Antiga ministra da Saúde Ana Jorge considera normal receção de pedidos como o das gémeas

A provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Ana Jorge, que foi ministra da Saúde entre 2008 e 2011, considerou hoje normal que o Presidente da República receba pedidos como o das gémeas com atrofia muscular espinhal.

© Facebook SCML

“Eu não sei qual foi o tipo de intervenção [do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa], quer dizer todos os dias nos chegam também, por exemplo, à Santa Casa da Misericórdia […] porque também nos chegam apelos e pedidos e cabe às instituições dar uma resposta adequada”, declarou Ana Jorge, falando sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas em Lisboa em 2020.

À margem da assinatura do protocolo de implementação da 3.ª fase do programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”, nos Paços do Concelho, a provedora da SCML disse que ainda hoje esteve em mãos “uma carta da Presidência sobre uma situação”, que terá de ser analisada pela instituição.

Questionada sobre se quando era ministra da Saúde também recebia apelos por parte da Presidência da República, Ana Jorge respondeu: “Neste momento, não sei de nenhum caso, não me lembro de nada. Já saí há mais de 12 anos do Governo. Não consigo lembrar-me”.

“Há preocupações que nós ouvimos e que muitas vezes nem sempre aquilo que chega corresponde à realidade e, portanto, temos de analisar, sempre que nos chega um pedido, uma queixa, qualquer coisa a propósito de um doente ou de uma situação tem de ser observada e analisada pelos serviços. Isso é, obviamente, verdade, seja da Presidência da República, seja de outro qualquer, de um cidadão comum que muitas vezes escreve a perguntar que esta situação não está a correr bem ou o que é que se passa com ela e isso tem de ser visto”, afirmou a antiga governante.

Sem querer pronunciar-se sobre o caso específico das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal e das suspeitas de influência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no tratamento destas doentes no Hospital Santa Maria, em Lisboa, Ana Jorge ressalvou que “muitas vezes há aqui situações que são aproveitadas, de uma forma ou de outra, por informação nem sempre completa”.

“É sempre algo que nos preocupa muito quando somos profissionais de saúde e temos à frente dois gémeos ou outros com uma situação e com uma doença que é incurável e que não tem tratamento curativo, que tem fundamentalmente forma de conseguir manter a vida, que gostaríamos de fazer tudo por todos”, expôs.

“Há aqui umas histórias à volta disso. Obviamente que isto é difícil de comentar, a não ser a preocupação, e eu considero que os profissionais de saúde têm sempre presentes aquilo que é melhor para o seu doente”, frisou a antiga ministra da Saúde nos executivos de José Sócrates (PS), entre 2008 e 2011.

Em relação à atual situação de encerramento de urgências, Ana Jorge manifestou preocupação, apesar de considerar que “não é nada que não fosse expectável de acontecer”, defendendo o estabelecimento da rede hospitalar de urgência e alternativas para quem não precisa de cuidados hospitalares.

“Se o setor público não for forte, é muito difícil que a saúde se mantenha para todos os portugueses com esta qualidade que nos fomos habituando”, apontou a antiga governante, considerando que as parcerias com o setor social e privado têm de ser “muito bem acauteladas”, para evitar a saída de profissionais do setor público para o setor privado.

O caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, – um dos mais caros do mundo – para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.

Segundo a TVI, havia suspeitas de que isso tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.

O caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, pela IGAS e é também objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.

Últimas do País

A operação 'Portugal Sempre Seguro', que juntou várias polícias e entidades do Estado, registou 60 detenções nos últimos seis dias, 32 das quais relacionadas com crimes rodoviários, segundo resultados provisórios divulgados esta segunda-feira.
Quase 50 elementos da Frontex vão reforçar os aeroportos portugueses em 2026 para trabalharem em conjunto com os polícias da Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras da PSP no controlo das fronteiras aéreas, revelou à Lusa aquela polícia.
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) instaurou um processo-crime por abate clandestino e 38 processos de contraordenação a talhos, por infrações como o desrespeito das normas de higiene, foi hoje anunciado.
Um homem de mais de 50 anos foi descoberto sem vida num canavial em Queijas, com marcas claras de "morte violenta".
Um sismo de magnitude 2,7 na escala de Richter foi sentido hoje na Terceira, nos Açores, no âmbito da crise sismovulcânica em curso na ilha, informou o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
Uma sondagem da Intercampus para o Correio da Manhã e CMTV revela um país farto do estado da Saúde: 58,4% exigem a demissão imediata da ministra e apontam-lhe responsabilidades diretas no caos do SNS.
Um novo foco de gripe das aves foi detetado no Ramalhal, em Torres Vedras, numa capoeira doméstica com gansos, patos, galinhas pintadas e codornizes, anunciou a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
O Ministério Público (MP) pediu hoje penas efetivas de prisão para o ex-presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis, Hermínio Loureiro, e mais quatro arguidos do processo Ajuste Secreto.
O Ministério Público (MP) acusou o dono de um stand automóvel de Vila do Conde num processo de fraude fiscal que terá lesado o Estado em mais de 1,6 milhões de euros.
Pelo menos 24 mulheres foram assassinadas em Portugal este ano até 15 de novembro, das quais 21 como resultado de violência de género (femicídio), segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA) da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR).