos muito agradecidos, por isso, porque a Rússia está a usar a alimentação como arma, está a militarizar a alimentação”, disse ainda Mykhailenko.

“Assinalamos hoje os 90º aniversário dessa fome artificial organizada pelo regime de soviético de Estaline. Em alguns meses, entre o outono de 1932 e a primavera de 1933, não sabemos quantas pessoas exatamente, mas hoje pensamos que entre sete e 10 milhões de pessoas ucranianas morreram. Nessa altura, ninguém pôde ajudar-nos, mas esse não é o caso hoje. Estamos muito agradecidos à comunidade internacional pelo seu apoio, e também a Portugal”, afirmou a embaixadora.

Também Pavlo Sadhoka, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, agradeceu o apoio de Portugal e, em especial, em Parlamento português, que em 2017 reconheceu Holodomoro como um genocídio.

Esse “foi um grande apoio político à Ucrânia naquela altura, que havia três anos lutava pela independência no leste do país”, afirmou à Lusa, numa referência à ocupação russa da Crimeia em 2014, e da tomada do controlo das regiões de Lugansk e Donetsk por administrações russófonas.

“Este ato do Parlamento português foi um grande sinal político de que Portugal está connosco e isso confirmou-se agora, quando começou a invasão russa de grande escala”, acrescentou.

“O apoio que Portugal deu e continua a dar aos ucranianos mostra que os portugueses estão connosco e que percebem a nossa dor e o que está a acontecer na Ucrânia”, disse ainda Sadhoka.

O Holodomor é considerado o “Holocausto Ucraniano”, calculando-se que tenham morrido, pelo menos, 3,8 milhões de ucranianos. A Ucrânia tem vindo a trabalhar nos últimos anos para divulgar a morte em larga escala dos seus camponeses durante a coletivização forçada das terras levada a cabo pelo regime comunista da URSS.

Este massacre foi ignorado e ocultado na Ucrânia durante a era soviética e pelos governos pró-russos pós-comunistas que chegaram ao poder em Kiev após o colapso da URSS.

Últimas do País

O Tribunal da Relação do Porto (TRP) condenou a cinco anos e 10 meses de prisão efetiva um homem que tinha sido absolvido de abusar sexualmente de uma filha com quatro anos, em Aveiro.
Quase metade da população portuguesa já foi vítima de algum tipo de violência ao longo da vida, com particular incidência nas mulheres, as principais vítimas de violência sexual, na intimidade ou de assédio, segundo uma análise divulgada esta quinta-feira.
Os trabalhadores da administração pública cumprem na sexta-feira uma greve contra o pacote laboral apresentado pelo Governo, sendo a educação e a saúde os setores que deverão ser mais afetados, disse fonte da Federação de sindicatos independentes.
Um homem de 48 anos foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeitas de burla qualificada em negócios de imóveis no distrito de Setúbal, com lucro ilícito de mais de três milhões de euros, segundo comunicado oficial de hoje.
Um foco de gripe aviária foi detetado numa exploração de galinhas reprodutoras no concelho de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, anunciou hoje a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
A GNR e a PSP registaram, nos primeiros nove meses deste ano, 25.327 ocorrências de violência doméstica, o valor mais elevado dos últimos sete anos, à data de 30 de setembro, segundo dados da CIG.
A Inspeção-Geral de Atividades em Saúde está a investigar o eventual conflito de interesses nos contratos celebrados entre a Unidade Local de Saúde de Braga e a empresa privada alegadamente pertencente ao seu ex-diretor de Oftalmologia, foi esta quarta-feira anunciado.
Duas pessoas foram hoje resgatadas da Cova do Ladrão, no parque florestal de Monsanto, em Lisboa, durante um simulacro de sismo que serviu para testar a capacidade de reação das forças de segurança, num exercício coordenado pelo exército.
Mais de 2.300 novos médicos começaram a escolher as vagas para a formação numa especialidade, mas o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) teme que nem todos os lugares disponibilizados para o internato venham a ser ocupados.
Os incêndios florestais de 2024 e 2025 revelaram “falhas de coordenação” entre as diferentes forças no terreno que provocaram atrasos no tempo de resposta aos fogos, aumentando a sua propagação, revela um relatório da OCDE.