Manuel Lemos, o atual presidente e à frente do organismo há quatro mandatos, assume que aceitou ir a votos “porque houve uma enorme insistência de um número muitíssimo significativo de provedores” que lhe pediram para continuar, depois de verem aparecer uma segunda lista que “não lhes merecia confiança”.
“Achei que valia a pena, até porque vamos viver momentos muito difíceis nos próximos tempos e acredito que a minha experiência e da minha equipa podem ser muito importantes para ajudar as Misericórdias, o setor e as pessoas de quem cuidamos e de quem podemos vir a cuidar”, disse Manuel Lemos, em declarações à Lusa.
Para o atual presidente da UMP, o principal desafio passa por reforçar o setor social, apontando que o Estado não tem conseguido responder a todos os problemas que se colocam, enquanto o setor social, pela sua flexibilidade e capacidade de adaptação, tem conseguido dar resposta de forma rápida.
Apontou que será um “desafio muito grande” ajudar as pessoas a ultrapassarem a crise atual e disse acreditar que, cada vez mais, a sociedade irá precisar da intervenção das misericórdias.
Deu como exemplo o aumento do salário mínimo para defender que as misericórdias têm de se modernizar e saber dar resposta a novos fenómenos sociais, como é o caso das pessoas que trabalham e são pobres ou do número crescente de imigrantes que chegam ao país e precisam de apoio.
“São, eu diria, problemas velhos vistos de uma forma moderna e diferente, porque o mundo à nossa volta está a mudar e nós não podemos ser velhos”, apontou Manuel Lemos, sublinhando que essa foi a fórmula que fez com que as misericórdias, nos seus mais de 500 anos, “não fossem arrumadas no baú da história”.
Referiu, por outro lado, que a sustentabilidade das instituições é um “problema sério de todos os portugueses”, razão pela qual disse que é preciso exigir do Estado que pague “o preço justo do custo das respostas sociais”.
Relativamente ao facto de haver uma segunda lista a concorrer nestas eleições, Manuel Lemos recusa que isso seja sinónimo de divisão, apontando, no entanto, que se trata de uma equipa com “uma visão diferente”.
Na visão de António Sérgio Martins, atual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra e à frente da Lista B – “Devolver a UNIÃO às Misericórdias”, a degradação do setor social e, em particular, das misericórdias, “é evidente” e é preciso perceber a razão por que isso acontece.
Aponta que a “marca misericórdia está ferida de morte” e vaticina que se nada for feito, estas instituições caminham a “passos muito curtos” para o “abismo”, acusando a atual direção nacional de “incoerência”, já que em alguns momentos disse que o Estado pagava o que era preciso e noutros que se não houvesse aumento das comparticipações as misericórdias colapsavam.
Para António Sérgio Martins, essa “falta de coerência” levou a que também o Governo deixasse de acreditar na UMP e propõe-se a trazer para o organismo uma “visão mais moderna e pragmática”, assente em quatro pilares: transparência, previsibilidade, igualdade e proximidade.
Desde logo apontou que é preciso resolver o “problema de sustentabilidade do setor”, dizendo ao Governo, “com coragem”, que tem de pagar pelos serviços prestados, chegando à comparticipação de 50% dos custos.
Em termos de financiamento, defende também que possa vir a ser criada uma lei de financiamento do setor social, que garanta previsibilidade no financiamento estatal.
Traz também propostas para devolução do IVA às misericórdias, benefícios fiscais na compra de carros elétricos ou discriminação positiva no pagamento da taxa social única.
Relativamente à questão da transparência, disse não compreender como é que a própria UMP desenvolve respostas sociais e defendeu que seja feita uma revisão “urgente” dos estatutos.
António Sérgio Martins criticou ainda o facto de estas eleições decorrerem a uma quarta-feira, “à hora de almoço”, algo que, segundo o próprio, acontece pela primeira vez, apontando que é “claramente uma tentativa de condicionar” o resultado eleitoral.